por Diogo Rodriguez

Hugh Holland registrou o começo do skate na Califórnia, época romântica desse esporte

Ele estava lá no começo de tudo. Entre 1975 e 1978, Hugh Holland, que não é skatista, viu de perto o nascimento da cena skate americana (e mundial, pode-se dizer). As fotos de garotos cabeludos e descalços com cara de adolescente mostram o quanto a coisa mudou desde essa época.

Holland via e ainda não entendia bem aquilo tudo, mas sabia que era bom. E que valia ótimas fotos. Décadas de aperfeiçoamento técnico e empresarial transformaram o skate num negócio muito lucrativo e repleto de marcas, patrocínios, uma máquina de gerar dinheiro. Essa é a graça de olhar para as fotos do americano Holland. São registros de um tempo diferente, que traz uma breve memória do que somos hoje, mas se remete a um passado muito diferente. Mais inocente e pé no chão, literalmente.

Hugh Holland conversou com a Trip para falar do lançamento de Locals only, livro que reúne as melhores fotos do início do skate da Califórnia.

Como você começou a se interessar por skate?
Nunca fui muito interessado. O que me interessava de fato eram as imagens fantásticas que eu via e, depois, comecei a capturar. Acho que eu estava interessado em documentar esse fenômeno que estava se desdobrando na frente dos meus olhos, e por extensão, das minhas lentes.

Qual é a diferença entre o skate dos anos 70 e o de agora?
Não sou um bom juiz do que é o skate hoje porque não presto muito atenção. Noto que o estilo de andar mudou, claro e que além dos "profissionais em esportes radicais", muitas pessoas hoje, de todas as idades, usam skates como transporte. Quanto a mim, no fim de 1977 e começo de 1978, comecei a perceber que o skate estava se tornando comercial. Produtos de marca e logotipos estavam aparecendo em todos os lugares, skatistas começaram a ficar cobertos em material de companhias, atraídos com contratos e possibilidades de patrocínio, e com isso veio a perda da espontaneidade e jovialidade exuberantes que fez dessas imagens o que elas são. Esse foi o fim natural do meu envolvimento. Foi um breve período de experimentação e excitação, e acabou.

Como eram as sessões de skate?
Muitas das fotos no livro foram tiradas em uma sessão, no verão de 1975. Foi uma das minhas primeiras sessões fotografando skatistas. É digno de nota para mim por causa do fato de que eu não era ninguém naquela época, mas foi a fonte de algumas das melhores imagens. Uma dessas é uma página dupla no livro chamada "Hanging in Balboa". Não é uma foto de ação, apesar de expressar o sentimento da época. Nunca prestei atenção nela até que minha galerista e, depois, meu editor, escolheu-a e agora é uma das minhas favoritas de todos os tempos. O garoto que se destacou e chamou minha atenção naquela sessão na rua e agora aparece em várias imagens muito boas era Danny Kwock, quem, nos anos 80, tornou-se um grande surfista. Na época, eu não tinha ideia.

Como eram os skatistas?
Durante o período do nascimento do esporte, nos anos 70, o fenômeno foi que eles eram todos garotos adolescentes. Agora está espalhado por toda a população, em todos os segmentos demográficos. Os primeiros a se arriscarem era os "garotos selvagens das ruas", os "garotos do verão".

Você acha que o skate perdeu sua essência quando se tornou lucrativo?
Sim. É por isso que essas imagens carregam uma atração nostálgica para as pessoas. Acho que acontece com todos os esportes. É só diversão quando é descoberto, mas qualquer coisa divertida rapidamente se torna uma curiosidade comercial, um esporte para espectadores, um espetáculo que gera dinheiro. Claro que existem muitas pessoas que ainda se divertem, mas sim, a essência muda.

Qual é a coisa mais importante ao fotografar uma sessão de skate?
Tomar cuidado com a sua cabeça! Ficar esperto com os skates que voam! Bem, tudo o que eu posso dizer é que tirando fotos de ação, componha rápido e aperte o botão exatamente no pico da ação. E que você aprende fazendo. De novo e de novo! Aprendi isso rápido e os reflexos serviram também para fotos estáticas, porque o melhor é conseguir um clique rápido e então, se você tiver tempo, compor melhor, e fazer isso de novo. Muitas vezes, a única chance que você tem é a primeira.

Locals only
Autor: Hugh Holland
Editora: Ammo Books
Quanto: 39 dólares
Site: www.ammobooks.com

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