Pau no preconceito

por Luiz Filipe Tavares

Primeiro boxeador a se assumir gay durante a carreira vence 1ª luta desde saída do armário

O boxeador portoriquenho Orlando Cruz tornou-se neste mês de outubro o primeiro atleta profissional do esporte a assumir sua homossexualidade antes da aposentadoria. Em entrevista concedida no último dia 3, ele virou o mundo do boxe de cabeça para baixo e tornou-se o centro das atenções na categoria peso-pena da Organização Mundial de Boxe (WBO, na sigla em inglês), onde ocupava até a semana passada a quarta posição no ranking da federação.

Ocupava porque no último dia 19, Cruz venceu o mexicano Jorge Pazos por decisão unânime dos juizes, consolidando um cartel de 19 vitórias (sendo nove por nocaute), duas derrotas e um empate e vencendo pela primeira vez desde que saiu do armário. "Eu venho lutando há mais de 24 anos e enquanto continuo a ascender em minha carreira, quero me manter honesto comigo mesmo", ele declarou à ESPN poucos dias antes da mais recente luta. "Eu sempre tive e sempre terei orgulho de ser gay."

Essa declaração, claro, fez chover interesses de reportagens com Cruz, que encontrou mais de 50 repórteres desde essa revelação. A rotina de entrevistas preocupou seus treinadores e chegou a prejudicar seu desempenho na luta, como ele mesmo explicou na coletiva após o combate. Mas sua equipe entendeu desde o começo a importância dessa decisão do boxeador. "Eu fiquei pensando que essa não era uma boa hora, que seria melhor se ele esperasse por um momento em que tivessos meses livres", explicou o empresário de Cruz em entrevista ao The New Republic. "Mas ele disse que queria fazer isso e nós entendemos. Então esqueçam o boxeador Orlando Cruz. Ele é um ser humano antes de mais nada."

Com a vitória, Cruz deve terminar o mês de outubro a frente do australiano Joel Brunker no ranking da WBO. Com isso, ele é um dos três favoritos a disputar o cinturão contra o mexicano Orlando Salido, campeão mundial da categoria desde abril de 2011. Mas a chance de Cruz chegar ao topo ainda depende do desempenho de dois grandes lutadores da categoria: Chonlatarn Piriyapinyo, o tailandês invicto com 22 vitórias em 22 lutas, e o implacável mexicano Miguel Angel Garcia (invicto com 29 vitórias e 25 nocautes).

 

"É isso que eu quero: que o público me veja como um atleta, um boxeador e como um homem em cada sentido que essa palavra carrega"

 

A chance de lutar pelo título ainda pode demorar, mas a importância da atitude de Cruz em assumir sua homossexualidade em um dos esportes mais "machos" do mundo é tão ou mais importante do que vencer um cinturão.

"Eu fiquei muito feliz no ringue", Cruz disse na coletiva após a luta, falando sobre a grande torcida portoriquenha presente na arena. "Eles deram tudo de si e mostraram que me respeitam. É isso que eu quero: que o público me veja como um atleta, um boxeador e como um homem em cada sentido que essa palavra carrega. Quero ser respeitado pelas pessoas, continuar vencendo e chegar a ser campeão mundial por Porto Rico."

Até o boxeador derrotado mostrou atitude de campeão mundial. Após o combate, Jorge Pazos fez questão de afastar qualquer pergunta sobre uma possível crise por ter perdido para um atleta gay. "Eu lutei contra um grande atleta olímpico. Eu lutei contra Orlando Cruz".

No vídeo abaixo você vê os três últimos rounds da luta entre Cruz e Pazos realizada no dia 19 de outubro no Centro Cívico de Kissimmee, na Flórida.

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