PECADOS
Verdadeiros compêndios foram escritos sobre as atuações humanas que convencionamos chamar de pecado. Há até uma formalização dos tais “sete pecados capitais”. A mim isso soou sempre como disparate; burocratização do pecado.
Não sei se porque tenho a alma torta ou se porque sou pretensioso mesmo, mas o fato é que não acho esses tais “sete pecados” tão “pecados” assim. Pior ainda: nem sei se acredito em pecados. Eu os cometi todos. Muitos com a maior satisfação, sem sombra de arrependimento. Por vezes pelo próprio prazer de transgredir com as normas e critérios estabelecidos. Outras porque para mim, aquilo que fazia não tinha nada a ver com o conceito que se dava a palavra “pecado”.
Tomemos soberba, orgulho, por exemplo. Nunca pude alijar de meu processo existencial. Foi o orgulho que me deu forças para lutar, conscientemente, por uma ética pessoal e uma dignidade de comportamento. O orgulho tinha que ser mais importante que a dor. Quis ser um homem que eu admirasse (vaidade) e mesmo invejava (inveja) outros homens fossem.
A ira, em outro exemplo, o que seria de mim se eu não sentisse profunda revolta e raiva de tudo que me oprimia? Mesmo acredito que quase tudo de ruim que ocorre, só acontece porque existe muito acomodamento. As pessoas aqui fora não reagem porque não se indignam o suficiente contra o que há de errado. Não brigam e não exigem o que são seus direitos. O silêncio e a negligência da maioria, reforça e alimenta atitudes opressoras. Todos tiranos, na história, contaram com esse fator. Fosse prisão e seria rebelião em cima de rebelião. Muitos morreriam, outros seriam barbaramente espancados e todos sofreriam de alguma forma. Nossos algozes eram impiedosos, mas acreditávamos que só os covardes não se zangam porque temem consequências.
Aqui fora é raro encontrar pessoas reais, dessas que levantam cedo, voltam tarde e cansados do trabalho, que valorizem mais suas liberdades (em termos de participação) que o conforto alcançado com a acomodação que praticam. É mais fácil delegar poderes; pagar (e caro) para que outros lidem com essas coisas. Reclamar, reclamam, mas sussurrado tipo fofocando da vida alheia.
A raiva e a fúria podem trazer a guerra e o desespero, concordo. Mas também é daí que nasce a indignação, a revolução, a cólera necessária por justiça e igualdade entre os homens.
O orgulho, a vaidade, a ira, inveja, avareza, preguiça, gula e a luxúria (qual casamento se garante inteiramente válido sem algo de luxúria? E não é gostoso assim?) podem ser usados tanto para o que há de melhor quanto para o que há de pior. Vedá-los é limitar ainda mais a condição humana, além de ser uma impossibilidade. Não somos santos e muito menos diabos. Embora sejamos capazes de ter atitudes sublimes e diabólicas. A busca do equilíbrio sempre foi a atitude mais sensata, embora nem sempre possível.
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Luiz Mendes
22/12/2009.