por J.R.Duran
Trip #197

No começo do ano o fabricante admitiu não ter como provar os benefícios de bracelete

No começo do ano o fabricante admitiu não ter como provar os supostos benefícios do bracelete que dá equilíbrio físico e mental aos usuários. Meus amigos pararam de usar e não se fala mais disso

 

Nos primeiros meses do ano passado alguns de meus amigos começaram a aparecer exibindo curiosos braceletes no pulso. Eram de plástico, coloridos e pareciam um relógio feminino. O lugar onde deveriam estar a caixa com o maquinário e os ponteiros era ocupado por uma espécie de holograma. Não era um relógio. Era, me diziam, uma pulseira que ajudava a manter o balanço. Feita de silicone e com a ajuda de um secreto sistema de compensação, ou coisa parecida, mantinha o equilíbrio físico e mental. Especialmente físico, me asseguravam. A pessoa utilizava o artefato e se sentia firme como uma rocha. A pulseira agilizava o raciocínio e outras coisas mais que no dia a dia de uma pessoa são mutáveis e difíceis de controlar. A confissão, quase confidência, da utilidade da pulseira era feita por eles ao mesmo tempo em que um pequeno sorriso de superioridade (tipo: “Você ainda não conhece?”) aparecia nos lábios de quem se dignava a contar a novidade.

Fiz questão de não saber muito a respeito do fenômeno. Mesmo depois que figuras como De Niro, Shaquille O’Neal e até Beckham, o jogador que não joga mais, apareceram usando a pulseira. Vi alguns anúncios. De acordo com eles, o objeto era feito para “competidores de elite, guerreiros de fim de semana e eventuais entusiastas do exercício”. Como não pertenço a nenhuma dessas categorias, me senti aliviado em não ter de provar isso usando aquele treco em volta da minha munheca.

DECEPÇÃO

Acontece que no começo deste ano os fabricantes australianos da pulseira emitiram um comunicado dizendo que não tinham como provar que os benefícios que propalavam eram realmente efetivos. Se comprometiam a devolver os US$ 20 da pulseira para quem se sentisse enganado, mas, para isso, era necessário mandar pelo correio o objeto da decepção que ousou desafiar a lógica e a ciência (1).

Meus amigos deixaram de usar o acessório, não se fala mais disso. Nenhum deles se sente pior do que antes, mas um par deles lembra que de certa maneira se sentiam bem com o acessório.

A fé, está escrito, remove montanhas. A fé numa pulseira pode deixar o horizonte mais estabilizado e ajudar a firmar os pés na terra. Tudo depende de você acreditar ou não em você mesmo. Ou nos outros.

(1) Mesmo assim continuo recebendo spams no meu correio eletrônico de pessoas que comercializam a pulseira. É verdade que nas últimas semanas os preços oferecidos têm se reduzido consideravelmente.

 

 

fechar