Ronaldo Nazário

por Daniel Piza
Trip #171

Envelhecimento, peso, mulheres, travestis, futuro... Artilheiro encara seus fantasmas

Quando se trata de Ronaldo, é difícil separar a pessoa e o jogador. Tome como exemplo o momento atual: ele se prepara para voltar aos campos mais uma vez, depois de outra lesão no joelho sofrida em fevereiro; e se prepara também para recuperar sua imagem, depois de escândalos como a noite em que foi pego com travestis e as fotos em Ibiza em que apareceu fumando e com a barriga avantajada. “Quero encerrar minha carreira por decisão própria, não porque fui obrigado a encerrar”, diz o centroavante de 32 anos, em entrevista à Trip feita em meados de setembro, no Rio de Janeiro. “Quero terminar marcando gols.” Mais uma vez ele tenta mostrar que as previsões sobre seu fim estavam erradas – e que sua longevidade pode resistir a mais essa prova.

Conheci Ronaldo em 2001, quando fiz uma longa reportagem mostrando que ele voltaria – e bem – ao futebol. Em 2002, ele fez oito gols na Copa do Mundo, dois deles na final contra a Alemanha, e calou aqueles que diziam que “amarelava”, que era fenômeno apenas no “marketing”, que não passava de um “finalizador” e “baladeiro”. Mas, mesmo com essa façanha, Ronaldo continuou a ser objeto das mais variadas acusações – muitas delas de cunho pessoal. Nos últimos anos, ficou comum ouvir que se trata de um ex-atleta, de um ex-profissional, de um “gordo” fatigado do futebol e interessado apenas em dinheiro e mulheres. E que, ainda por cima, talvez nem goste tanto assim de mulheres.

Ronaldo, porém, tem uma segurança: “Minha história está feita. Tem algumas páginas em branco ainda, mas está feita”. Quem o conhece um pouco garante que ele não sente necessidade de provar nada para ninguém, embora se ressinta do fato de que tudo com ele “ganha uma dimensão absurda”. Nega ser o jogador festeiro e relapso que tentam pintá-lo, lembrando os sacrifícios que passou para voltar das lesões. Mas na maior parte do tempo é um sujeito tranqüilo, ligado à família e aos amigos – e que sempre se despede nas ligações de celular com um “Fica com Deus”.

É claro que Ronaldo é, digamos, paquerador e bom garfo. É comum que chegue a um ambiente cercado de mulheres e tome algumas cervejas; de vez em quando fuma também. Ele diz que nada disso é incompatível com a vida de atleta. Mas há um Ronaldo que pouca gente conhece: um Ronaldo que sonha em fazer faculdade, que tem um pai amante dos livros e que toma conta de todos os seus negócios como um presidente de empresa. “Presidente”, por sinal, é como jogadores mais jovens como Robinho o chamam na seleção. Como Robinho, Kaká, Diego, Pato e muitos outros têm Ronaldo como ídolo, como o melhor jogador brasileiro depois de Pelé, melhor ainda que Zico ou Romário.

A nova fase de Ronaldo pode acontecer no Manchester City, time inglês que também contratou Robinho. Outros clubes sondaram o Fenômeno, como o PSV, onde brilhou nos anos de 1994 e 1995, mas o projeto do time menos famoso de Manchester – movido a dinheiro árabe – o atraiu. Sua expectativa é jogar mais dois ou três anos em bom nível e encerrar a carreira. Quando joga e faz gols, Ronaldo diz que “emagrece” aos olhos do público e passa a ocupar a mídia mais por seu desempenho profissional do que por suas trapalhadas pessoais. Sobre a seleção, acha que Dunga não é culpado da má fase e, claro, gostaria de voltar a defendê-la. Na entrevista a seguir, fala sobre sua vida pessoal, a carreira e as polêmicas. E mostra as mágoas, como ao revelar que rompeu com o fisioterapeuta Nilton Petrone, conhecido como Filé, porque este teria cometido fraudes na clínica do jogador (procurado pela Trip por uma semana, Petrone não respondeu aos recados deixados em seu celular).

O abismo entre imagem íntima e imagem pública não angustia Ronaldo, embora ele se queixe da fama, observando, por exemplo, que nunca posou para a revista Caras. “Nunca quis ser celebridade”, diz. “Se sou famoso, é por mérito, por trabalho.” Ele se recusa a dizer seu peso ideal e a dar explicações para as derrotas de 1998 e 2006 ou para a decadência dos “galáticos” do Real Madrid. Prefere lembrar como é recebido nas ruas, como alguém que “fez muito pelo Brasil” e que foi eleito três vezes melhor do mundo. Sem falsa vaidade, conclui: “O que vão lembrar daqui a 50 anos é o que se fez dentro de campo”. Contra a maioria dos prognósticos, essa longa vida está garantida.

(NA COPA DE 1994) O ROMÁRIO ME DEU UM ESPORRO: “VEM CÁ, VOCÊ QUER JOGAR OU NÃO? ENTÃO FALA QUE QUER JOGAR E FODA-SE.”

QUANDO DEU O ESTALO “VOU SER JOGADOR DE FUTEBOL”? VOCÊ QUIS SER OUTRA COISA NA VIDA?
Não, minha paixão sempre foi o futebol. Uma época eu tinha vontade de ir para o exército, mas sempre quis ser jogador, desde pequeno. Todo Natal eu recebia uma bola de futebol. Eu jogava o tempo inteiro.

NA RUA?
Na rua, descalço, perdendo unha... Todo mês eu perdia uma unha. Quando não tinha bola de verdade, era com bola de meia.

JÁ ERA FLAMENGUISTA? SEU PAI É FLAMENGUISTA, NÃO?
É. Sou Flamengo desde pequeno também.

VOCÊ NASCEU EM 76. LEMBRA DO FLAMENGO DE ZICO, CAMPEÃO MUNDIAL EM 81?
Quase nada. Mas lembro muita coisa depois. Meu pai me levava sempre ao Maracanã. Aos 7, 8, 9, 10 anos... Eu ia em quase todos os jogos.

DA COPA DE 82 LEMBRA ALGO?
Lembro porque a gente fazia uma reuniãozinha na rua, na casa do vizinho da frente, que era militar da aeronáutica. Ele trazia coisas, refrigerantes, batata frita, e juntava umas 20, 30 pessoas na frente da TV.

QUANDO VOCÊ JOGAVA BOLA, OS AMIGOS DIZIAM “VOCÊ TEM DE SER JOGADOR, VOCÊ É MUITO BOM”, ALGO ASSIM?
Eu me destacava. Mas era muito novo, né? Só quando fui jogar futebol de salão no Valqueire Tênis Clube, com 9, 10 anos, é que começaram a falar. Mas no dia da peneira tinha tanta gente – 20, 30 garotos – que eu decidi tentar a vaga de goleiro e consegui.

GOLEIRO?
É, fi quei um mês como goleiro. Depois mudei para a linha.

JÁ NA FRENTE?
Eu jogava de ala direito.

MAS POR QUE FUTEBOL DE SALÃO?
Todos os meus amigos jogavam salão. Tinha um mais velho, o Renatinho, que jogou em vários clubes. Então me empolguei. Joguei um ano de salão e comecei a jogar campo simultaneamente. Aí já no São Cristóvão.

VI UM FILME SEU JOGANDO SALÃO AINDA PEQUENO, FAZENDO GOLAÇOS...
Aí já era no Social Ramos. Eu tinha arrebentado no campeonato carioca, e o Social Ramos tinha melhor estrutura, já dava ajuda de custo. Eu fazia muito gol, mesmo na ala. Tinha 14 anos, depois fui para o São Cristóvão. O Flamengo até me procurou nessa época, mas o Cruzeiro que me levou.

NOS EUA O CARA COMPRA UMA FERRARI E ELES ADMIRAM PELA CONQUISTA. NO BRASIL AS PESSOAS DESCONFIAM, PORQUE NUNCA SE SABE SE O CARA ROUBOU O DINHEIRO OU GANHOU TRABALHANDO (RISOS)

É VERDADE QUE VOCÊ NÃO FOI PARA O FLAMENGO PORQUE NÃO TINHA CHUTEIRA?
Não. Eu tinha feito peneira no Flamengo, quando jogava no Valqueire ainda, e passei no primeiro teste, no segundo, no terceiro... Quem coordenava os testes era o [ex-goleiro] Cantarelli. Mas aí meus pais disseram: “Filho, todos esses testes, não tá dando não”... Eram duas conduções para ir, duas para voltar. Aí eu pensei: “Vou pro São Cristóvão mesmo”. Era um trem só.

QUANTO TEMPO VOCÊ FICOU NESSES CLUBES?
Fiquei um ano e meio no Social Ramos, três no São Cristóvão. O salão era terças e quintas de noite, o campo era três tardes por semana.

DOS 12 AOS 15 ANOS, É ISSO? VOCÊ LEMBRA DOS GOLS QUE FEZ NESSA ÉPOCA?
Lembro, claro. Lembro um que eu fi z contra o Flamengo. Foi 1 a 1, lembro direitinho do gol.

NA ESCOLA VOCÊ FOI ATÉ ONDE?
Completei o primeiro grau no sufoco, lá em Belo Horizonte, já jogando no Cruzeiro. Eu jogava no júnior, treinava no profissional, e as pessoas começaram a me conhecer já. Eu ia para a escola pública ao lado da Toca da Raposa e os colegas me conheciam.

SEMPRE ACHEI QUE VOCÊ FOSSE MAIS LIGADO À SUA MÃE, MAS VOCÊ TAMBÉM É BEM LIGADO AO SEU PAI, NÃO?
Sou, muito. É que eles se separaram quando eu tinha 8, 9 anos. Mas meu pai é que ia sempre aos jogos, a mãe só de vez em quando.

VOCÊ TAMBÉM DIZ QUE ELE GOSTA DE LER MUITO. VOCÊ GOSTA?
Não como ele. Meu pai é maluco por livros, ele lê o dia inteiro. Gosta do Machado de Assis, por sinal. Conta que eu nasci em Itaguaí, onde se passa a história O alienista.

POR QUE VOCÊ NASCEU LÁ?
Porque naquele fi m de semana o médico da minha mãe estava de plantão em Itaguaí, então meu pai pegou o carro e a levou até lá.

COMO FOI CHEGAR AO CRUZEIRO? O CLUBE PAGOU US$ 50.000 PELO PASSE INTEIRO?
Não, por metade. A outra metade era do Alexandre [Martins] e do Reinaldo [Pitta].

ELES JÁ ERAM SEUS EMPRESÁRIOS?
Eles que me compraram do São Cristóvão por US$ 7.000.

VOCÊ FALA BASTANTE COM O MARTINS E O PITTA?
Faz algum tempo que não falo com eles, mas continuo falando, não brigamos nem nada. Eles precisaram deixar de ser meus empresários, mas entenderam isso.

POR CAUSA DAS ACUSAÇÕES (DE LAVAGEM E REMESSA ILEGAL DE DINHEIRO AO EXTERIOR)?
É, mas eles negam tudo. Eu fi quei surpreso, mas acredito neles. Eles são do bem, sempre foram corretos comigo, nunca me roubaram.

SUA ESTRÉIA NO PROFISSIONAL DO CRUZEIRO FOI EM 1993?
Isso, numa turnê não me lembro em que país, acho que em Portugal. O treinador era o Carlos Alberto Silva.

COMO ERA TER 16 ANOS, ESTAR NO CRUZEIRO, VALORIZADO?
Tudo aconteceu muito rápido, eu não tinha idéia do que estava me esperando. Sempre tive muita confi ança em mim. Mas não imaginava a dimensão que seria.

ENTÃO VOCÊ NÃO TEM UM “DESCOBRIDOR”?
Não. Eu corri atrás, fui aos lugares, fi z testes, joguei salão. Não teve ninguém que chegou e me chamou, “Vem cá” etc. Acho que eu me descobri sozinho [risos].

NÃO TEVE ALGUÉM QUE CHEGOU E DISSE PARA VOCÊ TREINAR O PÉ ESQUERDO?
Não, eu vi uma reportagem sobre o Zico na TV, ele contando a história dele, que fi cava na frente do muro chutando com a perna esquerda. E aí eu ficava imitando na minha casa.

POUCOS JOGADORES USAM A ESQUERDA COMO VOCÊ. VOCÊ NÃO SÓ CHUTA COM ELA, MAS TAMBÉM CONDUZ E DRIBLA. NÃO É RARO?
É bem raro. Ter a mesma coordenação com uma perna e com a outra. Já com o braço esquerdo eu não consigo fazer nada [risos].

O ZICO É SUA GRANDE REFERÊNCIA, NÉ?
Sim, me inspirei também muito na sua conduta, no seu profissionalismo, na decisão de ir jogar fora. Eu sabia que se seguisse esse exemplo tudo ia dar certo.

O ZICO FOI “O CARA” DEPOIS DO PELÉ?
Eu acho.

NO CRUZEIRO, NO PSV E ATÉ NO BARCELONA VOCÊ FEZ QUASE UM GOL POR JOGO. HOJE ISSO NÃO É MAIS COMUM.
O futebol está muito disputado. Os zagueiros estão mais fortes, mais velozes. Eu mesmo fi z uns quatro anos seguidos, depois não fiz mais.

NO PSV VOCÊ TEM MAIS FORÇA.
Pô, saí do Brasil com todas as dificuldades. Aí comecei a comer direito, a ganhar dinheiro [risos]. Tinha 17 anos, era idade normal de crescimento.

O CRUZEIRO TE VENDEU POR QUANTO?
Por US$ 6 milhões. Naquela época era muito dinheiro. Hoje mesmo seria, mas naquela época era mais. Hoje mudou bastante.

NO FUTEBOL HOLANDÊS VOCÊ TEVE UM APRENDIZADO TÁTICO? POSICIONAMENTO, OBJETIVIDADE – O QUE VOCÊ APRENDEU NA HOLANDA?
Na Europa em geral eles não têm a nossa técnica, a nossa habilidade, então precisam muito desse entrosamento. Eles fazem jogadas ensaiadas mesmo. Sincronismo total. A equipe toda indo para o lado direito, para o lado esquerdo, onde a bola estivesse.

QUEM ERA O MELHOR COLEGA LÁ?
O cara que até hoje eu digo que foi o melhor com quem joguei é o [belga] Luc Nilis. Ele me encontrava em qualquer lugar!

SE VOCÊ TIVESSE FICADO ALGUNS ANOS NO CRUZEIRO, TERIA FICADO FORTE COMO NA HOLANDA?
Eu acho que não. Eu morava sozinho em Belo Horizonte, comia besteira em casa. Na Holanda treinava muito e tinha um acompanhamento total. Naquele tempo no futebol o treino era o mesmo para todo mundo, hoje melhorou muito. A gente corria 8 km todo mundo junto no mesmo ritmo. Não fazia sentido. Como eu vou correr 8 km no mesmo ritmo de um Cafu?

VOCÊ NÃO TEM RESISTÊNCIA?
Resistência eu tenho. Eu não tenho muito essa capacidade aeróbica, para corrida de grande distância. É uma característica minha.

ROMÁRIO FOI INSPIRAÇÃO PARA IR PARA A HOLANDA?
Não, foi a proposta que pintou.

MORAR LÁ ERA DIFÍCIL?
Era. Eu mal saía de casa. Tinha namoradinha, mas nem ia para Amsterdã [a 100 km de Eindhoven]. No inverno fazia menos 30 graus.

A COPA DE 94 AJUDOU A PROJETÁ-LO?
Não. Fechei o contrato durante a Copa, mas nem joguei na Copa.

VOCÊ ESTAVA ANSIOSO PARA ENTRAR? ACHA QUE IA BEM SE ENTRASSE?
Acho que sim. Mas para mim estava tudo bem, só estar ali... Um dia o Romário disse numa entrevista que queria jogar com três atacantes: ele, o Bebeto e eu. Aí vieram me perguntar e eu fi quei em cima do muro, “Quero jogar, mas tá tudo bem”. No dia seguinte o Romário me deu um esporro: “Vem cá, você quer jogar ou não? Então fala que quer jogar e foda-se” [risos].

O ROMÁRIO FALA QUE É MELHOR QUE VOCÊ NO POSICIONAMENTO NA ÁREA. CONCORDA?
Qualquer comparação assim é complicada. Não fico me comparando.

SEU DEFEITO É O CABECEIO?
Eu sempre disse que era defeito, mas não sei se é defeito. É um recurso que usei menos, mas fiz muitos gols de cabeça. Eu não vou bem quando tenho de subir junto com o zagueiro, na disputa, não sei por quê. Sei lá se é medo de bater a cabeça.

NA HOLANDA VOCÊ JÁ FEZ UMA PRIMEIRA OPERAÇÃO NO JOELHO?
Foi uma besteira, uma raspagem de um ossinho da canela, que tinha crescido mais que o crescimento natural. Fiquei bom em um mês.

SEMPRE DIZEM QUE CRESCIMENTOS COMO O SEU FORAM COM “BOMBA”. É VERDADE?
Nada. Nem dá para enganar, há exame o tempo todo. O que eu fi z foi comer bem e muito exercício. Os caras falam sem fundamento.

DIZEM QUE OS JOGADORES DE HOJE SÃO MUITO FESTEIROS, NÃO TREINAM ETC.
Não é verdade. Se eu não cuidasse do meu corpo, não teria trabalhado tanto para me recuperar das lesões. Não teria força, agilidade.

VOCÊ SEMPRE SE PREOCUPOU EM COMBINAR FORÇA COM ARTE?
Sempre. A velocidade, por exemplo, você tem ou não tem. Mas a força você pode adquirir. E eu fui adquirindo.

O QUE TEM EM BARCELONA QUE MARADONA DEU SHOW LÁ, ROMÁRIO, VOCÊ, RIVALDO, RONALDINHO...?
É... Barcelona é uma cidade incrível, que inspira. O clube também.

FOI O MELHOR ANO DE SUA CARREIRA?
Esse e o seguinte, na Inter de Milão.

COMPARARAM VOCÊ COM PELÉ, NUMA MONTAGEM FOTOGRÁFICA, E HOUVE A RONALDOMANIA, CHAMARAM VOCÊ DE EXTRATERRESTRE...
Muito legal. Fizeram foto comigo vestido de astronauta.

COMPARAR COM PELÉ PESA?
Pesar, não pesa. Mas assusta um pouco. Começando a carreira... Tem que ter pé no chão.

MANDEI O FILÉ (NILTON PETRONE, FISIOTERAPEUTA) EMBORA PORQUE A ADMINISTRAÇÃO DELE NA CLÍNICA TINHA FRAUDES

E VOCÊ TEVE?
Sempre tive, principalmente com apoio dos meus pais, da família. Falarem para você “calma, precisa treinar mais” etc.

O RONALDINHO SENTIU ESSE PESO ANTES DE 2006?
Não sei, mas ele não foi o único culpado, todos fomos. Futebol é coletivo. Lá dentro é todo mundo igual.

É COLETIVO, MAS TAMBÉM INDIVIDUAL.
Sim, mas no sentido da confi ança, aquele negócio de “mande a bola para ele que ele decide”. Tem aquela história incrível do Michael Jordan, que pegou a bola no último segundo umas 40 vezes e errou umas 25. Mas as vezes que ele acertava marcavam a história. O treinador dele contou num livro. Havia um jogador que era ótimo para cesta de três pontos, mas aí o treinador virou para ele e disse: “Olha, sei que você é um craque nos três pontos, mas se o jogo estiver no fi m mande a bola para o Michael Jordan” [risos].

NA ÉPOCA DO BARÇA VOCÊ VIROU CELEBRIDADE. DISSERAM QUE VOCÊ ERA “FENÔMENO DE MARKETING”, UM PRODUTO DE MARKETING. UM DIA VOCÊ DISSE: “SE SOU PRODUTO, É PORQUE PRODUZO DENTRO DE CAMPO”. AS PESSOAS PARECEM PENSAR QUE VOCÊ É FAMOSO PORQUE É FAMOSO...
É, porque decidiram gostar de mim... [risos]. Ou porque eu pago todo mundo... Não por mérito, não por trabalho.

E DIZEM QUE A NIKE FORÇOU VOCÊ A JOGAR NA FINAL DE 1998.
Absurdo. Falaram até que foi uma troca entre o governo francês e o brasileiro por armamento e sei lá o que mais... [risos].

VOCÊ SE TORNOU UMA CELEBRIDADE E...
Mas eu nunca quis ser uma celebridade, nesse sentido de querer tirar foto para Caras, mostrar meu cachorro ou sei lá o que mais. Eu queria ser um bom jogador.

NAMOROU MULHERES BONITAS, COMO SUSANA WERNER, DANIELLA CICARELLI, RAICA OLIVEIRA.
Acontece que eu sou um ser humano, me apaixono, erro, acerto. Como sou famoso, isso tem uma dimensão muito grande.

TEVE O EPISÓDIO DO CASAMENTO NO CASTELO, ANUNCIADO NA GLOBO. FOI UM ERRO?
Foi, mas a gente é cobrado a dar informação. É uma satisfação que tem que dar ao público.

O QUE AFINAL ACONTECEU ENTRE VOCÊ E A DANIELLA CICARELLI?
Nada, apenas não deu certo, levávamos vidas diferentes. Mas até hoje a gente se fala.

SUA ATUAL MULHER (BIA ANTONY, PSICÓLOGA) ESTÁ GRÁVIDA (DE MARIA SOFIA, QUE NASCERÁ EM DEZEMBRO) E PARECE MAIS DISCRETA, COMO ERA A MILENE, MÃE DO RONALD. COMO ELA LIDA COM O ASSÉDIO QUE VOCÊ SOFRE?
Ela tem ciúmes, mas sabe que é assim, que não adianta esquentar.

É MUITO RUIM SER FOTOGRAFADO EM TUDO QUE É LUGAR?
Claro que é. A gente se acostuma, mas você não consegue ir ao shopping e passear com tranqüilidade. Se juntam três ou quatro, já vira confusão, fi ca chato. E hoje todo mundo virou paparazzo, com os celulares.

NO BRASIL É PIOR OU MELHOR?
Em algumas coisas é pior. Em 1999 comprei uma Ferrari e me criticaram, disseram que eu estava ostentando. Confundem muito as coisas. Nos EUA o cara compra uma Ferrari e eles o admiram pela conquista. É que no Brasil as pessoas desconfi am, porque nunca se sabe se o cara roubou o dinheiro ou ganhou trabalhando [risos]. No meu caso, é óbvio que foi por meu trabalho. Não roubei dinheiro público, não cometi crime, não passei por cima de ninguém.

E O EPISÓDIO COM OS TRAVESTIS?
Isso foi uma merda que eu fiz.

VOCÊ ACHOU MESMO QUE FOSSEM MULHERES?
Achei. Quando fui ver os caras já tinham esquema com imprensa, com polícia e tudo o mais. Isso não me isenta de culpa, eu é que fui buscar garotas de programa. Me arrependo muito.

VOCÊ É BALADEIRO?
Não sou. Quando venho ao Brasil em geral estou em férias, então as pessoas acham que minha vida é assim. Eu saio pouco, me cuido, não fico em noitadas.

DE VEZ EM QUANDO APARECE TOMANDO CERVEJA. E NAQUELAS FOTOS DE IBIZA VOCÊ ESTÁ COM UM CIGARRO.
Tomar uma cerveja de vez em quando não faz mal. Sou bem moderado. E aquela coisa do cigarro é uma bobagem. Não sou fumante.

VOCÊ NÃO SE ARREPENDEU DE TER SAÍDO CEDO DO BARÇA?
Não, porque o ano seguinte também foi bom pra caramba. As coisas começaram a acontecer na Itália também. Ou eu encarava aquilo como um desafi o enorme, de ir para o campeonato mais difícil do mundo, ou nada.

MAS O PROBLEMA FOI O ACORDO FINANCEIRO COM O BARÇA?
Eles tinham assinado o contrato. Já tínhamos comemorado. Aí do nada o cara voltou atrás e disse que tinha que me vender.

MAS PORQUE VIRAM QUE IAM GANHAR UMA BAITA GRANA VENDENDO VOCÊ?
Mais ou menos isso.

VOCÊ FOI O MELHOR JOGADOR DA ITÁLIA NAQUELE ANO E O ESTRANGEIRO QUE MAIS FEZ GOLS NA PRIMEIRA TEMPORADA. SÓ FALTOU O SCUDETTO?
Faltou, claro. Mas é até hoje o campeonato mais difícil.

O MALDINI, QUE O MARCOU NESSA ÉPOCA, DISSE QUE O MARADONA E VOCÊ FORAM OS DOIS CARAS MAIS DIFÍCEIS DE MARCAR EM TODA A CARREIRA DELE, PORQUE VOCÊ, ALÉM DA VELOCIDADE, ESCONDIA A BOLA. E ELE MARCOU BAGGIO, ROMÁRIO... ELE FOI O MELHOR ZAGUEIRO QUE VOCÊ ENFRENTOU?
Foi, sem dúvida. O De Boer era mais lento. O Aldair jogava muito. Contra a Roma era fogo; ele tinha técnica, posicionamento. O Cannavaro também. E o Thuram.

O SCUDETTO DE 2002, PERDIDO NA ÚLTIMA PARTIDA, É O QUE MAIS DÓI? TEVE AQUELE PÊNALTI QUE VOCÊ SOFREU CONTRA A JUVENTUS E O JUIZ NÃO DEU.
Aquilo foi absurdo, tanto que depois provaram que a Juve teve esquema com a máfi a em várias oportunidades. Quem sabe naquela?

ESSA É OUTRA CRÍTICA QUE LHE FAZEM, A DE TER GANHADO POUCOS CAMPEONATOS NACIONAIS. NÃO GANHOU COM BARÇA NEM INTER.
Ganhei com o Madrid. E ganhei três copas com o Barça, a Copa da Uefa com a Inter.

NA FINAL DE 1998, O QUE EXPLICA A DERROTA PARA A FRANÇA?
Eles jogaram muito. Correram pra caramba, estavam em casa, tinham um grande time. E fi zeram dois gols no começo.

EM 2002 O TIME NÃO ESTAVA MAIS MADURO? O RIVALDO, POR EXEMPLO.
Estava. Acho que todos nós estávamos.

NO BARCELONA OS ADVERSÁRIOS NÃO ME CONHECIAM AINDA. EU TAMBÉM QUERIA SER PARA SEMPRE AQUELE GAROTO DO BARCELONA...

E A CONVULSÃO?
Rapaz, é que precisam sempre achar um culpado. Então acharam.

MAS O QUE ACONTECEU, AFINAL?
Não sei, não me lembro de nada. É como se nada tivesse acontecido. Se não tem explicação científica para isso, o que vou dizer?

FALARAM EPILEPSIA, STRESS, DOENÇA DO SONO, EFEITO DE REMÉDIOS...
Falaram um monte de coisa. Mas ninguém comprovou nada.

VOCÊ ESTAVA NERVOSO NAQUELE DIA?
Não, não estava. Fiquei assustado com o que aconteceu, mas eu me sentia bem. O fato é que eles jogaram melhor.

EM 99 COMEÇA A AGRURA DAS LESÕES. VOCÊ TINHA DOR NO JOELHO EM 98?
Não. Só dores normais, de pancadas etc. Futebol é isso. Dificilmente um jogador entra em campo sem nada, sem um roxo, uma unha arrebentada...

MAS NA ÉPOCA DO BARÇA FALTOU CUIDAR MELHOR DO JOELHO?
Talvez. Hoje os preparadores prestam mais atenção ao estilo de cada jogador, às suas necessidades. E eu mesmo aprendi a ver em mim o que preciso fazer, um alongamento, um reforço.

HOUVE ALGUM DE PREPARAÇÃO EM ALGUM MOMENTO PARA QUE VOCÊ TIVESSE UMA LESÃO TÃO SÉRIA E RARA COMO A DO TENDÃO PATELAR?
Não, tenho certeza que não. Ela aconteceu, foi uma fatalidade que não poderia ter sido evitada. Não foi porque fiquei forte demais ou porque não me cuidei.

VOCÊ ACOMPANHAVA OS CARAS QUE DIZIAM QUE VOCÊ NUNCA IA VOLTAR?
Acompanhava. Alguns pediram desculpas públicas, como o [médico] Moisés Cohen.

E HAVIA POUCOS TE APOIANDO NA IMPRENSA.
Mas esse pouco me dava ânimo. O que me ajudava mais que tudo era a companhia do meu filho, Ronald, que ainda era pequeno. O que me chateia é a crítica sem fundamento. É como agora: é lógico que estou acima do meu peso. Fiquei dois meses sem poder sair da cama, seis meses sem me exercitar. Como é que não vou ganhar peso? Mas as pessoas na rua dizem: “Você não tá gordo, vamos lá, você vai se recuperar”. É muito bom.

ALGUNS DIZEM TAMBÉM QUE VOCÊ É “APENAS UM BOM FINALIZADOR”...
Como se finalizar fosse fácil... [risos].

(NA COPA DE 2006) É LÓGICO QUE O ROBERTO CARLOS NÃO TINHA QUE AJEITAR O MEIÃO [RISOS], MAS A CULPA NÃO FOI DELE

E VOCÊ SE CONSIDERA APENAS UM BOM FINALIZADOR? NÃO ACHA QUE AS PESSOAS ESQUECEM DE VER SUAS QUALIDADES TÉCNICAS, NÃO SÓ OS GOLS?
Minha trajetória mostra isso. Primeiro, para fazer gol o cara não tem que estar só ali, para empurrar para dentro. Só vi um que fazia isso, o Hugo Sánchez, que fez 38 gols num ano, mas todos com um toque só. Não saía da área, só completava as jogadas. Outra coisa é que a maneira como eu faço as coisas dá a sensação de que é fácil, de que parece fácil. Hoje tem gente que está com o gol aberto para chutar com a esquerda, mas precisa dominar a bola, ajeitar o corpo para chutar com a direita... Finalizar em velocidade não é fácil. Se você vem correndo e driblando, não tem aquele apoio perfeito. O joelho está dobrado, o corpo desequilibrado.

E VOCÊ NÃO É MUITO DE FIRULA, DE ENFEITE.
Vou dar um exemplo, porque falar de mim mesmo é complicado. Veja o Kaká, ele é o jogador mais moderno que existe. Ele é rápido, é ágil, é alto, é técnico, faz gol e ainda defende. Ele não é de dar pedalada, mas sem driblar o zagueiro ele é capaz de pôr a bola de lado e chutar para o gol, ou ele ganha na velocidade. Ele sabe lidar com o tempo da bola, é objetivo. O Cristiano Ronaldo também é excelente, melhorou quando começou a ir para o gol, mas eu prefi ro o Kaká. Ele é mais decisivo. Não perde tempo fazendo jogada na ponta, driblando três e depois cruzando.

MUITOS CHAMAM ISSO DE FUTEBOLARTE...
Isso é um mito que tem no Brasil. As pessoas não entendem que esse jogo do Kaká é bonito. Um zagueiro pode jogar bonito. Zagueiro que não deixa o atacante jogar também faz arte. O Pelé era objetivo!

MAS O KAKÁ NÃO TEM O DRIBLE CURTO, DE SALÃO; É MAIS DA PASSADA LARGA.
Ele tem isso também, mas não só. Tem vários outros recursos.

UMA FIRULA NÃO AJUDA A TIRAR MORAL DO ADVERSÁRIO?
Não acredito. É tudo tão rápido, tão intenso.

QUANDO O FELIPÃO DEU UM TELEFONEMA E DISSE: “RONALDO, QUERO VOCÊ NA COPA DE 2002”?
O dr. Runco, que para mim é o melhor médico do Brasil, me acompanhou o tempo todo. Aí o Felipão me deu aquela oportunidade contra a Iugoslávia. Fiz um bom fi m de temporada na Itália e veio a convocação fi nal.

O RIVALDO FOI MUITO IMPORTANTE NAQUELA COPA.
Foi, e o Ronaldinho também jogou muito, muito. Buscou bola no meio-campo, correu pra caramba. Aquele time era muito bom, tudo foi praticamente perfeito.

QUAL FOI O MAIOR JOGADOR COM QUEM VOCÊ JOGOU? O ZIDANE?
É difícil... Na posição dele, sem dúvida foi o melhor. Mas teve o Luc Nilis, teve o Romário, que foi bom pra cacete. Rivaldo. Maldini, na posição dele. Pô, o Roberto Carlos.

QUEM SÃO SEUS AMIGOS VERDADEIROS?
No futebol? O Zidane é um, o Roberto Carlos outro. Dida, Adriano, Figo... Felizmente tenho bons amigos. Fora do futebol, tenho alguns de longa data.

É COMUM VOCÊ DIZER PARA OS AMIGOS AO TELEFONE “FICA COM DEUS”. VOCÊ É RELIGIOSO?
Sou, sim. Não sou de ir à missa ou de fi car rezando, mas acredito em Deus, sou católico.

NO REAL MADRID COMEÇOU TUDO MUITO BEM. VOCÊS GANHARAM A LIGA E A INTERCONTINENTAL, VOCÊ FOI ARTILHEIRO, FOI O TERCEIRO MELHOR DO MUNDO. MAS NO ANO SEGUINTE TUDO COMEÇOU A PIORAR.
Aí eles mudaram o treinador, o Vicente Del Bosque, e alguns jogadores foram vendidos, como o Makelele. Mesmo assim, estávamos na liderança até quase o fi m. No último mês, perdemos dois ou três jogos e o mundo caiu.

QUANDO O BECKHAM CHEGOU, NO ANO SEGUINTE (2004-2005), NÃO FOI AÍ QUE FICOU GRAVE?
Não por ele, mas por toda a atenção gerada.

FOI POR CAUSA DO AMBIENTE, DO MARKETING?
Pode ser. Mas o time era bom.

QUANDO VOCÊ TINHA ACABADO DE CHEGAR LÁ, RECEBEU O TROFÉU DE MELHOR DO MUNDO DE 2002 E A TORCIDA GRITOU “RAÚL! RAÚL”. NÃO TINHA NACIONALISMO NESSE COMPORTAMENTO?
Claro que tinha.

EM 2005 A TORCIDA COMEÇOU A PEGAR NO SEU PÉ. VOCÊ COMEÇOU A TER MUITAS LESÕES E ELES COMEÇARAM A TE CHAMAR DE “GORDO”, “GORDITO”.
É que tinha as lesões e sempre você volta fora de ritmo. Talvez tenha voltado antes da hora algumas vezes, pela necessidade do time. Minha massa muscular aumentou, mas eu não estava gordo. O que importa é o percen tual de gordura, e eu sempre tive um percentual compatível com o de um atleta. Sempre estive na média, em torno de 10%.

NA COPA DE 2006 TAMBÉM?
Eu também estava voltando de lesão, o fisiologista explicou que eu estava na média, mas não adiantou nada.

POR QUE VOCÊ NÃO DECLAROU SEU PESO OU SUBIU NUMA BALANÇA E ACABOU COM TUDO AQUILO?
Porque não ia adiantar. O que conta é a massa muscular. A polêmica interessava, ia continuar do mesmo jeito.

O FILÉ (NILTON PETRONE, FISIOTERAPEUTA DE RONALDO ATÉ 2002) DISSE QUE VOCÊ DEVERIA ESTAR COM 100 KG EM 2006.
Em 2006 ele nem trabalhava comigo. Eu mandei o Filé embora porque a administração dele na clínica tinha fraudes. Nunca falei nada para não atrapalhar a carreira dele. Mas ele vai falar uma mentira dessas? Hoje a clínica dá lucro, o que nunca deu com ele.

MAS QUAL SEU PESO IDEAL? OS 94 KG QUE OFICIALMENTE ESTAVA PESANDO? VOCÊ TEM 1,84 M E O SITE DA CBF DIZIA QUE PESAVA 87 KG.
Não tem peso ideal. O ideal é estar abaixo de 12% de gordura. Mas aí as pessoas divulgam o que querem.

 

DE QUALQUER MODO, AS PESSOAS SE LEMBRAM DE SEUS ARRANQUES NO BARCELONA, NA INTER, E DEPOIS ELES FORAM DIMINUINDO.
Depois que voltei, em 2002, fiquei mais como centroavante mesmo. Mas dei alguns arranques também, só que nem sempre com gol. No Barcelona os adversários não me conheciam ainda. Eu também queria ser para sempre aquele garoto do Barcelona...

DEPOIS DE 2005 FICOU COMUM OUVIR QUE VOCÊ ESTARIA “CANSADO DO FUTEBOL”, QUE ERA EX-PROFISSIONAL, EX-ATLETA. É VERDADE?
Não. Pode ver que estou voltando de novo. As pessoas falam os absurdos que quiserem.

NA COPA DE 2006 O QUE ACONTECEU? O TIME TOCAVA DE LADO...
Teve muita coisa errada em 2006. Toda vez que a seleção foi bem era porque o time ficava isolado, protegido, só treinando. A gente fi cava mais concentrado, mais à vontade. Lá os treinos eram vistos por 10 mil, 15 mil pessoas, com transmissão ao vivo, imprensa.

MAS NÃO DAVA PARA OS ATLETAS RECLAMAREM?
Pô, não somos nós os responsáveis por isso.

E O TIME?
Acho que tinha muita gente voltando de lesão também, como eu. Mas não tem um problema principal. Não é igual a um carro que você vê qual o defeito e conserta. Foi um monte de coisinhas.

O ROBERTO CARLOS AJEITANDO MEIÃO...
É lógico que ele não tinha que estar ajeitando meião [risos], mas a culpa não foi dele.

TAMBÉM CULPARAM AS “TORRES GÊMEAS”, VOCÊ E O ADRIANO NA FRENTE.
Mas quando perdemos para a França o Adriano não foi titular.

E A ACUSAÇÃO DE CADA UM QUERER BATER RECORDE?
Qual o problema? Se você bate, é o grupo que sai ganhando. A competição dentro do grupo é saudável, ninguém tinha problema com isso. Se o cara bateu o recorde de presenças na seleção, é porque merece estar ali, ele conquistou aquilo, não é porque o Ricardo Teixeira gosta dele. As pessoas não entendem isso. Não entendem mesmo.

E DAQUI PARA A FRENTE, RONALDO?
Fico mais um tempo aqui no Rio, treinando, até arranjar um emprego [risos].

MAS TEM PROPOSTAS DE MANCHESTER CITY, PSV E OUTROS, SEGUNDO A IMPRENSA.
Tem, sim, mas primeiro quero fi car bom e depois decidir para onde vou. Sem pressa.

VOLTA A JOGAR ANTES DE 2009?
Volto, sem dúvida. Em dezembro já devo estar jogando. Quero terminar por cima, jogando, fazendo gols.

TAMBÉM PENSA EM VOLTAR À SELEÇÃO?
Todo mundo pensa na seleção, eu também.

POR QUE O TIME DE DUNGA NÃO TEM JOGADO BEM?
No jogo contra o Chile [em 14/9] o time foi muito bem. Mas acho que é uma fase. O Brasil sempre vai estar entre os melhores.

DEPOIS DE ENCERRAR A CARREIRA, O QUE PRETENDE FAZER?
Quero fazer faculdade, mas ainda não sei do quê. Pensei em economia, mas não gosto de matemática. Talvez administração.

VOCÊ ACOMPANHA TODOS OS SEUS NEGÓCIOS?
Tudo. Sou conservador com finanças, ponho o dinheiro em imóveis, o resto deixo tudo no mesmo banco, sem nenhum risco.

SABE ONDE VAI PARAR SEU DINHEIRO?
Pô, isso aí só eu sei direito [risos].

VOCÊ FOI TRÊS VEZES MELHOR DO MUNDO, FEZ OITO GOLS NUMA COPA, É O SEGUNDO MAIOR ARTILHEIRO DA SELEÇÃO... VOCÊ ACREDITA QUE AINDA PRECISA PROVAR ALGUMA COISA?
Minha história está feita. Tem algumas páginas ainda em branco [risos], mas está feita. E a história se faz dentro de campo. O que vão lembrar daqui a 50 anos é o que se fez dentro de campo.

MAS A CONVULSÃO DE 1998 E O PESO DE 2006 VÃO SER MENOS LEMBRADOS QUE A CONQUISTA DE 2002?
Claro. Basta ver o que me dizem nas ruas, que já fiz muito pelo Brasil. O que fica na história é o que se fez, não o que não se fez.

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