No futuro, seremos todos nômades

por Ronaldo Lemos
Trip #251

Quem está triste com a desmaterialização da ideia de lar pode ficar tranquilo: todo resto também vai se desmaterializar

Lembro de uma frase no meio dos anos 2000 que dizia: “Home is where my hard drive is” (minha casa é onde o meu disco rígido está). Como boa parte das coisas que aconteciam no meio dos anos 2000, essa frase ficou completamente obsoleta.

Em um mundo tomado pela ideia de “computação em nuvem”, em que nossos dados, contatos, fotos, filmes ou músicas ficam armazenados direto na rede e podem ser acessados de qualquer lugar, em qualquer aparelho, onde afinal é a nossa casa?

O conceito de mobilidade vai se tornar cada vez mais radical. Junto com a ideia de “lar” vão sumir outros conceitos tradicionais como “escritório”, “escola”, “hospital”, “laboratório” e assim por diante.

Já escrevi em mais de um lugar que acredito que o futuro da educação corporativa é totalmente on-line. Ninguém aguenta mais pegar um trânsito infernal para, duas vezes por semana, assistir a um professor desmotivado recitar a aula para você, como acontece em muitos MBAs por aí. Aula que, aliás, várias vezes sequer traz as informações de que você precisa na sua vida profissional.

O caminho natural desse tipo de educação corporativa é a total flexibilidade. Aulas 100% on-line, com os melhores professores do planeta (gente de qualquer lugar do mundo poderá ter acesso a eles), com o aluno escolhendo os temas que deseja aprender e não tendo que se adaptar a um programa preestabelecido.

Meu escritório é o celular
A ideia de “escritório” também está em xeque. Quem já está plenamente conectado no mundo de hoje trabalha em qualquer lugar com o celular na mão. Isso leva até mesmo à compressão do tempo. Antes, o tempo de esperar o elevador era somente isso: um tempo morto. Agora, enquanto o elevador não chega, dá tempo de responder a umas três mensagens no WhatsApp, checar o e-mail e ver se alguém deu like na sua foto mais recente no Instagram.

A própria ideia de “hospital” e “laboratório” vai ser revolucionada. Com as tecnologias batizadas de quantified self (o eu quantificado), nossos dispositivos pessoais vão incluir cada vez mais sensores médicos embutidos, capazes de medir o tempo todo informações como batimento cardíaco, pressão arterial, níveis de glicose no sangue e muito mais.

Há uma corrida entre as empresas globais para produzir kits de exames laboratoriais que dispensem aquela incômoda ida ao laboratório para colher sangue ou outros materiais. Um exemplo disso são os exames de gravidez, que podem ser encontrados em qualquer farmácia. A aposta é que outros tipos de exames seguirão a mesma linha. Vão ser comprados na farmácia e feitos em casa.

Com isso, todo mundo que estiver triste com a desmaterialização da ideia de “lar” pode ficar tranquilo. Todo resto também vai se desmaterializar. Seremos nômades e teremos como companhia somente as nuvens, que estarão não mais sobre nossas cabeças, mas em toda parte como um fruto estranho da eletricidade.

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