Com um debate sem gravata, o Festival Trip de Política atraiu mil pessoasem pleno domingo
O Festival de Política da Trip atraiu cerca de mil pessoas ao Studio SP, no baixo Augusta, em plena tarde de domingo de GP Brasil de F-1. Foram mais de seis horas de shows, cinema, fotografia e debate político – sério, mas sem gravata.
Dias antes do evento, a apreensão rondava a Trip. Não havíamos conseguido nenhum patrocínio para nosso Festival de Política, e a combinação de previsão de chuva, compromissos familiares de domingo, futebol e GP Brasil de F-1, além de uma suposta falta de disposição da galera para a política, nos deixava com a pulga atrás da orelha. Corta a cena para o dia 18 de outubro. Às 15h, uma hora antes da abertura das portas da casa de shows Studio SP, mais de 100 pessoas se enfileiravam rua Augusta abaixo. Na abertura, às 16h30, já não havia espaço para mais ninguém. A casa lotou desde a primeira atração, uma discussão sobre a relação entre cinema e política. Era tanta gente que mudamos os planos, e a plateia, que poderia ver tudo sentada em tapetinhos, teve que ficar de pé, para caber mais gente. Sim, estávamos errados. Não em relação ao patrocínio, que não veio mesmo. Por outro lado, fez sol, muita gente abriu mão de ver a corrida de Interlagos e, no fim das contas, 976 pessoas - recorde do Studio SP - trocaram o tradicional bode no sofá em frente à TV de domingão à tarde por mais de seis horas de debates, músicas, filmes e fotografias. Tudo com o pano de fundo da política.
“As melhores discussões de política sempre acontecem na mesa do bar. Mas essa é a primeira vez que eu vejo uma discussão de política em cima do palco de um bar”, brincou Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-RJ e colunista da Trip. Ao lado do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) e do cientista político Luiz Felipe d’Ávila, Lemos participou da mesa principal, conduzida por Fernando Luna, diretor editorial da Trip. Antes deles, os diretores Laís Bodanzky e Carlos Nader haviam falado de cinema e política, e a banda Maquinado, de Lúcio Maia (Nação Zumbi), fez o pessoal dançar.
A programação teve ainda uma apresentação de imagens políticas selecionadas pelo fotógrafo João Wainer e intervenções de cinco minutos de personalidades diversas – Mara Gabrilli (vereadora do PSDB-SP), Mario Sergio Cortella (filósofo e professor da PUC-SP), Tia Dag (fundadora da Casa do Zezinho), Marcos Lopes (escritor), Veronica Kroll (dirigente do Fórum de Cortiços e Sem-Teto de São Paulo) e André Fischer (ativista gay e criador do Mix Brasil). Fechando a noite, a banda Instituto tocou suas canções e deu sua versão para “Fight the Power”, do Public Enemy, clássica música de protesto. Na saída, o pessoal ganhou nossa edição de outubro, especial Honestidade.
No fim, ficou o gosto de quero mais e a sensação de que o evento se destacou de forma singular. Ficou também a satisfação de saber que nós, você leitor, a plateia e os participantes estamos em sintonia. Queremos todos que a política mude, para melhor. Interagir e discutir o assunto de forma descontraída, livre e apartidária é um belo primeiro passo. Que venham os próximos.
“Primeiro precisamos ter a capacidade de esperançar; em segundo lugar, os ausentes nunca têm razão; em terceiro, precisamos entender que a finalidade do poder é servir, não ser o serviço de alguém; em quarto lugar devemos ser capazes de superar essa ideia de que alguém tem que fazer alguma coisa – e não nós.”
Mário Sérgio Cortella, filósofo e professor da PUC-SP
“É possível fazer política sem gravata.”
Alexandre Youssef, colunista da Trip
“Eu não sou infalível. Quando erro, corrijo o meu erro. O que a gente precisa é de gente que preste conta de seus erros e conserte-os. Nós somos um país tropical, nunca vão encontrar santos por aqui.”
Deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), se desculpando por ter pago uma passagem aérea para a filha com dinheiro público
“Eu acho que vocês, que vivem da ponte pra cá e estudaram em escola particular, não têm que ter o egoísmo de ficar com esse conhecimento da política só para vocês. Vocês deveriam ir lá pro outro lado da ponte, pro Jardim Pantanal, Capão Redondo, pro Parque Santo Antônio e socializar isso com as pessoas que moram do outro lado.”
Marcos Lopes (escritor)
“Em alguns países a causa dos direitos gays não é uma causa só da militância gay, foi levantada como uma bandeira geral. A sociedade entendeu que esta é uma bandeira que fala dos direitos de todo mundo.”
André Fischer, ativista gay e fundador do Mix Brasil
“Quando Lula fala, está atuando, mas só um pouco. Acho que ele é sincero. Ele fala com o povo da forma que ele gostaria que tivessem falado com ele.”
Laís Bodanzky, cineasta