O curitibano Sergio Laus vem se especializando na região e no surf da pororoca há 10 anos
Outro dia, chegando ao escritório, ouço a conversa entusiasmada de uma equipe de TV japonesa. Cinegrafista e três assistentes da NHK captavam imagens de uma antiga edição da Trip, a que fez o registro pioneiro do surf na pororoca com Guga Arruda e Eraldo Gueiros em 1997.
Os japoneses acabavam de voltar de uma viagem pela Amazônia, onde produziram conteúdo para um documentário cujo principal assunto será o surf nas ondas de maré, no rio Araguari, Amapá.
O anfitrião dos japoneses nas remotas, doces e surpreendentes águas amazonenses foi Sergio Laus, que há dez anos vem se especializando na região e no surf da pororoca. Laus é de Curitiba, vive em Angra dos Reis e tem uma base avançada numa fazenda no Araguari, seu destino certo entre janeiro e maio, período em que a chuva, os ventos moderados e o equinócio, em março, proporcionam as melhores condições.
Laus, 30, já esteve surfando tidal waves na China e na França e planeja conhecer as do Alasca e da Inglaterra, mas considera o Araguari o Havaí do surf em rio e compara: “Uma boa ondulação no Brasil tem intervalo entre ondas de 13 seg, na Indonésia de 20 seg, um tsunami tem 30 min e a pororoca 12 horas”.
Segundo uma definição corrente, o que se surfa é a face da maré, uma área que fica especialmente surfável nas luas cheia e nova, em média durante cinco dias, um antes e três depois da lua plena.
Com o surf de hora marcada, Laus desenvolveu uma estrutura para receber quem quiser viver a experiência. Barco, bote, voadeira, jet ski e uma equipe especializada transformaram em turismo o que antes era uma aventura incerta. Segundo ele, um surfista que saiba fazer a linha de uma onda e desviar de eventuais galhos e plantas está habilitado.
Ao longo dos cerca de 15 km que a onda avança rio adentro, ela varia de 0,5 m a 2 m, corre pra margem ou pro meio, fica cheia ou tubular. Na próxima lua cheia, Laus pretende ampliar seu recorde, registrado no Guinness, de 11.800 m em 36 min. Quer surfar por 45 min, o que já fez extraoficialmente.