Pouco papo, muita concentração

por Piti Vieira

Em um esporte dominado por atletas com décadas de experiência, Pedro Calado, 20 anos recém-completados, desponta como um dos nomes mais respeitados no mundo das ondas grandes

Pedro é um surfista carioca tímido e reservado que no outside prefere a concentração ao bate-papo. Por não gostar muito de falar, ganhou da namorada de um amigo o apelido que substituiu seu sobrenome: Calado. (Seu verdadeiro nome, Pedro Pinto, ficou restrito aos familiares.) “Tem uma galera que fica nervosa, tem gente que gosta de ficar conversando, eu prefiro dar uma respirada, ficar longe das pessoas, focado no que eu devo fazer”, diz ele, pelo Skype, direto do Havaí. Em janeiro, dois meses antes de completar 20 anos, Pedro surfou na remada uma das maiores ondas da história em Jaws – uma parede de água estimada em quase 19 metros de altura.

Já na primeira semana em que visitou o Havaí pela primeira vez, aos 16 anos, Pedro foi surfar a onda famosa. Com experiência apenas nas ressacas do Rio de Janeiro, estava tranquilo e se saiu bem. Três anos depois, porém, a situação era outra: Pedro só conseguiu dormir 1 hora e meia na noite anterior e ficou muito nervoso naquele dia grande e sem vento. O auge do swell era à tarde, perto das 14 horas, e estava muito difícil entrar no mar. “Vi coisas que nunca tinha visto em Jaws, galera tomando altas vacas, um volume de água que nunca tinha presenciado ali”, conta ele. “Tentei esquecer isso e sentar o mais atrás possível. Estava posicionado para pegar uma direita, mas veio uma série de oeste, em que as esquerdas ficam gigantes.”

“Assim que desci, olhei para cima e vi a crista vindo na minha direção. Quando ela explodiu, agarrei no colete e não tomei muito tempo de caldo, foi mais pancadaria, mas quebrou a prancha. Só que tomei mais três em seguida. A segunda foi sinistra, fiquei uns 15 segundos embaixo d’água”, diz Pedro, que faz um treinamento específico para aguentar as vacas, um intensivão três vezes por semana quando está no Rio de Janeiro.

Vários big riders, como o havaiano Shane Dorian e o brasileiro Carlos Burle, publicaram elogios para o garoto. “Fiquei assustado com a repercussão. Nunca imaginei que o Shane, meu ídolo, fosse comparar uma onda que ele pegou de tow-in, em 2010, com a minha. Fiquei amarradão, mas não remei pensando que seria uma das maiores ondas já surfadas da história em Jaws. Só vi o tamanho da onda nas fotos”, conta. O feito está na disputa do Big Wave Awards, concorrendo nas categorias Onda do Ano e Remada. Um ótimo começo para quem tem pouco tempo de experiência e os dois pés no chão. “Vou aproveitar muito enquanto der, porque sei que não dá para fazer isso pelo resto da vida”, afirma Pedro. “Quero fazer um curso de pilotagem de helicóptero. É uma parada mais garantida.”

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Imagem principal: Divulgação

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