Fiat Tipo: o sonho de consumo da classe média no início dos anos 90
A febre em torno dos modelos estrangeiros transformou o perfil de consumo dos motoristas brasileiros no início dos anos 1990. E alavancou o acessível Fiat Tipo ao topo da lista dos sonhos de consumo da classe média.
Por mais que a indústria tupiniquim se esforçasse, o desejo de mudança era incontrolável e a cobiça por um modelo importado falava mais alto na hora de escolher um novo carro. Assim era o cenário nacional no início da década de 1990, quando o governo Collor retomou a abertura das importações de automóveis no Brasil – proibidas desde 1976 –, provocando uma verdadeira revolução no perfil dos consumidores.
E nenhum outro modelo tirou tanto proveito da situação quanto o Fiat Tipo. Lançado na Itália em 1988, desembarcou por aqui em setembro de 1993 com status de “o importado mais barato do mercado”. Além do preço atraente (17 mil dólares na época), a versão dotada apenas de motor 1.6 oferecia uma ampla lista de acessórios que, embora longe de ser considerada luxuosa, compreendia os itens mais desejados naquele momento, como ar-condicionado, direção hidráulica e comando elétrico para vidros e travas, além de outros pequenos mimos. Havia ainda soluções bem pensadas, como a curiosa chave do manobrista, que ligava o carro, mas não abria porta-luvas ou porta-malas. Sem falar no banco do motorista com memória de posição e na tampa do porta-malas moldada em plástico de alta resistência.
Filme queimado
Tudo eram flores na trajetória de sucesso do Tipo importado, que ano a ano chegava com novas opções de motores e aprimoramentos técnicos. E nem mesmo a súbita elevação na alíquota da importação, que passou de 20% para 70% em fevereiro de 1995, desanimou a Fiat. Decidida a preservar o mercado conquistado, a marca mudou de estratégia e transferiu a linha de produção para o Brasil, nacionalizando o modelo.
Mas logo frequentes casos de incêndio começaram a ganhar a mídia (sempre na versão 1.6 importada), o que motivou a criação da Avitipo (Associação das Vítimas de Incêndio em Tipo). O problema (vazamento de fluido do sistema de direção) era fácil de ser resolvido, mas a demora da Fiat em reconhecer o defeito e convocar os proprietários para um recall acabou por arruinar a imagem do modelo. Com menos de dois anos de vida, a produção nacional foi interrompida em 1997, com apenas 12.570 unidades vendidas – contra 169.819 importadas.
De grande sucesso a rejeitado, o Tipo acabou depreciado também no mercado de usados: oportunidade única para os admiradores (já existe até clube de proprietários) e solução perfeita para quem não dispõe de muita verba. “Eu mesmo tinha aversão, achava que pegava fogo”, conta o químico Anderson Weslei Ferrari, 35 anos, dono de um exemplar 1993 . “Mas acabei me tornando um fã. O carro é ótimo, completo e um clássico que desperta a memória de muita gente na rua”, finaliza.