A bordo da nova Saveiro Robust, o campeão paulista de surf Thiago Camarão e o artista Negast descem a serra sentido Juquehy e trocam de papéis
Camarão é surfista. Negast, grafiteiro. O primeiro nunca se atreveu a pintar um muro. O segundo, jamais encarou uma onda. Mas o desafio está lançado.
Thiago Camarão, 28 anos, paranaense nascido em Cascavel e criado no litoral norte de São Paulo, terá missão de colorir a fachada de uma casa abandonada. E David Silva, nome de verdade de Negast, 31 anos, com a vida feita no Capão Redondo, zona sul da capital paulista, haverá de subir pela primeira vez em uma prancha.
Em uma rara manhã de sol de agosto, os dois embarcaram na nova Volkswagen Saveiro Robust e se mandaram para Juquehy, lar salgado lar de Camarão. Negast é do asfalto. “Praia, só de vez em nunca, quando criança, com a família, pra Praia Grande [litoral sul do estado]”, lembra-se o artista, que tem como inspiração nomes como os paulistanos Osgemeos, os alemães Low Bros e o austríaco Nychos. Já Camarão é da natureza. “Quando preciso ir pra São Paulo, vou, resolvo os problemas e volto correndo. Nem durmo lá”, conta o atual campeão paulista de surf.
Enquanto o motor 1.6 de 104 cavalos da Saveiro vai deixando a estrada pra trás, os dois embalam a conversa e percebem uma convergência na lida diária: tanto no mar, à espera da onda perfeita, quanto na cidade, a procura do muro ideal, há uma certa solidão no processo de realização pessoal. “Nós dois temos esse momento de estar só, de agir sozinho, de tomar decisões sozinhos”, resume Negast, hoje morador do Embu das Artes, município vizinho à capital paulista.
Os dois, no entanto, curtem estar em turma. “Viajar pelo mundo faz parte do lifestyle do surfista profissional, mas a melhor parte é voltar pra casa e surfar com os amigos”, conta Camarão, que pisou pela primeira vez na praia pra vender gibi aos 8 anos e precisava esconder a prancha dos pais, contrários ao esporte “perigoso e de vagabundo”.
Depois de percorrer as estradas enlameadas e esburacadas do sertão de Juquehy, a Saveiro estaciona na frente da casa de Camarão, onde Negast se surpreende com o acervo de pranchas: são 40, de vários tamanhos e estilos. A próxima parada é, finalmente, na praia. Após uma breve aula de surf, os dois alongam o corpo. De roupa de neoprene, o artista se lança ao mar. A primeira tentativa de subir na prancha fracassa. A segunda, idem. A terceira, mais ainda. E por aí vai. Aos poucos, no entanto, Negast começa a vencer o desafio. Dois ou três caldos depois, fica em pé e desliza na onda por incríveis sete segundos. “Eu não acreditei. Achei que o Camarão estava me empurrando, mas não... Eu tinha pego uma onda mesmo”, comemorou.
O desafio agora muda de lado. É a vez do surfista virar artista. Os dois encontram a fachada de uma casa na beira da rodovia Rio-Santos, no trevo de acesso à Barra do Una. Após a devida autorização, começa a sessão de pintura. As obras do grafiteiro têm o tucano como personagem onipresente. “Escolhi o tucano porque queria que meu desenho tivesse uma marca brasileira e colorida”, explica Negast. Enquanto ele faz os traços da ave, Camarão ajuda a preencher os espaços. O surfista, diga-se, não é iniciante na arte das tintas. Tem o hábito de desenhar as próprias pranchas. “Mas não sei usar bem o spray. Uso mais caneta-pôster.”
Aos poucos, o tucano de Negast vai ganhando forma e cores; além de óculos, um par de tênis. “Desde criei esse personagem, ele tem evoluído comigo. Está cada vez mais complexo, mais humano”, conta. Duas horas depois, a ave está viva. “Fui me surpreendendo a cada minuto do processo”, diz Camarão. “Agora quando passar aqui, a caminho de casa, vou poder dizer: Fui eu que fiz”, completa o surfista. Negast pega carona: “Minha ideia com o tucano é colorir a cidade onde moro. Nunca tinha trazido ele pra praia. Agora, viemos nós dois. E acho que ele ficou bem aqui na natureza, de onde nunca deveria ter saído.”
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