POEMETOS E PENSAMENTOS ESCONDIDOS
O cão late, o caminhão passa roncando fumaças
E as vozes do dia vão me acordando
Para o tempo a jorrar das torneiras da vida.
Tudo parece guardar um som de quinta
Dia de feira.
Porque tudo que é fácil de ver, pegar
Parece tão difícil de ter ou dar?
Logo cedo não consigo entender.
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É terrível essa vontade moral de ser logo o que há para ser. Amar, ser feliz, criar, produzir e realizar. Tudo isso subsiste em todas as vidas contingentes e nos torna impossíveis para nós mesmos. Além disso, ainda há a consciência de nós; um sufoco que esmaga e que não se pode fugir por muito tempo. Nunca se pode.
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Cavei em mim o instinto de existir
E gritei, enquanto em pedaços breves
A dor se evaporava, recolhida em seu deserto.
Tudo era tão grande e porque quis ser forte
Procurei nascer viçoso
Embora não esperasse nenhum oásis.
As garras da sensatez e os dentes da razão
Como ursos hibernando ou vulcões ativos
Cravaram-se na rocha e na terra
Em vozes pontudas, olhares turvos, amarelados
De quem não conhece a piedade.
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Sentia a boca seca de solo árido avassalado pela tristeza que me dobrava o corpo e pressionava por trás das órbitas dos olhos. O pulmão crispou-se, uma golfada de frio penetrou-o como uma espada, num súbito e áspero ruído. Era uma dor maior que eu.
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Ah! Mas a quantos desejo amar...
Deve ser do tamanho do sentido
De minha duração, na largura de meu espaço
E, sobre o duro calçamento das tragédias do passado
A raiz levanta, respira fundo e segue
Sem olhar para trás.
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Tudo é negro, espesso e flores pardas. Cinzentos ossos que de cemitérios compõem muralhas. Enquanto os olhos vazam em profundo e a boca cansada, sorri calada.
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Estrangeiro em toda parte
Com o passado envolto em névoas
Fujo com meu exército de palavras
E minha alma cada vez menos minha
A fé me fortalece por entre passos trôpegos
Enquanto os mecanismos do relógio
Mastigam o tempo como palitos de dentes
E eu, parvo ou poeta
Venho sobrevivendo esse tanto.
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Nessa manhã ensolarada, sorri em todos os olhos o encanto, a doçura da força de amar de cada um, como o sol brilha no orvalho adormecido nas folhas daquela amoreira...
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Luiz Mendes
30/07/2009.