A aventura em quadrinhos Joquempô mostra um Brasil bem diferente num futuro próximo
Num futuro não muito distante (2014), Ronaldo Fenômeno está ainda mais rechonchudo e é técnico da seleção brasileira; o PCC e a prefeitura de São Paulo governam juntos uma cidade dividida por um muro que separa o centro da periferia. Em Joquempô, o Brasil é um lugar diferente do que conhecemos, mas nem tanto. Criada por Rogério Vilela, a série promete durar bastante tempo: são onze conjuntos de histórias (o que o autor chama de "arcos"), cada uma com um personagem principal e nomeada por algum passatempo ou jogo. A primeira, que tem Marcel como protagonista se chama "Ligue os pontos" e envolve um jogo com pistas sequenciais numeradas, os tais "pontos".
O autor Rogério Vilela, 40, diz que não se trata de um exercício de futurologia distópica: "Não é que eu acredite que o Lula vai tentar a reeleição em 2014, mas seria engraçado se tentasse, como seria se o Ronaldo estivesse mais gordo e fosse o técnico da seleção em 2014. É só para criar um panorama para as coisas que eu quero contar". São Paulo é o cenário e a cidade é mostrada pelo traço realista, "meio Vertigo", como define o autor, do desenhista Nelson Cosentino.
Longe de ser a típica trama do bem contra o mal, Joquempô tentar criar uma "zona cinza" entre esses extremos. Não há heróis os vilões e "vai chegar um momento em que você não vai saber quem está de qual lado". Aumentando a confusão, há ainda uma história em quadrinhos parelela correndo dentro de Joquempô, chamada Tribulações, que é de autoria do personagem Marcel.
Não é que eu acredite que o Lula vai tentar a reeleição em 2014, mas seria engraçado se tentasse, como seria se o Ronaldo estivesse mais gordo e fosse o técnico da seleção em 2014
A ousadia já parece render frutos. Há interesse em publicar a história nos Estados Unidos (uma tradução já está sendo feita) e os fãs cobram Vilela da sequência. Até os colegas de Fábrica de Quadrinhos não aguentam mais esperar pelo lançamento do segundo número (para daqui a "dois ou três meses") e pedem dicas do que vai acontecer. A Trip não resistiu e pediu a Vilela que adiantasse algo que ainda está por acontecer e ele cedeu aos pedidos insistentes: "Um jogador vai ser morto num jogo da seleção no Maracanã".
Fale um pouco sobre essa distopia que você imaginou. Nela, o Ronaldo é técnico da seleção brasileira...
Aí entra a parte da brincadeira. A ideia não é fazer futurologia, adivinhar o que vai acontecer em 2014, mas brincar com o que pode acontecer. Não é que eu acredite que o Lula vai tentar a reeleição em 2014, mas seria engraçado se tentasse, como seria se o Ronaldo estivesse mais gordo e fosse o técnico da seleção em 2014. E outras coisas: o Brasil vai estar em guerra com a Argentina, os Estados Unidos vão ter problemas bem graves com a China. É só para criar um panorama para as coisas que eu quero contar. Eu vendo a história como se fosse o Lost, são várias temporadas. A primeira, que é o primeiro arco de história, chama-se "Ligue os pontos", que é do personagem Marcel. São onze personagens principais que estão ligados por algum motivo bem maior - que vai ser explicado bem mais para frente. Cada personagem tem um arco de história, e cada um tem o nome de um passatempo ou brincadeira. Isso ainda não foi explicado, vai ficar claro quando terminar esse arco que é o "Ligue os pontos". O segundo arco se chama "Jogo da amarelinha" e é de outro personagem, tem "Xadrez", "Jogo dos sete erros", até contar a história de todos os personagens.
É difícil fazer quadrinho no Brasil?
Não dá para viver só disso, a não ser que você queira viver mal. A gente tem que fazer uma porrada de outras coisas e fazer o quadrinho. No meu caso, trabalho numa produtora, stand-up, quadro para a televisão, programa de rádio. Adoraria me dedicar só aos quadrinhos.
E conseguir espaço para publicar?
Acho que não. Tendo um projeto bom nas mãos, não é difícil publicar, difícil é ganhar dinheiro com isso. Publicar não é difícil com era quando eu tinha 14 anos, [quando] não tinha quadrinho nacional. Tem muita gente publicando, mas pouco se compra quadrinhos.
Joquempô
Rogério Vilela e Nelson Cosentino
56 páginas
Editora Devir
R$ 19,50
56 páginas