por Luiz Guedes
Trip #208

Antes dos primeiros carros tunados, o nacional Miura já vinha com neon de fábrica

Muito antes de os primeiros carros tunados começarem a roncar por aí, o nacional Miura já vinha com neon de fábrica

 

O frisson era tão grande quanto ver uma Ferrari. Ao menos na década de 80 e início dos anos 90, um Miura jamais passava incógnito nas ruas e estradas brasileiras. Sobretudo se fosse de noite e o modelo em questão possuísse as chamativas faixas com luzes de neon adornando a carroceria. “É a Super Máquina” (Knight Rider, no original em inglês), diziam na época, em alusão a um seriado americano que fazia muito sucesso na televisão.

Quem não viveu aqueles tempos pode hoje consultar o YouTube e verificar que as comparações eram mais do que justificadas. “Afinal, além da iluminação e do design esportivo parecido com o Pontiac Firebird Trans-Am, que era o carro utilizado na série, o Miura nacional era equipado com um computador de bordo com sistema de voz eletrônica, o que reforçava ainda mais as similaridades com a Super Máquina dos episódios da TV, que também costumava conversar com seu proprietário”, relembra o fotógrafo Antônio Maurilio Coelho Neto, 59 anos, mais conhecido pelos amigos como “Antônio Miura”, em referência aos diversos exemplares do modelo que já passaram pela sua garagem. “Sou, inclusive, um dos fundadores do Miura Clube Brasil”, gaba-se o atual proprietário de uma reluzente versão X-8 cupê de 1989.

Para poucos bolsos

Para entender tamanho frenesi pelo modelo, é preciso lembrar que naquele tempo as importações de automóveis eram proibidas no Brasil, relegando o consumidor tupiniquim à “ditadura” dos quadradões e retrógrados produtos paridos pela nossa – na época atrasada – indústria automobilística. Realidade que, por outro lado, abriu a brecha responsável pelo surgimento de uma criativa produção de automóveis especiais, com modelos denominados fora de série.

Nesse cenário nasceu a Miura (o nome veio de uma raça de touro famosa nas arenas espanholas), criada pelos empresários gaúchos Itelmar Gobbi e Aldo Besson, falecido em dezembro passado. O primeiro projeto, apresentado no Salão do Automóvel de 1976, trazia formas inspiradas em puros-sangues de sucesso, como Lamborghini Countach e Mazda RX5. Mas o que realmente impressionava eram os muitos mimos tecnológicos até então inexistentes nos carros fabricados pelas grandes montadoras, como controle de abertura de portas, faróis escamoteáveis e até um sintetizador de voz, que avisava ao motorista sobre o acionamento do freio-de-mão, cinto de segurança e nível de combustível. Em valores convertidos para a atualidade, um exemplar do Miura chegava a custar na época mais de R$ 120 mil. Objeto de desejo acessível apenas para poucos bolsos...

Depois da abertura abrupta das importações em 1990, no começo do governo Collor, a Miura entrou em crise – a exemplo de praticamente toda a indústria brasileira de veículos especiais. Confrontado por modelos importados muitas vezes mais avançados e baratos, o último Miura deixou de ser produzido em 1992.

 

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