Fizemos a pergunta para pessoas poderosas. Veja as respostas
Um ex-presidente da República, um líder dos sem-teto, uma herdeira de banco, um jogador de futebol, um apresentador de TV, uma cantora gospel, um videomaker, um arquiteto, um funkeiro, uma especialista em internet, dois músicos, uma atriz e uma modelo respondem à pergunta
"É o jeito brasileiro de viver. É a malemolência, o espírito festivo, a resignação, o conformismo, a alegria com pouca coisa, a elasticidade de tudo, ou seja, para o bem e para o mal, a gente manda aqui! E o resultado é a nossa cara." Bia Granja, 32 anos, idealizadora do youPIX, festival mais importante da internet brasileira
Crédito: Divulgação
"Os políticos e parcela do empresariado, que tem muito poder também. Vivemos em um país onde o Estado ainda é muito privatizado. Os interesses privados têm influência grande no Estado hoje. Quem manda no país ainda é uma categoria de políticos junto com uma elite financeira que tem influência no poder." Maria Alice Setubal, 63 anos, socióloga e educadora. É uma das herdeiras do banco Itaú
Crédito: Gil Inoue/Editora Trip
"O povo começa a ter poder no Brasil. Fala o que acha e vaia aqueles em quem não acredita. Quem sabe não é hora de organizar um país em vez de organizar 11 jogadores com uma bola? Não é só um ano de Copa, é um ano de eleições. Temos que nos manifestar nas urnas e ir atrás do que a gente acredita.", Mel Fronckowiak, 26 anos, atriz, modelo e apresentadora do programa A Liga, da Band
Crédito: Victor Affaro/Editora Trip
"É a desinformação. As redes são muito rápidas, mas como saberemos se aquilo que se espalha é verdadeiro ou falso? Orson Welles espalhou pelo então moderno rádio que o mundo estava sendo invadido por marcianos, fazendo a população da nação mais poderosa do planeta – os EUA – acreditar piamente na lorota. Como poderia eu afirmar onde está a verdade? Mas Matrix me parece um bom filme para ter uma visão de aonde poderemos chegar." Rafic Farah, 66 anos, arquiteto e cofundador da Escola da Cidade, em São Paulo
Crédito: Ernesto Baldan/Editora Trip
"Recebi o e-mail com a pergunta durante um almoço com um conhecido. Outros três amigos estavam juntos. Achei que seria uma boa ideia perguntar a eles. Pronto, o caos estava instaurado! A Dilma! Que Dilma o quê? É o Lula! Mas ele nem é mais presidente. Mas é quem manda na Dilma. Não viaja, o Lula não apita nada, é só uma figura simbólica. E, quando era presidente, quem mandava era o Zé Dirceu. Acho que ele manda até hoje. Mas o cara tá preso! E daí? Daí que virou carta fora do baralho, filho. A verdade é que o poder tá nas mãos dos mesmos caras há uns 50 anos. Igual à CBF... A família do Sarney manda e desmanda desde sempre. Eu pegava fácil a filha dele. A Roseana? É. Jesus! Eu jamais ficaria com um político. Ah... Eu ia no Aécio, hein? Oi? Acho ele gatinho, ué. Credo! Mas você votaria nele? Não sei. A minha avó votou no Collor porque achava ele bonitão. Que mané votar no Aécio! A família dele também tá na política há mil anos. Tem que dar uma mudada. Por isso o PT tem que sair do governo federal e o PSDB, do governo de São Paulo! Gente, essa coisa PT versus PSDB é pura formalidade. Quem detém mesmo o poder é o PMDB. Eles transformam qualquer governo em refém. Mas o que a revista quer saber é quem tem o poder de verdade. Eu acho que esse povo muito rico tem mais poder que os políticos. Os caras gastam muita grana pra se eleger. E você acha que eles conseguem a grana com quem? Nas últimas eleições, o Eike Batista doou R$ 1 milhão pra campanha da Dilma e R$ 1 milhão pra do Serra. E mesmo assim ele faliu, hahaha! Quem comanda os meios de comunicação também tem poder pra caralho! Desculpa, meninos, mas acho que não rola falar pro pessoal de uma revista que a mídia é foda. Por que não?! Porque eles são jornalistas, fazem parte dessa “mídia”. Vixe! Mal começou a trabalhar na televisão e já tá vendida, Monica? Pois é! Mas vamos mudar de assunto?" Monica Iozzi, 32 anos, repórter, comentarista e atriz
Crédito: Victor Affaro/Editora Trip
"Vivemos numa queda de braço da democracia. De um lado, o povo que vê nas ruas um artifício para exigir seus direitos. Do outro, as forças que nunca quiseram nos dar esses direitos. No meio, os partidos políticos tentando ser mais do que mediadores nesse conflito, barganhando com as oligarquias sujas deste país ou, em raríssimos casos, peitando-as. Quem manda no Brasil? Por enquanto, são as corporações." Marcelo Yuka, 49 anos, músico
Crédito: Divulgação/Daryan Dornelles
"São muitas pessoas. Mas gostaria que a igreja evangélica tivesse mais poder. Acho que viveríamos em um país melhor, com valores melhores, sem tanta maldade, violência ou drogas." Bruna Karla, 25 anos, cantora gospel
Crédito: Rafael Salim/Editora Trip
"Infelizmente, o go-verno! Somos subordinados e obrigados a aceitar as condições impostas. O povo brasileiro quase nunca é ouvido. Eu rodo o país todo e vejo a pobreza e o quanto o governo é injusto com os menos favorecidos. Prefiro cantar putaria a mentir para o meu povo, espero estar vivo para ver um Brasil diferente." Mr. Catra, 45 anos, funkeiro
Crédito: Thiago Lontra/Agência O Globo
"São os mesmos que mandaram sempre. A elite só mudou suas formas, mas conservou secularmente o poder. Eram os coronéis escravistas. Depois viraram latifundiários e produtores de café. Depois industriais. Agora, banqueiros, financistas, empreiteiros. São eles que mandam de fato no Brasil. Qualquer governo faz, em menor ou maior grau, a política que essa elite dita e impõe. Eles pagam as campanhas eleitorais e depois cobram a fatura com o atendimento de seus interesses." Guilherme Boulos, 32 anos, membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto
Crédito: Lucas Lacaz Ruiz/Folha Press
"Quem manda no país é a Rede Globo. Quem tem poder de verdade é o povo, mas ele ainda não sabe disso. Paulo André, 30 anos, zagueiro e líder do Bom Senso Futebol Clube, movimento que luta por melhores condições de trabalho para os jogadores de futebol no Brasil.", Paulo André, 30 anos, zagueiro e líder do Bom Senso Futebol Clube, movimento que luta por melhores condições de trabalho para os jogadores de futebol no Brasil
Crédito: Agif/Folha Press
"1. Dia desses, cruzei com turistas brasileiros no Rio de Janeiro. Um deles fala: “Olha essa mata! O que será que é?”. O amigo responde: “Deve ser propriedade privada”. Todos concordam e seguem em frente. Estavam convencidos de que o natural da mata é ser de alguém, e não de todos. 2. Consegui a receita de biscoito da avó de um amigo holandês. Misturei manteiga com açúcar e temperos. Eu e meus amigos admirávamos os biscoitos de formato rústico. “Que lindo! Parece o da caixinha”. A beleza era se parecer com um biscoito feito numa máquina, com gordura hidrogenada e um monte de ingredientes em pó, desidratado e processados. 3. A Trip me pergunta: “Quem manda no Brasil?”. É óbvio que os donos do país são as empreiteiras, os empresários do agronegócio, das indústrias bélica, farmacêutica e as demais. É óbvio, mas não é natural. E quando nós, os verdadeiros mandatários, retomarmos essa consciência, a mata virgem será desapropriada, o biscoito vai crescer livre na assadeira e o Brasil vai voltar a quem nunca deixou de pertencer.", Rafael Puetter, o Rafucko, 28 anos, ativista e videomaker
Crédito: Fabio Teixeira/Folha Press
"Ainda vejo o controle maior nas mãos das grandes corporações e do verdadeiro oligopólio midiático que existe no Brasil, embora tenha havido uma considerável descentralização nos últimos anos. A banalização da injustiça social gera um sentimento de decepção generalizada, e a grande mídia aproveita essa sensação para manipular a opinião pública em nome dos interesses desse pequeno e poderoso grupo de corporações." Daniel Ganjaman, 36 anos, músico e produtor
Crédito: Alexandre Rezende/Folhapress
"Desde Cabral, o Brasil avança lentamente, mas avança. Ainda assim, quem manda de verdade são os donatários das capitanias hereditárias em suas mais variadas formas: da burocracia, do futebol, das grandes licitações, do bem, do crime... e, é claro, o PMDB, uma espécie de comando central das capitanias. O poder de verdade – infelizmente isso ainda é quase um segredo – está nas mãos do povo. Enquanto a sociedade civil não estiver educada para ter 100% de clareza disso, permaneceremos com a ilusão de que não há nada a fazer senão engolir o sistema de capitanias hereditárias." Marcelo Tas, 54 anos, apresentador de TV
Crédito: Caio Guatelli/Folha Press
anterior
proxima