A garota que trocou Copacabana pela Rocinha para viver com a namorada
Com 21 anos de onda, skate e cabelos ao vento, a garota que trocou Copacabana pela Rocinha para viver com a namorada (e parceira na banda Catrinaz) é pura energia
A certa altura do filme Um bonde chamado desejo, baseado na peça de Tennessee Williams, Marlon Brando grita, na voz mais alta possível: “Steeeeeeella!”. Olhando estas fotos, só nos resta fazer o mesmo.
Gaúcha de nascimento, copacabanense de coração, vivendo na Rocinha há três meses e feliz da vida, Stella Chinelli faz pensar em uma das palavras mais lindas da língua portuguesa: abundância. Parece quase imortal com aquela pele bronzeada (as sardas!), o olhar marrento, os dentes brancos, os peitos suaves.
Escrever sobre Stella é falar de seu corpo, de sua energia à flor da pele. Uma pele dourada, como só tem quem usa o corpo mesmo, com aquela potência de 21 anos vividos ao sol, no vento, na onda quebrando, na grama do campo de futebol.
Stella tem algo de inatingível. É de uma família tradicional carioca, os pais são advogados. Viveu 20 anos na avenida Atlântica, o cheiro do mar entrando pela janela todos os dias para acordá-la, pegando onda no Arpoador. Sempre foi das rebeldes: as camisetas furadas, o olhar apurado para o asfalto e as ondas, o cabelo bagunçado, as festas só para mulheres, as tatuagens que contam histórias.
Usa o skate como meio de transporte, para chegar na escola com os cabelos ao vento. Fala da sensação de deslizar pela rua com aquele brilho nos olhos, o coração mole de quem ama o asfalto duro. Desce as Paineiras da Tijuca, circula na orla de Ipanema de biquíni com os amigos, orgulhosa dos roxos. Na ESPM do Rio, onde cursa publicidade (com notas sempre altas, faz questão de deixar claro), chega sem maquiagem, de shortinho rasgado e camiseta suja, com o skate na mão. Pássaros tatuados no braço. “Sou a miss da faculdade!”
E ainda tem a Elisa, sua namorada há um ano e oito meses. Uma morena de 31 anos, com boca carnuda e um baixo Rickenbacker tatuado no antebraço. Foi Elisa, baixista, quem levou Stella para a música, para cantar; foi com ela que aprendeu a gostar de metal e montou a banda Catrinaz. Descobrimos Stella em um documentário sobre a criação da banda, que estreia por agora no canal Bis. Nos trechos que vi, ela lambe a boca de Elisa, começa a baixar a calcinha. Interessante!
Há dois meses, Stella deixou os janelões da avenida Atlântica por uma outra vista do mar, na Rocinha. Sem muita grana, ela e Elisa decidiram trocar a zona sul do Rio, onde moraram a vida toda, pelos aluguéis mais razoáveis da comunidade. Lá acharam sua casa, dividem o PF do boteco da esquina, compram fruta na feira (“Uma dúzia de tangerinas por R$ 1,50, mais uma pro gato!”). É lá que Stella enche a namorada de batom e que as duas se fotografam para postar no Facebook, com aquele exibicionismo alegre e honesto do amor jovem.
Desde que a fotografei para este ensaio, ela fica me infernizando com mensagens, de preferência na madrugada, quando pessoas sensatas como eu dormem. “e as fotos? como estão? omfg.” “tô indo para são paulo.” “sonhei com você. caramba. você tem instagram?”
É esse o lance com Stella: uma energia contagiosa.