Conversas II
Se quisermos; se ainda soubermos, podemos até vir a conhecer a felicidade. Acredita nisso? Eis a ilusão e a esperança a nos arrastar para essas armadilhas antigas. De certo vai doer, diria eu. E, no entanto, a felicidade, essa espontânea e instantânea que sobrevive uma quimera sabemos, ainda e sempre é viável. É só fechar os olhos; há expressões de vida que ainda se abrem a emoções. Parece que estamos sempre a retornar a caminhos nunca abandonados. De verdade nem sei mais no que acreditar. Vou ai vivendo e pensando conforme a vida for propondo. Não vejo outra saída. Você vê?
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O que esta oculto talvez não interesse tanto e mesmo por isso esteja escondido. Provavelmente o que esta a mostra, se melhor observado, contenha toda a verdade que carecemos. É a isso que me proponho em meus projetos de Oficinas de Leitura e Escrita. Um esforço para entender e sentir o que se vê com mais clareza. Quando a gente vê alguém querido ao nosso coração, não nos contentamos em apenas enxergar. Queremos estreitar no peito, beijar, sentir e saber como vai a mente, a saúde, o coração, o emprego. Isso é leitura: abrangência. E mostrar a prática disso em tudo o que vemos é meu motivo.
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A chuva brilha em seu ímpeto avassalador
De a tudo molhar até encharcar
Talvez uma vontade implícita
De a tudo igualar
Em sua solução líquida.
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Alegrias sem riscos
São como paredes desbotadas
Como sorrisos velados
A horizontalizar felicidades pequenas.
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Tenho a audácia de ser ignorante. Sou íntimo dos erros, campeão em matéria de fraquezas e falhas humanas. Meus limites vivem a me bater na cara. Uso a imaginação e a reflexão continuamente para ultrapassar a cada longo ou curto instante da minha constante ansiedade diante da insatisfação de viver. Não, não sou como todos. Desisti de tentar ser. As marcas, as cicatrizes e o chumbo entranhado que trago do passado vão além de meu corpo. É obvio que o meu presente é diferente de meu passado. Não sou mais uma ameaça social. Concedi, sou capaz de respeitar pelo menos o mínimo necessário, das regras da convivência social. Preciso, desesperadamente, de cada um de vocês que me cabem. Não foi o medo que me parou. As ameaças não me assustam. Antes revoltam e despertam a fúria que adormeci no fundo de minha prisão interior. Não temo o que possam fazer comigo. Conheço a dor como poucos. Aprendi a lidar com ela todos os meus dias. No máximo poderiam me matar. Como a morte é alvo de minha curiosidade, uma experiência a ser vivida, nada mais me atinge.
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Luiz Mendes
15/10/2009.