Ouvir
Tentava me ouvir por dentro
Sabendo que nada escutaria
Que sou impenetrável
E que estou perdido nessa longa loucura
De ser eu mesmo
E que não haveria salvação para isso
Ouvia sem ouvir.
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Liberdade
Uso a liberdade
Apenas vagamente
Como quem se move
Dentro de um sonho.
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Vida
Fera movida a vapor
Com sua boca bruta aberta
Como planta carnívora
Faz o inferno rentear o chão
Enquanto a lua se perde vazia
Semeando pedras do alto
De sua torre fria.
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Perdido
Olhava à frente
Remexendo passados
Em busca de futuros
Quando visão amarela e mais que viva
De sensíveis florezinhas alegres ao vento
Roubou de meus olhos a atenção.
Quase caindo ao chão
Algumas flores menores ainda
Cintilavam minúsculas gotículas
Transparentes de orvalho.
Haviam sido atingidas
Por agudo filete de raio solar
E prismando as cores do arco-íris
Tremelicavam cambiando cores brilhantes
Como que soltas no ar.
De repente toda aquela delicadeza
Parecia tão necessária à existência...
Estivera ocupado com tudo lá atrás
E tão perdido olhando para frente
Que não percebia a vida vazando
Pelos lados.
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Luiz Mendes
21/08/2010.