Reunindo gerações

por Luiz Filipe Tavares

Festival começa na praia de Pituba, em Salvador, com a nata da nossa música em shows gratuitos

A Praça Wilson Lins, na Praia da Pituba em Salvador, recebeu na noite desta quinta (11) o primeiro dia da etapa soteropolitana do festival itinerante Conexão Vivo, que entre ontem e domingo reunirá 55 atrações de oito estados brasileiros diferentes em uma celebração do que há de melhor na música pop e regional do país. E no primeiro dia de evento, um ótimo público esteve na praia para assistir a um desfile de artistas dos mais diversos cantos do país em uma festa que saltava aos olhos de todos os presentes.

Desde o primeiro show, que teve a simpatícissima paraense Juliana Sinimbú convidando seu conterrâneo Felipe Cordeiro (uma das atrações principais do festival Terruá Pará que rolou em São Paulo neste ano), o festival já tomava contornos de baile. Com uma banda impecável, a dupla de cantores brincou com ritmos regionais e roupagem mais pop e colocou literalmente todo mundo pra dançar. Destaque também para os mineirinhos do Black Sonora, que receberam a participação mais do que especial do veterano Di Melo (PE), grande figura do soul e do samba rock do nordeste brasileiro. Trocando uma ideia com o Gustavo, vocalista da banda de Minas, nossa reportagem descobriu que o primeiro CD deles sai de forma independente no mês que vem e conta com a participação especialíssima do rapper e agitador B. Negão.

Outro show impecável rolou com o encontro de Juarez Maciel (MG) e Grupo Muda (MG) com Edgard Scandurra (ex-Ira!), num mix de xote, ska, R&B e rock n' roll, em uma das apresentações mais legais de toda a noite. Mas emocionante mesmo foi assistir o virtuoso violonista Gilvan de Oliveira (MG) receber Armandinho, o rei da guitarra baiana, no palco do festival. Divertindo-se visivelmente, a dupla tocou clássicos da carreira dos dois compositores incluindo “Renascimento” e “Sarajevo”, fechando com um cover instrumental de "Smooth", do Santana, que superou em todos os quesitos a versão original do guitarrista americano.

No penúltimo show da noite, mais mineiros. E esses estavam atacados. O Porcas Borboletas subiu no palco com seu repertório divertidíssimo e botou todo mundo pra pular com se fosse carnaval. Isso mesmo com a imensa maioria do público não conhecendo o trabalho dos caras. Quando o titã Paulo Miklos subiu no palco com eles, então, a casa caiu com “Bichos Escrotos”, “Diversão” e o b-side “A Verdadeira Mary Poppins” , todas do repertório da banda paulistana. Fechando a noite subiram no palco primeiro o pernambucano Ortinho, figura importantíssima da efervescência cultural de Recife nos anos 90, que depois recebeu de braços abertos o mais do que talentoso Pepeu Gomes. Só "Um Raio Laser" e "Herói Trancado" já valeriam o show, mas foram 40 minutos de festa fechando o primeiro dia na praia de Pituba.

Encontros de gerações

Duas dais mais sorridentes figuras presentes no backstage do festival eram Paulo Miklos e Edgard Scandurra. Bem tranquilos, falando com todo mundo, eles aproveitaram um tempinho e comentaram como é, depois de tanto tempo no circuito do rock nacional, viajar ao lado dessa garotada fazendo participações especiais em apresentações de artistas mais jovens e tocando diferentes projetos ao mesmo tempo.

"Essa molecada ensina uma coisa bem legal para mim e para o jeito que eu toco, que é descobrir os limites da simplicidade. É tentar chegar no máximo da simplicidade  e ainda assim deixar a música legal, atraente e interessante", comentou Edgard Scandurra, um músico que toca diversos projetos simultâneos de qualidade desde antes do fim do Ira!. "Hoje, todos os artistas mais novos com quem eu toco, seja a Bárbara, a Karina Buhr a Juliana R… ou mesmo com o Arnaldo (Antunes, ex-Titãs e conterrâneo de Scandurra) , o Pequeno Cidadão, o Benzina… Todos os projetos que eu me envolvo se encaixam no som desta geração. Eles estão todos aí muito mais pela sua música do que por qualquer ansiedade de tocar na rádio, como acontecia nos anos 80."

"Eu aprendo muito com eles. Agora mesmo estava falando com o pessoal do Porcas Borboletas como eles fazem leituras super pessoais das músicas que eu faço a 25 anos, 30 anos", completou Paulo Miklos. "Eles me obrigam a dar cambalhotas e responder esteticamente a esse desafio. Eu me identifico com a maneira deles fazerem essas músicas que eu toco há tanto tempo. E eles fazem isso como um elogio. Eles não estão só fazendo um cover. Eles estão colocando a cara deles em uma coisa que, segundo eles, influenciou tanto o trabalho da banda."

"Quando a gente começou, a nossa música tinha que passar por muitos filtros. Existia sempre a presença do produtor, aquelas composições que precisavam ser mais comerciais. E hoje não é mais assim", continuou Scandurra. "A minha vida inteira eu quis e lutei por uma música assim: que não tivesse tantos filtros de produção e indústria. Muitas vezes nós caímos na armadilha, o que é normal. Fazer sucesso é a coisa mais linda. Mas vejo que essa galera de hoje vê o sucesso como uma decorrência e isso, pra mim, sempre foi uma bandeira."

A etapa de Salvador do festival Conexão Vivo 2011 continua hoje na Praia de Pituba a partir das 18:30h. Quem não puder chegar aqui para assistir aos shows de Três na Folia, Gaby Amarantos e Lenine, pode assistir ao vivo pela internet no canal oficial do festival.

Veja abaixo a programação completa para essa sexta:

12/08 - sexta-feira - às 18h30
Babilak Bah (PB) convida Chico Correa (PB)
Iva Rothe (PA) convida Gerônimo Santana (BA)
Três na Folia - Cláudia Cunha, Manuela Rodrigues e Sandra Simões (BA)
Márcia Castro (BA) convida Mariella Santiago (BA), Mariana Aydar (SP) e Mayra Andrade (Cabo Verde)
Pedro Morais (MG) convida Maglore
Gaby Amarantos (PA)
Lenine (PE)

A reportagem da Trip viajou a convite do festival

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