por Luiz Alberto Mendes

Algumas coisas que tenho pensado:

 

Passadismo

 

Sou absolutamente contra essa nostalgia chorosa e sentimentalóide de passado. As nossas lembranças estão transfiguradas, falsificadas e nos passam a idéia de que o passado foi melhor que o presente. Há partes de nosso ser que realizam esse processo naturalmente, sem estarmos consciente. Acomodamos as lembranças ao que foi satisfatório e de acordo com nossos valores. Alijamos ou dourando a pílula, melhorando o que não foi. A memória como que “salva” o passado para o presente. Na verdade, nada permanece no passado, tudo prossegue existindo indeterminavelmente, e no presente.

Melhor coisa nenhuma. As pessoas morriam como moscas. Até pouco tempo atrás, a perspectiva de vida do brasileiro era de 50 anos, para se ter uma idéia. Hoje, aos 50 anos estamos mais ativos e produtivos que nunca. Na verdade, é esta geração que esta no comando.

O passado foi horrível. Repleto de desgraças e tragédias, é preciso que se diga claramente. Por exemplo: o que esta ocorrendo na economia mundial, segundo especialistas, é bem pior que a quebra das bolsas de valores em 1929. Envolve valores muito mais avantajados e o mundo todo, de pólo a pólo. O planeta todo tomou um baque. Mas porque os efeitos são bem menos devastadores? Naquela época muita gente se suicidou, acabaram-se os empregos, empresas aos montes foram à falência e multidões passaram fome. Uma desgraça generalizada.

Porque aprendemos a nos assegurar, gerenciar crises, planejar com mais acerto e previdência, somos um pouco menos belicosos e um montão de outros motivos que se resume no que?

Estamos mais inteligentes. Nosso presente é absolutamente melhor que nosso passado. Mas, e nosso futuro, o que será de nosso futuro? Imagino que se não detonarmos o planeta, será melhor que nosso presente e assim sucessivamente. É o que a lógica indica.

 

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Erros

 

Para cada história de sucesso há pelo menos dez histórias de fracassos. As empresas que trabalham com artigos de ponta, usam esse conhecimento metodicamente, porque sabem que nada sairá realmente bom nas primeiras tentativas. Sorte ou azar ai não contam. Mas, em geral, é hábito humano penalizar erros e, desse modo, sacrificar futuros. Tudo porque associamos erro à culpa e esta à baixa estima.

Penso que erros têm preço caro, mas acredito que vale a pena comprá-los. Já comprovei vivenciando que o resultado dos erros não é o fracasso e sim a experiência. Na biografia de Edison, o grande inventor americano, consta que ele procurava material resistente para suportar a carga elétrica por mais tempo e ai gerar luz (a lâmpada), quando percebeu que certo material reproduzia sons. Pronto, havia descoberto o disco de acetato e o gramofone. Essa experiência não deu certo para seus objetivos. Centenas, milhares de outras tentativas também não deram certo, quem relata essa história se esquece de dizer. Foram anos de pesquisas, até bambu foi experimentado para se chegasse ao tungstênio. Seria uma história de erros? De modo algum; a ciência procede com método até chegar a resultados satisfatórios. O erro é a única fonte de estudo para se chegar a novos conhecimentos.

 

 

 

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Experiências

 

Nós nos conformamos com a suposta ordem e tranqüilidade com que somos adestrados para a vida. Pensar que há um certo e um errado absolutos que referendam nossas posições e que o erro só acontece quando não conseguimos nos adequar à realidade, é realmente confortante. A realidade então é garantia e segurança de solução para todas as dúvidas e questões.

Habituamos-nos a este conforto qual fosse um grosso manto de lã a nos proteger do frio das incertezas e inseguranças existenciais. Tudo fica aceitável como um anestésico e a realidade parece se encolher para se submeter a essa lógica.

Quando viajamos, esse manto de hábitos nos é retirado forçosamente e de súbito. Tudo é absolutamente diferente do que estávamos acostumados. Sem mais a proteção do hábito, passamos a viver na carne viva. Enxergamos tudo de forma mais apurada, colocamos nossas emoções em tudo o que vemos e nos tornamos revolucionários. Quando voltamos, não cabemos mais no que antes nos conformávamos. Incorporamos vivências e desenvolvimentos que nos tornaram maiores que o espaço que nos continha. Carecemos, desesperadamente, externar as leituras que fizemos através nossas ações e palavras. Então o choque: experiências e vivências não são transferíveis; é exclusividade de quem as viveu. É frustrante, sem pares, ficamos sós e nossas descobertas perdem o brilho.

 

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Aqueço minha mão

Com minha outra mão

Enquanto a vida passa

E eu não.

 

Luiz Mendes

04/09/2009.    

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