São Salvador, Bahia
O amigo Milton Julio havia conseguido autorização do Juiz para realizar 40 entrevistas comigo. Ainda estava preso e havia lançado o “Memórias de um Sobrevivente” pela Cia. das Letras. Ele era antropólogo e estava em campo pesquisando. Construímos uma grande amizade nesse tempo. Ele se comprometeu a me levar à Bahia, sua terra, quando eu saísse da prisão. Cumpriu sua palavra inteiramente. A cerca de quatro anos atrás fui a Salvador, convidado pela Universidade Estadual da Bahia, para realizar uma palestra.
Foi momento único quando nos encontramos. Depois foi emocionante contar a seus alunos toda nossa trajetória até chegarmos ali, juntos. Levou-me a conhecer lugares e me apresentou-me pessoas importantes de seu rol de amizades. Entre elas, Stella, grande professora da UNEB. Ela me apresentou o Bobó de Camarão, a coisa mais gostosa que já comi em minha vida. E, depois de longas conversas, afirmou que me colocaria em contato com sua sobrinha. Juliana estava trabalhando com grupos de jovens. A tia considerava importante oferecer minha mensagem e minhas Oficinas de Leitura e Texto a eles. Claro, fiquei encantado com a possibilidade e me coloquei à inteira disposição.
Passaram-se os anos e a fila andou. Fui tão bem naquela primeira palestra que voltei àquela Universidade mais duas vezes, além de uma vez pela Universidade Federal da Bahia. Stella sofreu perda irreparável nesse tempo. Dessas de arrebentar com a vida da gente. Tanto que nem é bom comentar ou lembrar. Recomposta, a já querida amiga retornou ao que havia se proposto com relação às minhas Oficinas e sua sobrinha. Colocou-me em contato com ela. Juliana mostrou-se pessoa elegante e generosa. Provou-se à altura da tia que tem. Certa vez me disseram: “os filhos caminham sobre a honra dos pais”. O caso ai é um pouco mais abrangente. É familiar. A estima foi espontânea; já nos consideramos grandes amigos.
Após meses de muito empenho para conseguir passagens, estadia, pró-labore, hospedaria, Juliana me levou aos Projetos Cipó e Oi Kabum em Salvador. Voltei segunda-feira, depois de fazer três Oficinas com cerca de 120 jovens e conquistado grandes amizades. Stella e depois Juliana, cumpriram o que havia prometido realizar. Amo pessoas que determinam e cumprem o que afirmam. Não importa que seja o fim do mundo, se possível elas fazem acontecer. São as tais que dizem fazer a diferença. Enchem meu coração de esperanças na humanidade. Fazem com que eu pense na possibilidade de um mundo melhor e mais justo para todos nós.
Foi maravilhoso! Principalmente porque era um anseio, uma vontade que se tornou realidade. Os jovens me seduziram, me deixaram completamente apaixonado pelo que faço. Encheram meu coração de ânimo para me empenhar em melhorar meu trabalho. Sim, porque me mostraram que vale a pena. Eu os agradeço do fundo de minha alma por toda atenção e cuidado que tiveram comigo. Renovo aqui meus votos de absoluta dedicação ao meu trabalho de escrever, ler e repassar com prazer tudo o que aprender. Depois dos livros, é o trabalho que tem me salvo.
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Luiz Mendes
06/10/2011.