PENSAMENTOS E POEMETOS ESCONDIDOS

por Luiz Alberto Mendes

POEMETOS E PENSAMENTOS ESCONDIDOS

 

O cão late, o caminhão passa roncando fumaças

E as vozes do dia vão me acordando

Para o tempo a jorrar das torneiras da vida.

Tudo parece guardar um som de quinta

Dia de feira.

Porque tudo que é fácil de ver, pegar

Parece tão difícil de ter ou dar?

Logo cedo não consigo entender.

 

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É terrível essa vontade moral de ser logo o que há para ser. Amar, ser feliz, criar, produzir e realizar. Tudo isso subsiste em todas as vidas contingentes e nos torna impossíveis para nós mesmos. Além disso, ainda há a consciência de nós; um sufoco que esmaga e que não se pode fugir por muito tempo. Nunca se pode.

                       

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Cavei em mim o instinto de existir

E gritei, enquanto em pedaços breves

A dor se evaporava, recolhida em seu deserto.

Tudo era tão grande e porque quis ser forte

Procurei nascer viçoso

Embora não esperasse nenhum oásis.

As garras da sensatez e os dentes da razão

Como ursos hibernando ou vulcões ativos

Cravaram-se na rocha e na terra

Em vozes pontudas, olhares turvos, amarelados

De quem não conhece a piedade.

 

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Sentia a boca seca de solo árido avassalado pela tristeza que me dobrava o corpo e pressionava por trás das órbitas dos olhos. O pulmão crispou-se, uma golfada de frio penetrou-o como uma espada, num súbito e áspero ruído. Era uma dor maior que eu.

                              

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Ah! Mas a quantos desejo amar...

Deve ser do tamanho do sentido

De minha duração, na largura de meu espaço

E, sobre o duro calçamento das tragédias do passado

A raiz levanta, respira fundo e segue

Sem olhar para trás.

 

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Tudo é negro, espesso e flores pardas. Cinzentos ossos que de cemitérios compõem muralhas. Enquanto os olhos vazam em profundo e a boca cansada, sorri calada.

 

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Estrangeiro em toda parte

Com o passado envolto em névoas

Fujo com meu exército de palavras

E minha alma cada vez menos minha

A fé me fortalece por entre passos trôpegos

Enquanto os mecanismos do relógio

Mastigam o tempo como palitos de dentes

E eu, parvo ou poeta

Venho sobrevivendo esse tanto.

 

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Nessa manhã ensolarada, sorri em todos os olhos o encanto, a doçura da força de amar de cada um, como o sol brilha no orvalho adormecido nas folhas daquela amoreira...

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Luiz Mendes

30/07/2009.

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