ROCK DE ESQUERDA

por Alê Youssef

Receber o show comemorativo de 25 anos da banda Fellini é um dos grandes momentos do STUDIO SP.

Quando me falaram da possibilidade de receber a banda Fellini para única apresentação comemorativa dos 25 anos de carreira no STUDIO SP, fiquei honrado. Não só porque sempre fui fã da banda, mas também pela postura que sempre mantiveram diante do cenário do rock nacional dos anos 80. Copio abaixo a excelente matéria de Lúcio Ribeiro sobre o show e sobre essa postura do Fellini, que segundo Cadão Volpato, é uma banda que sempre esteve à esquerda do rock nacional.

 

 

Cultuado, quarteto Fellini se reúne para único show em SP

Banda, que se manteve na contramão do rock brasileiro dos anos 80, toca hoje no Studio SP com sua formação original; show marca 25 anos do grupo

LÚCIO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Oi e tchau! O cultuado e “difícil” grupo Fellini, famosa ex-banda paulistana, agora banda vivíssima e novamente ex-banda a partir da semana que vem, se junta hoje à noite na cidade para uma apresentação histórica em vários sentidos.
O grupo liderado por Cadão Volpato e Thomas Pappon, que se manteve na contramão do oba-oba do rock brasileiro dos anos 80, comemora em show único em São Paulo os 25 anos de sua polêmica existência. O Fellini, que em sua lista de adoradores tinha Renato Russo e Chico Science e metade da “intelligentsia” acadêmica paulistana (a outra metade, mais Ira!, Titãs etc. compunham a lista de detratores), toca seu art-rock com alguma eletrônica e MPB, hoje, no Studio SP.
“Um outro show será no próximo sábado em Curitiba, dentro do adequadíssimo Festival Rock de Inverno. E aí termina nossa turnê mundial”, diz o vocalista Cadão Volpato, 52.
Você não imagina o que você não conheceu, como diz a letra de “Rock Europeu”, o “megahit” do Fellini. Formada em 1984 nos porões da Escola de Comunicações e Artes da USP, o Fellini fincou pé no underground paulistano da época e de lá não saiu.
Não tocava em rádios, não frequentava o programa do Chacrinha, não era condescendente com o rock de Blitz, Paralamas, RPM ou Barão e sempre tocou para poucos. Tinha nome de cineasta de vanguarda, citava Ginsberg e Gang of Four. E o primeiro álbum, de 1985, tinha o insólito nome de “O Adeus de Fellini”. O Fellini era uma genuína banda indie lá nos anos 80.
“Num tempo em que as bandas tinham nomes mais punks (Mercenárias, Voluntários da Pátria, Plebe Rude), a gente veio com um nome que lembrava esquisitices. Sempre fui um fã do Federico, mas o nome era mais para soar como algo engraçado, o que, de certa forma, definiu nossa conduta, que misturava uma graça contida com algumas atitudes surrealistas e também uma certa poesia”, lembra Cadão.
Mas e as tretas com a cena rock da época? “Sempre estivemos à esquerda desse pessoal todo. O rock do Rio sempre foi um lixo, nós nunca tivemos nada a ver com isso. Os de São Paulo frequentavam a mesma cena, dividiam as mesmas casas noturnas, muitos eram amigos. Mas se eu dissesse que conheço a fundo o trabalho deles, estaria mentindo”, diz o vocalista. “Sobre os Titãs, eu disse uma vez que eles eram os “alternativos de plantão” e eles não gostaram muito.”
Depois de quatro álbuns independentes, a banda acabou, em 1990. Um certo renascimento se deu em 2002, quando gravaram um disco caseiro. Em 2003, flertaram pela primeira vez com o “estrelato”, quando foram convidados a se reunir para se apresentar na edição daquele ano do Tim Festival, tocando na mesma noite de White Stripes e Rapture.
O Fellini que se apresenta hoje em SP traz sua formação original: Cadão Volpato (voz), Thomas Pappon (baixo), Jayr Marcos (guitarra) e Ricardo Salvagni (bateria).
Segundo Cadão Volpato, a banda não pensa em continuar a brincadeira da volta, tão em voga no rock atual. “Não existe essa possibilidade. Estamos bem entusiasmados com esses shows: talvez sejam os melhores das nossas vidas, mas voltar não está nos nossos planos. Acabou. Já era. Mas nunca se sabe.”

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