por Felipe Maia
Trip #229

Ele é, segundo o ibope, o radialista mais ouvido do nordeste do país. Mas ninguém nunca viu seu rosto. Quem é, afinal, o Mução?

Cabra safado, fresco, abusado, corno, sem-vergonha, cadelo... Ou seria cachorro? “Eles criam palavras para me xingar”, conta Rodrigo Vieira Emerenciano. A pequena amostra de ofensas dizíveis (além de palavrões sem fim) se dirige, na verdade, a Mução, personagem de Rodrigo que há 18 anos faz graça no rádio para milhões de brasileiros. Como? Passando trotes por telefone em 90 emissoras brasileiras.

“São mais de 6 mil pegadinhas”, calcula o humorista, de 37 anos. Ele segue sempre a mesma receita: descobre o apelido secreto de um Cristo qualquer. Daí, liga para a pessoa e a envolve com uma conversa qualquer, falando do jumento da roça ao noticiário da hora. Até jogar o apelido odiado na cara do interlocutor – Boca de Sapato, Cara de Prato, Manga Chupada, Rato Molhado... É a sacada da brincadeira. No auge da raiva, a vítima pode esbravejar por 10 segundos sem repetir um xingamento sequer.

Enquanto o coitado pega ar – o termo que Rodrigo criou para designar a ira acumulada –, outro já está na linha. “Às vezes faço quatro pegadinhas ao mesmo tempo”, conta. O esquema é mantido por uma engrenagem do humor. Mução divide o microfone com outros três personagens. Sua equipe de 15 pessoas – entre redação, edição, sonoplastia e administração – produz, de segunda a sábado, um programa diário de 1 hora.

A família de Rodrigo compõe a maior parte do time, em formação desde sua estreia no rádio, aos 19 anos. Acostumado a tirar risadas da turma com suas imitações e piadas, o jovem foi convidado por um amigo a fazer graça na Tropical FM, rádio de Natal, cidade onde cresceu. Em menos de três meses, já apresentava sua própria faixa na emissora. Após passagens por Recife e Fortaleza, voltou a se fixar na capital do Rio Grande do Norte. “Nasci em São Paulo e vim para cá. Sou um retirante às avessas”, diz.

Em todos esses anos de sucesso, protegeu sua identidade. Tímido, diz que não faria suas pegadinhas diante de uma plateia. Além disso, o anonimato facilita o trabalho. Sem rosto conhecido, Mução é um senhor de 67 anos que vive em Cachoeira do Sapo (RN). Em 2014, seu programa terá blocos menores e novas pegadinhas. As mais famosas ganharão interpretações em vídeo, diz Rodrigo. Hoje, sua cria chega a todas as regiões do país com audiência média de 350 mil ouvintes por minuto. Números altos perto dos três processos já movidos contra A hora do Mução. Por mais sem noção que seja, Mução só vai ao ar com autorização das vítimas. “Ele é um matuto desmantelado!”, brinca o humorista.

fechar