O que faz o surfe ser um esporte único + íntegra da carta de Neco Padaratz explicando sua ausência de Teahupoo
O que costuma fazer a diferença num campeonato de surfe são as ondas, por isso as provas no Havaí são as mais respeitadas, no Taiti são as mais temidas, na Austrália, as mais tradicionais. Mas outros fatores contribuem para o sucesso. Na Europa, por exemplo, o cenário clássico, a cultura, o povo, a comida conspiram a favor.
Assim como no Mundial, o circuito nacional, Super Surf, também tem procurado realizar suas etapas privilegiando a qualidade das ondas, mas ativos, como o financeiro e os estruturais, pesam.
Torres, RS, sede da segunda etapa do Brasileiro, aliou todos esses e somou o fator humano, a beleza e a simpatia de seu povo. A etapa agradou em todos os sentidos, até porque as ondas surpreenderam.
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Com o novo formato com 80 competidores no masculino e 24 no feminino, a etapa começou na quarta-feira e foi em ritmo acelerado para aproveitar a boa condição do mar e também porque, com a participação de cinco atletas que disputam o WCT, poderia terminar no sábado para que eles viajassem para o Taiti no domingo.
Não foi preciso, Armando Daltro, o último a cair, foi barrado nas quartas-de-final. As baterias finais marcaram duelos de gerações. No feminino as jovens de 18 anos, Suelen Naraisa e Silvana Lima superaram, na prova e no ranking, as experientes Tita Tavares e Andréa Lopes. Na final a ubatubense Suelen levou a melhor.
Também de Ubatuba foi a final masculina. Renan Rocha, 32, fora do Mundial depois de 11 anos na elite, competiu desde as triagens, mas foi superado pelo estreante Renato Galvão, 21, que voltou de Torres com uma Saveiro Volkswagen.
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Se na Prainha, a mais central de Torres, onde aconteceu o Super Surf, as ondas surpreenderam, mais surpresos ficaram os surfistas que foram checar um parcel conhecido como Ilha dos Lobos, bem em frente à cidade, onde quebra uma esquerda grande e tubular. O pico está no alvo dos exploradores de ondas grandes e com o auxílio de jet ski pode se tornar palco de sessões comparáveis a Teahupoo no Taiti. Em breve. Ver para crer.
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O que ninguém vai ver é Neco Padaratz no Billabong Pro em Teahupoo. Desclassificado na terceira fase do Super Surf Neco não embarcou no domingo como fizeram seus colegas. Brasileiro mais bem classificado no Mundial, Neco assumiu em uma carta honesta e emocionada o trauma que tem por aquela onda:
Bem pessoal,
Imagino o que muitos estão pensando e perguntando. Qual será a desculpa desta vez?
Nunca houve desculpa para eu não ir ao Tahiti, sempre falei a verdade. Os problemas que eu tive nos anos anteriores só fizeram com que eu adiasse a decisão mais importante da minha vida. Hoje estou em condições físicas para enfrentar Teahupoo, mas não tenho condições psicológicas para enfrentar o pior fantasma da minha vida.
Eu já havia decidido que não voltaria lá, mas algumas pessoas próximas a mim tentaram me ajudar a enfrentar este problema e por isso adiei até o último momento, ou seja, antes de embarcar neste Domingo. Todos têm medo daquela onda, quem não teria, mas uns conseguem controlar este sentimento, outros não. Todo ser humano tem seu limite e hoje, meu limite é Teahupo e não tenho problemas com outras ondas no mundo. Teahupo é uma onda que não permiti hesitar, pois pode ser fatal a vida de quem tem que tomar a decisão. Hoje não me encontro totalmente preparado para tomar uma decisão sem hesitar neste lugar e minha vida vale muito mais do que aquele prêmio em dinheiro.
Quero me desculpar com as pessoas que decepcionei e que me apoiaram até o fim e agradecer àquelas que continuam me apoiando na decisão mais difícil da minha vida. E aos críticos de plantão que já especulavam sobre isso, quero dizer uma coisa. Não tive coragem de enfrentar aquela onda novamente, mas tive muita coragem para admitir que hoje não estou preparado para isso.
A todos quero deixar claro que antes de tornar-me surfista profissional, meu amor a primeira vista pelo surf sempre foram as ondas grandes. Minha onda predileta é Sunset. Irei especializar-me sobre esta onda e voltarei com convicto de conquistar este meu desejo.
PS: O ano ainda não acabou e tenho direito por regra a dois descartes.
Um grande abraço
Neco Padaratz
A prova no Taiti se encontra no período de espera. Na semana anterior às triagens um swell de 15 pés recepcionou os primeiros atletas que chegaram para a competição. Uma nova ondulação gigante é aguardada, enquanto os melhores do mundo dormem com seus fantasmas.
Por essas e outras é que o surfe é um esporte tão singular.
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