Dezoito anos é a idade que te dá habilitação para dizer não. Talvez por isso Raissa confesse na boa que não tem ídolos, ideais, nem sonhos
Ela tem pouco mais de 18 anos. É, 18. Idade mágica, perturbadora fase da vida que divide as moças em já, os caras em ainda e os trintões em já-era. E nada deixa alguém mais tiozinho Sukita que uma barely legal como a paulistana Raissa Scalabrin Totume. Ela foi descoberta pela produção da Trip no aeroporto de Guarulhos, quando levava o namorado, Tiago Camarão, campeão brasileiro júnior, ao embarque para uma surf trip na África do Sul. Ela surfa também, desde os 12 anos. Pode ser encontrada nas ondas de Juqueí, Maresias ou São Pedro, no Guarujá. E também faz passes de mágica, como veremos logo mais.
Dezoito anos é a idade que te dá habilitação para dizer não. Talvez por isso Raissa confesse na boa que não tem ídolos, nem ideais, nem sonhos. Que nem tem a menor ideia do que represente sua geração. Acabou de tirar título de eleitor, mas nunca pensou em política, nem sequer imagina quem são os possíveis candidatos em 2010. Não lamentemos. qualquer surfista diferencia melhor direita de esquerda que os políticos profissionais, surfando sempre na onda mais conveniente. Raissa jamais pensou em ser nada específico "quando crescesse", mas hoje, crescida, a preocupação com a ecologia – e com futuras ondas – a conduziu à faculdade de engenharia ambiental, onde acabou de entrar. É tão complicado escolher ser uma coisa pra vida toda aos 18 anos, ela lamenta, a voz doce e suave. Assim que terminar a faculdade, vai zarpar de São Paulo – a cidade cansa sua beleza.
Contudo, beleza não é algo que a encane. Por isso esse lance de ser modelo – você encontra a Raissa em vários comerciais de TV – é mais pela grana. Mesmo assim, ela fez umas eletrolipos na parte de trás das coxas: porque a agência, que exagero, achou uns defeitinhos na moça. Ela não liga para (im)possíveis gordurinhas, mas, se a agência pede, fazer o quê. Outros roxos, ela mostra, estão nos braços – de tanto brincar de trocar porradas com o namorado, depois que ela volta das aulas de boxe (se liga, Camarão). Jura não ter ciúme, não estressa se o amado passa 30 dias surfando a 30.000 km. Gosta de paz, de ficar tranquila, de natureza. Pra variar um pouco, às quintas vai dançar hip hop no Sarajevo, na Ébano, na Clash. Anda louca pelo MC Emicida. E de vez em quando se pega lendo o mago Paulo Coelho.
Passe no repórter
Como quase todo filho de pais separados, ela estranha uma casa vazia; quem sabe um dia lote o lar de filhos, crianças, amigos. Fantasia ir à Indonésia, ao Havaí, à Austrália. Não tem página no Facebook nem conta no MSN, não curte e-mail nem passa mais de meia hora na internet – mas cometeu orkuticídio por causa de um ciumento ex. As pessoas ficam presas demais à rede e acabam perdendo a privacidade. É mais legal encontrar quem você gosta por acaso, na praia. Mas isso também não precisa ser dogma. A única coisa em que Raissa acredita, na real, é energia. Ela segue a religião messiânica Johrei, que crê na transmissão de energia positiva entre as pessoas via impostação de mãos. Vai ao templo toda semana. Fez até um passe no repórter, a quem pediu que cerrasse os olhos. O repórter sentiu uma energia estranha e, depois que reabriu os olhos e viu os olhos amendoados de Raissa, voltou a ter 18 anos.