por Redação

Festival agitou Recife e promete sacudir São Paulo

Depois de lançar megaeventos do porte de Skol Beats, consolidado como a maior festa da música eletrônica, e do Skol Spirit, realizado durante o verão, a Companhia de Bebidas das Américas, a AmBev, está de olho em um novo segmento musical. Em sua tarefa de abocanhar uma parcela cada vez maior do mercado brasileiro, a cervejaria Skol volta a mirar no público jovem com o Skol Hip Rock. Como o próprio nome adianta, o festival promove o encontro do hip hop com o rock. A fusão se dará em cima do palco e fora dele também.

O festival, que teve como ponto de largada o Recife, no último dia 27 de setembro, no Pavilhão do Centro de Convenções, foge do tradicional eixo dos grandes espetáculos, que normalmente transitam entre as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. Este ano, o festival também terá como destino Ribeirão Preto (interior de São Paulo) e outra cidade, que ainda não foi escolhida - o show programado para Curitiba foi cancelado porque a prefeitura e o corpo de bombeiros não deram o alvará de funcionamento do local do show. Há chances de Skol Hip Rock desembarcar em outros Estados, mas só no próximo ano.

A versão recifense do evento contou com nomes como Los Hermanos, Nação Zumbi com participação de Xis, Mundo Livre S/A com Instituto, B.Negão e Marcelo D2 - que está em turnê solo do seu elogiado CD Em Busca da Batida Perfeita - e Mzuri Sana. Olhando de longe, parece uma versão resumida de um Abril Pro Rock. O curioso é que quando a gente pensa no hip rock, o primeiro nome que vem à cabeça é o de um Linkin Park, e não de algum brasileiro. A Nação Zumbi, por exemplo, pode até misturar o fraseado do rap com guitarras, mas essa é apenas uma das vertentes do seu trabalho. E os cariocas do Los Hermanos nem isso fazem.

O que costuma a ser misturada com suas guitarras é MPB. De qualquer forma, o elenco de grupos convocados tanto é bom de público quanto figura entre os mais importantes do pop nacional. Além dos shows musicais, o festival traz oficinas de grafitagem, dança de rua, lan house, apresentações de skate, bike e duelo de DJs nas pick-ups. A apresentação fica a cargo do poderoso gogó do MC Thaíde, um dos expoentes do hip hop brasileiro.

Mangueboys e manguegirls

A surpresa foi perceber que Recife possui um séqüito de seguidores do hip hop. Com uma infra-estrutura gigante, o Skol Hip Rock reuniu 9 500 mangueboys e manguegirls sedentos por boa música. Os dois telões laterais com imagens em alta definição e o cenário com um graffiti reproduzindo o centro urbano de uma cidade e iluminação de Primeiro Mundo - coisa rara por lá, segundo os locais - reproduziram a imagem de Thaíde, que entrou no palco com uma hora de atraso para abrir os trabalhos daquela noite.

Eram 20 h. O MC levou a platéia ao delírio. "Chico Science está mandando energias positivas", bradou, conquistando de vez a galera. Daí em diante, foi só soltar o famoso refrão: "que tempo bom que não volta nunca mais". Três músicas depois, o "Senhor Tempo Bom" apresentava o grupo de rap paulista Mzuri Sana. O trio formado pelo DJ Suissac, Parteum e Secreto mandaram "Pedras no caminho são...". Depois do show, explicaram que era a primeira vez deles no Nordeste e, surpresa, confessaram ser fãs de Radiohead e Los Hermanos.

Logo após o intervalo comandado pelo som dos DJs Marcelinho e Hadji, era a vez do Mundo Livre S/A mostrar sua revolução sonora. Acompanhados pelo multiinstrumentista Daniel Ganja Man, do coletivo paulistano Instituto, a banda apresentou as músicas do último disco O Estranho Mundo de Manuela Rosário e tiraram do baú a ótima "Homero, o Junkie", do primeiro e fundamental disco Samba Esquema Noise. Esbanjaram malandragem em "Bolo de Ameixa", parceria de Zeroquatro com o folclórico jornalista Xico Sá. Mas foi com "Free World" que tiveram seu melhor momento, botando todo mundo para pular. No fim da apresentação alguns índios da tribo Xucurú, de Pesqueira, interior de Pernambuco, cantaram e dançaram numa homenagem ao lançamento da música "Xicão Xucurú", nome do cacique assassinado em 1998.

Mais uma pausa comandada pelos DJs Marcelinho e Hadji. O Los Hermanos entrou em cena e, surpreendentemente, provou ser a banda mais querida da noite. Tocaram como se estivessem no Rio de Janeiro. "Nosso maior público está aqui", conta Rodrigo Amarante. "Não sei qual o motivo, só tenho certeza de que não estou sendo demagogo ao afirmar isso." O grupo, que atualmente está com um pé no rock e outro na MPB, incluiu várias músicas do CD Ventura no set list, disco que, fora o hit "Cara Estranho" e "Samba a Dois", não teve a mesma resposta do anterior, o ótimo Bloco do Eu Sozinho. Basta dizer que "Retrato de Iá Iá", "A Flor" e "Todo Carnaval Tem Seu Fim" foram acompanhadas em uníssono por toda a platéia. Show correto e competente.

Marcelo D2, com um uniforme branco de jogador de basquete em homenagem ao dia de São Cosme e São Damião, fez um show com altos e baixos. Ao tocar o hit "Qual é", logo no início da apresentação, fez com que a massa dispersada pelo pavilhão corresse em direção ao palco, mas não conseguiu manter a animação por todo o show nem quando quis fazer média ao pedir que um torcedor do Sport subisse no palco. A arrastada performance prejudicou o rapper que ao lado do parceiro B.Negão cantou "Queimando Tudo" e uma versão rap de "Mantenha o Respeito".

Às 3h30 entrou a Nação Zumbi, a melhor apresentação da noite. Apesar da platéia, exausta, começar a abandonar o local no meio da apresentação, os "caranguejos", que há um ano excursionam pelo Brasil com o disco Nação Zumbi, mostraram maturidade, peso e consistência e foram responsáveis até pela formação de uma gigante roda de pogo. O perfeito set list incluiu "Macô", uma versão jazzy de "Manguetown", "Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada", "Quando a Maré Encher", "Cidadão do Mundo" e "Coco Dub", com a participação de Xis. O rapper paulistano, rimou e improvisou em cima da música e ficou no palco enquanto a banda detonava "Da Lama ao Caos", com direito à citação de "Umababarauma", clássico de Jorge Ben. E foi o fim do festival que conseguiu reunir música de primeira e muita gente bonita e disposta a se divertir. Se você é de Ribeirão Preto e região, não perca. Mais informações pelo site www.skol.com.br.

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