por Lino Bocchini
Trip #202

Pedro Scooby é uma das maiores promessas da nova geração de surfistas big riders. Com 23 anos recém-completados, o garoto é o mais novo pupilo de Carlos Burle

Pedro Scooby é um cara de sorte. E não digo isso porque ele divide o mesmo teto com Luana Piovani há 5 meses – ok, por isso também. Acontece que o surfista aí do lado, que completa apenas 23 anos agora no começo de agosto, foi adotado por Carlos Burle, um dos maiores especialistas em ondas grandes que o surf já viu. "Desde que Burle me chamou pra ser o pupilo dele, tudo o que tá acontecendo na minha vida converso primeiro com ele. Negociação de contrato, patrocínio, preparo físico... tudo. É realmente um cara que tá me ajudando muito e quer passar o que sabe pra mim, tipo senhor Miagi e Daniel San do Karate Kid", brinca o atleta, que conversou com a Trip no restaurante Diagonal, no Leblon, a poucas quadras do apartamento onde vive com a atriz.

Scooby não foi escolhido por Burle à toa. Nascido e criado entre o Recreio, a Barra e Jacarepaguá, aprendeu a surfar com o pai, que também pegava onda. "Fiquei em pé numa prancha pela primeira vez aos 5 anos, mas nessa mesma época minha família comprou uma fazenda no interior de Minas, começamos a ir direto e eu acabei ficando meio parado até os 11", conta. Quando voltou à ativa, se destacou rápido nos campeonatos locais, principalmente por conta de seus aéreos. Chegou a ganhar dois cariocas e outras competições menores, mas largou tudo aos 16. "Nunca ficava assim, muito feliz, quando ganhava. Mas desisti mesmo de competir quando ganhei de um moleque que veio do Ceará pra surfar. Para ele ganhar aquele campeonato era tudo, de repente era até o dinheiro pra jantar... Fiquei muito mal, e foi ali que resolvi desencanar."

Assumiu de vez então seu lado free surfer e passou a viver como gosta, viajando e pegando onda por aí, mandando aéreos na companhia de velhos amigos do bairro como Diego Silva, Gabriel Pastori e Felipe Gordo Cesarano – todos também surfistas patrocinados. Uma de suas maiores façanhas, aliás, tinha sido uma manobra peculiar que apenas ele e Marcos Sifu haviam feito no Brasil. "Mandei um aéreo totalmente pelado na praia da Reserva", conta rindo. "Um australiano inventou isso e só ele fazia. Na época eu tinha uns 14 anos, fui lá e mandei de primeira, com uma bermuda na cara. Um amigo meu registrou e apareceu até num filme brasileiro de surf, o Foque iu."

Surpresa mexicana

Mas a vida do rapaz mudou mesmo depois de uma surf trip para o México em agosto passado, com o amigo Gordo. Estavam em Puerto Escondido e souberam que um gigantesco swell estava a caminho. Começaram a baixar na praia nomes como os havaianos Mark Healey e Jamie Sterling e o californiano Greg Long, todos entre os maiores big riders do mundo. "Eu tava só olhando aquilo e pensando 'bom, não vou surfar mesmo, tô tranquilo, vou só assistir.' Nem era porque eu não queria, era porque eu não tinha prancha adequada. Aí no dia do swell eu tava lá na areia, o Gordo já tinha quebrado uma prancha e eu pensei alto: 'Caraca, que irado. Quer saber? Acho que se eu entrasse eu ia pegar umas ondas maneiras'". Aí um conhecido que tava do nosso lado falou: 'se o seu problema é prancha, pega a minha e entra'."Ele achou que o colega não fosse. Ele foi e mudou o rumo de sua vida.

“Entrei e o mar tava gigante, muito grande mesmo. Eu tava na água só há uns 5 ou 10 min e veio uma onda enorme... a Maya [Gabeira] tava na água e gritou: ‘vai, vai!’ Eu remei e fui... acabei pegando a melhor onda do dia. Dropei, coloquei pra dentro, por um momento não vi mais nada e de repente eu tava fora do tubo”, conta Scooby, com uma alegria de quem parecia que havia pego a onda ontem. “Quando saí da água logo veio correndo o Twiggy [Grant Twiggy Baker], que já ganhou vários eventos de onda grande, gritando: ‘porra, foi animal!’ E tava a praia toda batendo palma...”. Com esse tubo, Scooby foi parar na final em duas categorias na edição 2011 do XXL Big Wave Awards, a mais importante premiação anual de ondas grandes (Ride of the Year e Tube Award versão remada, ou seja, a de quem pegou a onda no braço). “Não ganhei mas foi demais, eu tava lá na final com 22 anos...”.

“Quando saí da água no méxico veio correndo o Twiggy, que já ganhou vários eventos de onda grande, gritando: ‘porra, foi animal!’ e tava a praia toda batendo palma”

Foi aí que entrou Burle na vida do rapaz. E com ele muitas outras viagens atrás de ondas grandes (Hawaí, Califórnia, Chile, Peru...). Desde aquele tubo mexicano, Scooby vem trabalhando com o único objetivo de passar de promessa a realidade no panteão mundial dos big riders.

Luana e Taiti

Difícil evitar Luana Piovani ao falar de Pedro Scooby. Afinal, o cara mora com uma das mulheres mais famosas e desejadas do Brasil e é flagrado toda semana pelas revistas de celebridades com a atriz. Quando nossa conversa está começando, Luana passa na porta do restaurante e manda um beijinho. A prancha que nos acompanha na sessão de fotos está repleta de mensagens fofas da moça, e o atleta não esconde que vive um momento especial. Seja no bate-papo com Trip, seja no Twitter, onde o casal troca juras de amor direto pra todo mundo ver. “Ajudou muito [o casamento com a Luana], eu nunca tinha vivido isso, é muito louco quando você tem uma paz de espírito”.

E como é entrar no mundo das celebridades da noite para o dia? “Tem o lado chato de uma galera que só quer saber de mim por causa dela. Mas no fundo continua a mesma coisa, meu público é muito diferente do dela. E uma coisa sempre deixei bem claro pra todo mundo: ela é minha mulher Luana, não é a Luana Piovani. Vou sempre defender esse lado, nunca vou querer contar nada pra ninguém. Por exemplo, quando algum jornalista me liga e já pergunta ‘e a Luana?’ digo que não falo da minha vida pessoal e tchau. Mas eu aceito essa situação, é normal. É a profissão dela, ela é muito famosa, então os paparazzi tão sempre atrás mesmo.” E isso tudo não acaba trazendo um efeito colateral positivo de chamar a atenção para sua carreira? “Ah sim... Antes só o público do surf me conhecia, agora de repente tem uma galera que vai saber, que vai olhar uma foto ou vídeo meu pegando onda através dela... mas nem penso nisso, nossa relação é muito de marido e mulher mesmo.”

Esse bom momento pessoal e profissional pelo qual o jovem big rider está passando se traduz na viagem que ele estará fazendo quando essa revista chegar às suas mãos. Poucos dias depois da entrevista, Scooby embarcou para a Califórnia sozinho. Atendendo a um chamado de seu patrocinador (Nike), produziria alguns vídeos promocionais no US Open de surf – onde não compete. Alguns dias depois encontraria com Luana, passariam por Nova York e dali voariam para o Taiti. Surf trip ou lua-de-mel? “Pô, no Taiti tem altas ondas e eu ainda posso curtir com minha mulher num lugar paradisíaco. O que pode ser melhor?”

O que eles acham?

“Fico feliz quando encontro alguém totalmente receptivo, nenhum ensinamento é válido se não encontra um eco. Não acredito que escolhemos pessoas para trocar experiências, mas sim que nos conectamos com quem temos sintonia. Já tive uma experiência muito boa com a Maya Gabeira, que é muito dedicada e profissional. Agora faz um ano que convivo com o Scooby e já evoluímos muito. Sei que ele tem planos e talento para surfar as maiores ondas do mundo, e se eu puder ajudar vai ser um enorme prazer”.
Carlos Burle, big rider

“Falar do Pedro é bem fácil. Ele tem duas das maiores qualidades: é generoso e inteligente. E ainda tem uma inteligência emocional que faz toda diferença, não disputa, gosta mesmo é de agregar. Como surfista, vi ele pouco em ação, mas sei de seu talento pelas fotos e matérias, e posso dizer que o tesão é absolutamente ligado à admiração. Para finalizar bombando meu marido, eu diria que ele é uma mistura de Netuno com homem-aranha...”
Luana Piovani, atriz

“O Pedro tem um surf moderno e power. E em ondas grandes já provou que pode desbancar grandes nomes. Acredito que veremos grandes feitos dele no futuro.”
Marcelo Trekinho, surfista

“Conheço Scooby há 15 anos, do Recreio... São tantas viagens, competições... Ele nunca foi muito focado, mas o surf dele sempre falou por si e calou a boca de qualquer crítico. O moleque está sempre no maior alto-astral e vive a vida do jeito que tem que ser, aproveitando cada minuto.”
Felipe “Gordo” Cesarano, free surfer

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