Pulseiras que Vigiam Pessoas Para Pessoas

por Luiz Alberto Mendes

As Pulseiras do Big Brother

 

                                           Só quem ficou afastado tanto tempo do              

                                      mundo pode amá-lo como ele merece

                                            por pior ele seja.

                                                                                     

De fato, assim concretamente, o Big Brother começou agora. George Orwell, esse profeta do século XX, descreveu um mundo futuro em que as pessoas são vigiadas a partir de suas casas. Hoje o homem tem equipamentos muito mais sofisticados e a vigilância se estabelece na própria pessoa. A tecnologia avançada para escuta telefônica que nem precisa do grampo, é exemplo. Agora vai chegando cada vez mais perto.

Estamos dentro de discussão com prazo de validade vencida. Liberdade. Acreditamos no homem e, portanto em sua liberdade. O homem é uma liberdade a se realizar. Nesse caso, investimos no homem e na expansão de sua liberdade. Ao contrário, não acreditamos que a liberdade humana vá nos levar a nada. Então nos cabe condicioná-la e vigiá-la. Nos Estados Unidos já prepondera a política de “tolerância zero”. Por conta de tal ideologia, detêm um quarto da população prisional do mundo. E é de lá que vem a idéia para a primeira medida efetiva de vigiar o ser humano a partir dele mesmo.

Do que estou falando? Da notícia que circula nos jornais de hoje de que a Secretaria dos Assuntos Penitenciários de São Paulo haver fechado contrato para monitorar 4.800 presidiários que estão em regime semi-aberto. É uma espécie de pulseira eletrônica que será afixada à canela dos presos que saem do presídio para visitar parentes ou trabalhar.

Sei que quase todo mundo acha que isso seja uma medida que inibiria o presidiário de prejudicar a população durante sua readaptação social, naquele regime. Creio até que boa parte dos presos encara o fato até como uma forma de autoproteção, caso sejam acusados do que não tenham feito. E, por conta de tal possibilidade de vigilância, muitos outros no regime fechado poderão agora ser colocados à prova.

Mas, é assim que começa. Primeiro serão os presos que não têm quem defenda sua dignidade humana (não é um cão para andar de coleira). Depois serão os tidos por psicopatas, a seguir os psicótico, os neuróticos... Não vai demorar para que o cidadão comum tenha também sua pulseira eletrônica (já existem até implantes subcutâneos para monitorar crianças). Prata discreto para os homens; ouro adornado para as mulheres. Tudo em nome da segurança, ou do medo incutido na sociedade pelos meios de comunicação. A finalidade é nos prender em nossas casas à mercê de suas publicações e edições. As ruas de nossas cidades já são vigiadas e por onde vamos estamos sendo registrados, fotografados e catalogados.

George Orwell só errou em uma coisa. O tempo. Em “Laranja Mecânica”, Stanley Kubrick profetiza melhor nessa parte. Como sempre, estamos atrasados, isso era para ter acontecido em “1984”...

                                         **

Luiz Mendes

05/07/2010.

 

fechar