Rolezinho
Fora eu diretor de marketing ou dono de algum shopping center e me aproveitaria dessa nova paixão juvenil, o tão falado rolezinho. Convidaria aos “rolezistas” (tempos novos; termos novos) para que invadissem meu centro comercial, mas numa boa. Os seguranças estariam de sorriso aberto, dando flor para mulheres, apertando a mão dos homens e acolhendo a quantos quisessem entrar. Os logistas estariam para demonstração de mercadorias, se procurados, mas não podiam abordar ninguém. Faria uma festa, uma comemoração: “dia da liberdade no shopping”; entre, compartilhe e seja feliz com todos.
Na Praça da Alimentação montaria um enorme buffet com pequenos lanchinhos, balas, docinhos de workshop, sucos, refrigerantes e o indefectível café. Investiria metade da verba para marketing e propaganda do shopping nesse “rolezinho comemorativo”. No estacionamento, montaria um big show com os MCs, DJs, funk, grupos de pagode e o escambau! Convidaria Anita e se o Justin Timberland estivesse por aqui, chamaria também. Claro que ele não viria; de dia ele dorme. Em um salão grande qualquer do center, lançaria um sarau poético convidando a todos para que viessem dizer suas poesias.
Nem pensaria em vender nada naquele dia, se acontecesse, seria algo normal qual fora um dia comum. O objetivo seria deixar indelevelmente marcado na idéia daquele povo que aquele era o melhor lugar da cidade para comprar. Os “caras” ali eram legais, sem preconceitos, haviam tratado todo mundo bem, como gente, e mereciam uma freguezia a mais. Com certeza essa propaganda boca a boca traria muito mais fregueses que qualquer campanha de agência de publicidade famosa. Se alguém excedesse, a própria massa o conteria; ninguém quer briga onde é recebido com festa. Mas creio que tamanha abertura e generosidade seria admirada, respeitada e nada aconteceria de grave.
As pessoas não são queridas, amadas e desejadas porque são boas. Diferentemente, as pessoas tornam-se boas porque são amadas, cuidadas e importantes para os outros. Somos, sem dúvida, seres de cuidado; quem nos cuida, nos tem. E essa deveria ser a prática nesses centros comerciais. No fundo, os jovens querem apenas viver, por algum tempo, o que os outros jovens com dinheiro vivem. Querem se divertir, conhecer novas sensações. Vestem-se bem, compram nas lojas famosas e sentem prazer em fazer um “rolé” nos shoppings, mesmo que depois tenham que ralar o mês inteiro para pagar o cartão de crédito. Querem ser confundidos com todos ali e não suportam mais descriminação ou preconceitos. Acumularam uma ânsia imensa de pertencer, de fazer parte de alguma coisa. Vivem uma tensão enorme, acossados pela mídia que os traz salivantes até esses sofisticados centros de comércio, o baixo salário que recebem e a pressão social que exige ter para ser.
Então aparece a solução: o crediário. Eles empenham-se em contas impagáveis depois têm que negociar e ficam anos com o nome sujo ou sendo escorchados por juros extratosféricos. É triste de se pensar. Mas não dá para mudar o mundo de uma hora para a outra. De uma coisa eu tenho certeza: o dinheiro e as coisas não compensam todo o sacrifício que fazemos para obtê-los.
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Luiz Mendes
20/01/2014.