Como as marcas aproveitam a pareidolia para vender carros ao consumidor
Se um automóvel sorrir para você, não precisa sorrir de volta. Tudo não passa de uma calculada estratégia dos designers para atrair a atenção dos consumidores
Os faróis são como dois olhos. Os retrovisores ganham ares de orelhas e a grade frontal se assemelha a uma grande boca. Se você já olhou para um automóvel e enxergou nele emoções como a de um rosto sorridente, não se preocupe, você não está sozinho. O fenômeno tem até nome: pareidolia, que é a capacidade de o nosso cérebro reconhecer feições humanas em nuvens, montanhas, árvores ou qualquer objeto inanimado.
No caso específico dos automóveis, os fabricantes até já perceberam a influência que isso pode causar nas vendas de um modelo. “A cara que damos a um carro é totalmente proposital e levada em consideração na hora de criar o estilo de um novo produto”, reconhece o designer automotivo Hélio Queiroz, integrante do departamento de design da General Motors do Brasil. “Um simples farol mal posicionado pode deixar o carro estrábico ou com aparência triste, representando fracasso nas vendas e milhões em prejuízo”, enfatiza o especialista. “O consumidor nem sabe a razão, mas acaba refutando determinados modelos. É um ato inconsciente”, diz.
Um estudo realizado por uma empresa de consultoria chamada EFS, com o apoio de antropólogos das universidades de Viena e de Chicago, também reconheceu o fenômeno, além de apontar a predileção por automóveis sorridentes.
Carros felizes, por sinal, têm se mostrado uma tendência atual. Basta reparar no número cada vez maior de marcas cuja identidade visual incluiu grades frontais avantajadas e voltadas para cima, como um amplo sorriso. “Mas é preciso dosar o efeito, além de levar em consideração a cultura de cada país”, observa Hélio, apontando como exemplo modelos com ares infantis, verdadeiros sucessos em mercados como a China (caso do Chery Faira e sua aparência que remete a um bichinho de desenho animado), mas que acabam não agradando ao gosto do brasileiro.
Herbie
E, para quem acha que carro com cara de gente é coisa nova, o que dizer de clássicos como o inglês Austin-Healey Sprit de 1958 ou do velho conhecido Fusca? Diferentemente do que muita gente pensa, a fama de o Fusca quase se comunicar com seus proprietários é muito anterior ao personagem Herbie dos filmes da série Se meu Fusca falasse, lançados entre 1969 e 2005.
Já em 1956, a Volkswagen circulava o mundo com uma publicidade na qual a frente do modelo se misturava a um rosto sorridente. Característica fundamental, segundo os produtores, para o modelo sobressair-se no “teste de elenco” e derrotar 11 concorrentes de outras marcas antes de arrematar o papel de protagonista nas películas da Disney.