por Caio Ferretti

A ressaca financeira mexeu no swell dos surfistas brasileiros

Quando o governo brasileiro classificou o impacto da crise econômica como uma marola, não pensou no mundo do surf. Nele, marola nunca é coisa boa. A verdade é que a ressaca financeira mexeu no swell dos surfistas brasileiros. Na prática, atletas e campeonatos tomaram um caldo. “A maioria dos surfistas ficou sem patrocínio. A gente sente nos próprios campeonatos, com muitos adiamentos”, diz Marcelo Andrade, presidente da Abrasp (Associação Brasileira de Surf Profissional). Ele sabe bem o que está dizendo.

O SuperSurf, principal campeonato nacional, que começaria em março, foi adiado para este mês por causa da dificuldade de fechar patrocínios. O mesmo aconteceu com os atletas. “O problema nem é o rompimento com o antigo patrocinador. O que atrapalha é a falta de novas opções. A gente sente que todos estão segurando o investimento por medo da crise, mas quem sofre somos nós”, arrisca o surfista Pedro Henrique, que, mesmo sendo o atual campeão do Brasil Tour, perdeu o patrocinador. Casos assim não faltam. “Ano passado foi disparado o meu melhor ano e agora fiquei sem patrocínio. Isso que é o mais louco”, procura entender Simão Romão. “Estava me classificando para o WCT, em 15º no ranking, quando me ligaram cortando o apoio.”

O caso mais marcante aconteceu no bodyboard. Por mais estranho que pareça, o bodyboarder Guilherme Tâmega abandonou as ondas no início deste mês, aos 36 anos, ainda no auge de seu desempenho. Seus seis títulos mundiais não foram suficientes para lhe garantir o apoio financeiro necessário em tempos de crise. Depois de gastar quase US$ 20 mil do próprio bolso para correr o circuito mundial no ano passado, Guilherme cansou: “Eu sei que tenho condições técnicas e físicas para mais alguns anos de circuito. Estou deixando tudo por falta de verba, e não por falta de técnica”.

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