O que esta acontecendo?
Somos um país de pessoas silenciosas. Ninguém protesta contra nada. Aceitamos tudo calados. No máximo reclamamos para a família, vizinhos ou amigos. Não queremos confusão. Ansiamos por paz e tranqüilidade.
Também, quando vemos algum tipo de protesto, observamos as forças repressivas atuando com tamanho vigor e empenho que nos sentimos intimidados. Ontem, por exemplo. Estava seguindo pelas ruas do centro de São Paulo a caminho de um jantar com amigos, quando fui surpreendido por enorme tumulto.
Curioso, procurei saber. Cerca de 300 estudantes do movimento “Passe Livre” realizavam um protesto. Parecia uma manifestação pacífica. A finalidade era chamar a atenção do prefeito e dos vereadores para o aumento injustificável da passagem de ônibus de R$ 2,70 para R$ 3,00.
Contornei-os lentamente, com meus olhos cheios de admiração, derramando baldes de carinho por cima daquela gente boa. Aquilo me atraia profundamente. De repente, saídos sabe-se de onde, apareceu um monte de soldados vestidos de cinza. Chegaram jogando bombas de gás lacrimogêneo, espirrando gás de pimenta (“armas químicas”) e dando tiros que, soube depois, eram de borracha.
A princípio aquilo me travou. Lembrei rebeliões em prisões em que as balas eram de verdade e o pau comia solto. Mas, quando a nuvem de fumaça esbranquiçada veio para meu lado, corri até a entrada de um prédio antigo. Encostei as costas na parede e esperei a banda passar.
Os soldados sequer me olharam; sou um “tiozinho”; estavam atrás da rapaziada. O olhar deles era pesado. A missão era apavorar, espancar e “botar pra correr”. Segui atrás, sem conseguir retirar-me daquele conflito. Fiquei do outro lado da Av. São Luiz observando, a mastigar os dentes. Os soldados cercaram o povo na Praça Dom José Gaspar e Galeria Metrópole. Vários jovens foram conduzidos algemados para dentro dos camburões.
Soube hoje cedo pelos jornais que 26 deles foram detidos. O que não acredito é que ninguém tenha se ferido como disseram. Choveu tiros de borracha e borrachadas para cima dos protestantes. Meus olhos ardiam mesmo estando distante do ataque químico. Impossível que não tenham ferido ninguém. Já tomei vários tiros de balas de borracha. Não mata, mas dói demais e machuca de verdade.
O transporte coletivo esta horrível. Temos que pagar mais caro e nem podemos reclamar, protestar ou discutir. O Prefeito, os vereadores e os donos das companhias de ônibus estão blindados. Podem tomar todas as atitudes para responder aos seus interesses. E nós que pagamos por tudo isso, temos que ficar quietos?
Por favor, me expliquem: como é isso? Não é uma democracia? Não acabou a ditadura há décadas? Parece que os poderosos continuam controlando o Estado e o povo através da polícia e dos funcionários públicos. Mas eles todos não são servidores públicos? Que serviço é esse? Preciso saber.
**
Luiz Mendes
14/01/2011.