Skate revolution

por Diogo Rodriguez

Documentário Vida Sobre Rodas conta a história do início do skate no Brasil dos anos 80

Nos anos 1980, o skate brasileiro era muito diferente. Havia poucas pistas e raras referências (as poucas que chegavam vinham através de vídeos estrangeiros), mas isso não impediu que garotos como Bob, Lincoln, Cristiano e Sandro tomassem gosto pelo esporte e passassem a se dedicar às quatro rodinhas.

Coincidência ou não, a geração que começou a andar nos anos 1980 conquistou o mundo e ajudou a popularizar o skate por aqui. O Brasil virou gente grande com a ajuda de Bob Burnquist, Licoln Ueda, Cristiano Mateus e Sandro Dias. Não precisávamos mais de um Tony Hawk para inspirar futuros praticantes, já que Burnquist se tornou um dos maiores nomes do skate mundial.

Daniel Baccaro, ele mesmo um skatista no começo da ascenção do nosso skate, colheu 32 depoimentos e mais de 1000 horas de imagens de arquivo para contar essa história. Em Vida sobre rodas, ele tenta explicar a origem do fenômeno brasileiro no skate. O filme tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2010 e consumiu 2,7 milhões de dólares para ser produzido. Em entrevista à Trip, Baccaro explicou o que pretende alcançar com o documentário:

 

Como você decidiu fazer o Vida sobre rodas?
Eu andei muito de skate na minha adolescência e já tinha amizade com o Bob [Burnquist], com o Sandro [Dias], o [Lincoln] Ueda e o Cristiano [Mateus]. Eu sabia que o pai do Ueda e o seu Nelson tinham registrado grande parte da carreira deles. Nessas fitas não só tinha o Cris e o Ueda andando, como outros garotos também, que é caso do Bob e do Sandro. Aí surgiu a ideia de tentar mostrar 20 anos de skate através da trajetória dos caras. Essa era a ideia inicial.

Quantas horas de imagens de arquivo você acumulou?
Chegou a quase mil horas. Foi bacana porque virou uma espécie de uma corrente. Os dois primeiros acervos que eu consegui foram do Cris e do Ueda, mas depois eu consegui o acervo do Conexão Skate, que era do Turco Louco, do Grito da Rua, do Badeco e do Davílson. Hoje a gente conta com quase mil horas do acervo.

Quais fotógrafos e cineastas da cena colaboraram no filme?
De still tem o Daniel Bourqui, o Diorandi Nagao , Candido Neto, Jair Borelli, Petrônio Villela, Aníbal Neto, o Luiz Callado, que eram da revista Overall e Esqueite, e também alguma coisa da revista Yeah!. Fotógrafos cinematográficos [como] Jamie Mossberg, alguma coisa do acervo dele, algumas coisas do programa Vitória, da TV Cultura e muito acervo pessoal, do Charlie Putz, da pista Wave Park [em São Paulo].

 

No trailer do filme, alguém diz que aconteceu uma “revolução brasileira” no skate. Qual é a história que você conta em Vida sobre rodas?
Como era a cena nos anos 80. A gente tenta desconstruir a imagem do skate que ganhou a grande mídia e mostra como era andar de skate nos anos 80 e quem eram as influências - por isso tem o Tony Hawk e Cristian Rossoi, os grandes nomes da época, que ajudaram a difundir o esporte no Brasil.

 

Por que a cena dos anos 80 mudou o skate?
Eu não diria que mudou. O skate era visto como esporte marginal, não tinha um número expressivo de praticantes e hoje ele é o terceiro esporte do Brasil. O que eu acho interessante é mostrar de onde saíram esses quatro atletas [Sandro Dias, Bob Burnquist, Licoln Ueda e Cristiano Mateus]. Eles saíram de uma cena marginal e ganharam o mundo. Hoje, pode-se dizer o Bob é um esportista pop, é reconhecido mundialmente.

A música original do filme é feita por Daniel Ganjaman (Instituto) e Maurício Takara (Hurtmold) . Como surgiu o convite para eles participarem?
Eu já conheço o trabalho deles há muito tempo. O Maurício, pelo trabalho com o Hurtmold, uma banda que eu gosto muito. Na verdade, foi um processo natural, a gente já vinha conversando há algum tempo e para a felicidade do projeto conseguimos inclui-los.

 

O que mais você já fez como diretor?
Fiz dois documentários: um piloto e um média-metragem da série Na trilha das ondas. O piloto foi filmado na Indonésia e o segundo no Panamá. Foram projetos independentes; esse é o meu primeiro longa-metragem.

Você também surfa?
Surfo, toco bateria. Essas coisas de rock, surf e skate são as coisas que eu gosto, então acaba sendo mais fácil de lidar com esses temas porque são coisas que eu pratico.

 

Chegou a participar de campeonatos ou pratica por hobby?
Não. Já participei de campeonatos amadores, competi com o Cris, com o Sandro, o Bob – o Ueda já era profissional.

Você disse que o skate passou de esporte marginal ao mainstream. Então por que não existem mais filmes sobre o assunto hoje em dia? Ainda falta alguma coisa para o skate emplacar no Brasil?
Eu acho que o skate vem ganhando seu espaço. Vejo como um curso natural. Sempre levei o Surf adventures como referência, que foi o primeiro filme de surf. O skate, sendo filho do surf, estaria mais ou menos igual. Eu vejo o Bob e o Sandro transformando a imagem do skate no Brasil.

Vai lá: veja o teaser do filme Vida sobre rodas

fechar