por Diogo Rodriguez

Sul-coreano faz documentário para ensinar aos norte-coreanos como é a vida no Ocidente

Em 2009, a BBC dava a notícia de que a primeira pizzaria da história da Coreia do Norte abria em Pyongyang, capital do país. Da Itália, foram importados os ingredientes e os chefs que treinaram a equipe do restaurante.

Hwang Kim, designer sul-coreano radicado em Londres, leu a matéria e achou curioso esse fato em um lugar em que cerca de dois milhões de pessoas dependem de ajuda do governo para comer. Resolveu que todos os norte-coreanos deveriam saber o que uma pizza é, já que só a elite do país pode pagar por uma meia mussarela meia calabresa.

A Coreia do Norte é um dos países mais fechados do mundo. Sob uma ditadura comandada pelo partido comunista local, toda a informação é controlada pelo governo. Hwang sabia que uma das únicas fontes de informação disponíveis sobre o resto do planeta é o mercado negro de DVDs, por onde circulam filmes ocidentais.

Teve a ideia de fazer um falso documentário com cara de vídeo caseiro para ensinar aos seus vizinhos como é viver do lado de fora das restrições. O filme, chamado Star Pizza, é dividido em quatro partes que ensinam como fazer uma pizza e comemorar o Natal, um feriado que não existe por lá.

Foram recrutados refugiados norte-coreanos para treinar atores e tornar o sotaque parecido com o que se fala na terra de Kim-Jong-Il, o presidente ditador local. Eles ajudaram a criar os ambientes para que ficassem parecidos com uma casa normal da Coreia do Norte. Uma vez pronto o filme, Hwang usou contrabandistas para que as 500 cópias do DVD chegassem a Pyongyang.

De Londres, Hwang Kim contou à Trip porque se importa tanto com a Coreia do Norte e como ficou sabendo que os DVDs realmente chegaram a seu destino.

Como você decidiu fazer o Star Pizza

Sempre me interessei por política, sociologia e design. Também me interesso pelas Coreias do Norte e do Sul porque é o último país dividido por conflitos ideólogicos no mundo. Um dia, acidentalmente li uma matéria sobre a primeira pizzaria a ser aberta na Coreia do Norte. Enquanto a população pobre ainda depende de ajuda do governo para se alimentar, as opções de restaurantes para a elite que comanda o país são um pouco mais impressionantes. Comecei a me questionar: "Posso dar pizzas para o povo da Coreia do Norte?". "Posso proporcionar uma experiência do que é a cultura ocidental para eles?". 

Por que o interesse pela Coreia do Norte? 

Desde pequeno me interesso pela política do país. Isso veio dos meus pais, basicamente. Meu pai é sociólogo e minha mãe, poetisa. Mesmo tendo escolhido estudar design ao invés de política, continuo trabalhando entre as duas áreas. 

Você já esteve na Coreia do Norte? 

Não. Só estive algumas vezes na fronteira, perto do rio [Amnok, que delimita a fronteira da Coreia do Norte e China].

Veja um trecho de Star Pizza:

Por que é importante que os norte-coreanos conhecerem a cultura ocidental? 

Desde 1992, a Coreia do Norte tem lidado com questões muito sensíveis como a fome e refugiados ao mesmo tempo em que enfrenta um declínio econômico severo. A população está sofrendo. Através de uma pesquisa intensa, me dei conta de que a melhor maneira de resolver o problema é abrir um caminho para ensinar aos norte-coreanos como se vive do lado de fora. Acredito que o principal ponto para começar a desmontar o governo ditatorial sempre foi o poder da mídia de fora. Em outras palavras, o que é necessário no país é comunicação feita através da mídia. Mas existem tantos tipos de propaganda política nas Coreias do Norte e do Sul e nos EUA. Quero fazer a população pensar sozinha. "Por que não podemos passar feriados como nossas famílias?". "Por que não podemos viajar para fora do país sem permissão?" "Nossa liberdade é verdadeira?" Quero que se façam essas perguntas através de vídeos educativos.

Como os sul-coreanos veem seus pares do norte? 

Todos pensamos que somos um só país. Muitos sul-coreanos se sentem incomodados pela existência de restrições culturais.

Você sabe se seu plano de contrabandear os DVDs deu certo? 

Meu contrabandista me mandou vários vídeos com provas [de que o material chegou à Coreia do Norte]. Eles vieram pela China por outros contrabandistas e ele me mandou por e-mail. 

Pretende disponibilizar o filme na internet? 

Ainda não está on-line, mas logo estará.

É importante que os norte-coreanos pensem que o vídeo foi feito por seus conterrâneos? 

Fizemos um vídeo caseiro porque lá compartilhar um vídeo na internet é algo desconhecido. No mercado negro, conseguem acesso a vários filmes ocidentais.

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