A nossa capacidade de sofrer é por demais parecida com nossa capacidade de amar. Creio que são as forças mais poderosas da existência humana, pelo menos são as que vencem todas as outras. Dar sentido ao sofrimento nos torna capazes de nos conduzir às mais significativas realizações feitas pela alma humana. Amar tem o mesmo sentido, ou seja, realizar, tornar-se satisfeito com a vida que se faz. O que pode derrotar um homem que não tema mais sofrer e que chega ao cúmulo de não temer nem mais a morte? Quanto mais dor, mais ele cresce dentro de sua humanidade, mais ele se torna invencível, inquebrantável. Assim como o amor, mais íntimo e ligado aos outros ele se torna. Mais coletivo, solidário e a compaixão (essa filha dileta do amor) o comove tanto, ao ponto de tomar a dor do outro como sua. Não pode mais ver ninguém sofrendo que lhe dói igualmente e tenta, de todas as forças possíveis, acabar com aquele sofrimento. Sente ímpetos de dividir, carregar parte da dor do outro para que este não sofra tanto. Porque as pessoas não foram ensinadas a sofrer e se arrebentam na dor; dói mais nele a dor dos outros que a sua própria. Revolta-se com aqueles que fazem sofrer e vai à luta, embora tente ganhar a compreensão para converter à razão. Não concorda em impor dor para sanar dores. Aceita a dor em si, mas não a admite nos outros, lutará até o fim de suas forças para diluir o sofrimento de seus iguais. Acabar com o sofrimento e expandir o amor não é uma meta, um fim em si, e sim um exercício, uma atuação, uma atitude existencial.
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Luiz Mendes