por Luiz Alberto Mendes

Polícia

 

                                         "Polícia para quem precisa de polícia"

                                                                                               Titãs

 

A frase acima é digna de um poeta da altura de Arnaldo Antunes. Tem um duplo sentido que ao fim vai dar na mesma lógica. Linhas que se separam para se unirem em seguida mais firmes, mais seguras.

Não gosto de polícia (acho que poucas pessoas gostam). Não consigo aceitar um servidor público, ainda mais armado, se achando "autoridade", por princípio. É óbvio que tenho algo de anarquista e que o fato de haver sido um ex-egresso (não sou mais; passaram-se 10 anos de vida social) influencia em meu raciocínio. Não sou isento. Mas sou coerente o suficiente para acordar com todos que, nesse estágio de nossa cultura, a figura do policial seja um mal necessário. Estamos muito deseducados, ainda muito selvagens e não pensamos ou questionamos quanto necessitamos. Somos mais emocionais e menos reflexivos; mais impulsivos e menos racionais. Parece que o presente exige atitude e superficialidade e não pensamento e profundidade. Não dá para aprofundar nada, o tempo urge; é preciso agir, resolver.

O problema é que o policial é vulnerável a toda essa filosofia pós-moderna dominante, como nós. Faz parte da deseducação e deselegância com que nos entre relacionamos. Mas isso não justifica o clima de guerra com que a policia trata a população. Quando o motoqueiro foge do bloqueio, não dá direito ao policial de atirar em suas costas. Ele pode ter fugido por "n" motivos. Pode estar sem documentação, o pagamento da moto pode estar atrasado e ele não quer perder a moto, pode estar de posse de um baseado, assim como pode estar armado. Qualquer motivo para temer a abordagem policial. O que tenha feito, mesmo que tenha roubado, não significa que deva ser baleado e morto para que pare. A vida humana é muito mais preciosa que qualquer contravenção penal, roubo, patrimônio ou o raio-que-o-parta. O que se vê é exatamente o contrário. Nas blits da PM, sempre fica um deles posicionado em uma posição estratégica na saída do local de abordagem, com fuzil, calibre 12 ou submetralhadora, para atirar em quem foge de modo a não errar.    

É mais que óbvio que ninguém precisa de polícia para atirar, espancar e maltratar. Sei que há até quem queira que as pessoas sejam espancadas, torturadas e assassinadas. Alguns até colaboram, covardemente. Precisamos de polícia para nos proteger, nos auxiliar e colaborar conosco, afinal, são servidores públicos. Carecemos da polícia que nos socorre, que defenda nossos velhinhos, nossas crianças e a nós que estamos vivos também. Precisamos de uma polícia cidadã, que realize mais partos que mate bandidos. Não há porque sermos inimigos do policial correto e humano. Quem tem que temê-los são aqueles que estão contra a lei; nós somos favoráveis a uma lei para todos. Inclusive para o policial. Tememos o policial que nos aborda com a arma embalada na mão, pronta para atirar. Tememos que o comandante não se importe como o que sua corporação faz nas ruas e como trata o contribuinte. Tememos ser abordados por policiais que nos agridem, humilham e são capazes até de nos matar se ameaçarmos ir na corregedoria denunciá-los. Tememos os policiais que, em uma perseguição, saia dando tiros loucamente por ai. Eles dizem sempre que as balas perdidas que nos matam vieram dos bandidos. Nós que moramos nas periferias e morros, sabemos que não é bem assim.

De verdade precisamos de uma seleção muito mais rigorosa na admissão de nossos policiais. Necessitamos de um treinamento muitas vezes mais eficiente e que demore o tempo que for preciso para formar os homens que irão nos defender. Carecemos de policiais munidos de tecnologia e não de cassetetes e armas. Afinal, somos contribuintes, pagamos impostos e devemos cobrar eficiência naqueles que serão contratados pelo Estado para nos proteger.

                                             **

Luiz Mendes

30/04/2014.

 

Polícia

 

                                         "Polícia para quem precisa de polícia"

                                                                                               Titãs

 

A frase acima é digna de um poeta da altura de Arnaldo Antunes. Tem um duplo sentido que ao fim vai dar na mesma lógica. Linhas que se separam para se unirem em seguida mais firmes, mais seguras.

Não gosto de polícia (acho que poucas pessoas gostam). Não consigo aceitar um servidor público, ainda mais armado, se achando "autoridade", por princípio. É óbvio que tenho algo de anarquista e que o fato de haver sido um ex-egresso (não sou mais; passaram-se 10 anos de vida social) influencia em meu raciocínio. Não sou isento. Mas sou coerente o suficiente para acordar com todos que, nesse estágio de nossa cultura, a figura do policial seja um mal necessário. Estamos muito deseducados, ainda muito selvagens e não pensamos ou questionamos quanto necessitamos. Somos mais emocionais e menos reflexivos; mais impulsivos e menos racionais. Parece que o presente exige atitude e superficialidade e não pensamento e profundidade. Não dá para aprofundar nada, o tempo urge; é preciso agir, resolver.

O problema é que o policial é vulnerável a toda essa filosofia pós-moderna dominante, como nós. Faz parte da deseducação e deselegância com que nos entre relacionamos. Mas isso não justifica o clima de guerra com que a policia trata a população. Quando o motoqueiro foge do bloqueio, não dá direito ao policial de atirar em suas costas. Ele pode ter fugido por "n" motivos. Pode estar sem documentação, o pagamento da moto pode estar atrasado e ele não quer perder a moto, pode estar de posse de um baseado, assim como pode estar armado. Qualquer motivo para temer a abordagem policial. O que tenha feito, mesmo que tenha roubado, não significa que deva ser baleado e morto para que pare. A vida humana é muito mais preciosa que qualquer contravenção penal, roubo, patrimônio ou o raio-que-o-parta. O que se vê é exatamente o contrário. Nas blits da PM, sempre fica um deles posicionado em uma posição estratégica na saída do local de abordagem, com fuzil, calibre 12 ou submetralhadora, para atirar em quem foge de modo a não errar.    

É mais que óbvio que ninguém precisa de polícia para atirar, espancar e maltratar. Sei que há até quem queira que as pessoas sejam espancadas, torturadas e assassinadas. Alguns até colaboram, covardemente. Precisamos de polícia para nos proteger, nos auxiliar e colaborar conosco, afinal, são servidores públicos. Carecemos da polícia que nos socorre, que defenda nossos velhinhos, nossas crianças e a nós que estamos vivos também. Precisamos de uma polícia cidadã, que realize mais partos que mate bandidos. Não há porque sermos inimigos do policial correto e humano. Quem tem que temê-los são aqueles que estão contra a lei; nós somos favoráveis a uma lei para todos. Inclusive para o policial. Tememos o policial que nos aborda com a arma embalada na mão, pronta para atirar. Tememos que o comandante não se importe como o que sua corporação faz nas ruas e como trata o contribuinte. Tememos ser abordados por policiais que nos agridem, humilham e são capazes até de nos matar se ameaçarmos ir na corregedoria denunciá-los. Tememos os policiais que, em uma perseguição, saia dando tiros loucamente por ai. Eles dizem sempre que as balas perdidas que nos matam vieram dos bandidos. Nós que moramos nas periferias e morros, sabemos que não é bem assim.

De verdade precisamos de uma seleção muito mais rigorosa na admissão de nossos policiais. Necessitamos de um treinamento muitas vezes mais eficiente e que demore o tempo que for preciso para formar os homens que irão nos defender. Carecemos de policiais munidos de tecnologia e não de cassetetes e armas. Afinal, somos contribuintes, pagamos impostos e devemos cobrar eficiência naqueles que serão contratados pelo Estado para nos proteger.

                                             **

Luiz Mendes

30/04/2014.

 

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