Os emos da Avenida Paulista

por Luiz Alberto Mendes

 

"Emos"


Quando passo na Av. Paulista, paro para observar os “Emos”. Sempre os encontro reunidos próximo à estação Consolação do metrô. Eles nunca me pareceram estranhos. Algo neles atraia meus olhos demais. Com cabelos escorridos tampando as orelhas, roupas escuras agarradas e seus rostos pálidos parecendo bonecos lembravam algo. Não conseguia saber o que.

De repente fez-se luz e lembrei. A minha geração, na juventude, também era bem assim. Apontávamos para alguma coisa que não sabíamos o que fosse. A única coisa que sabíamos é que não poderíamos seguir nossos pais. Eles nos pareciam cruéis e ultrapassadíssimos. Olhando fotos, vídeos com a imagens dos Beatles, percebe-se enorme semelhança com os atuais “Emos”. Nós alargamos a barra das calças, eles apenas estreitaram.

Fomos completamente rejeitados. Apanhávamos da polícia porque éramos cabeludos e nossas calças, de cintura alta (tipo toureiro), eram apertadas. Houve época em que eles raspavam na marra nossos cabelos longos. Caso não passasse uma laranja na perna, eles rasgavam nossas roupas, batiam e nos prendiam. A geração anterior nos desqualificava. Meu pai nunca me deixou usar cabelo grande e nem calça boca de sino. Dizia que era coisa de veado ou de malandro. Fugi de casa, mas a polícia quando me pegava, raspava careca, rasgava e batia, como sempre.

A moda, a tribo, desapareceu. Mas as idéias, hábitos e costumes permanecem. Dá saudades daquela inocência. Havia muita veemência. Lembro que defendia meu direito de usar o que quisesse e estar como quisesse com unhas, dentes e até balas. Hoje, bem passado dos 50 anos, percebo como era bobo tudo aquilo. Mas defendia um princípio de profundidade: liberdade.

Já cheguei a dizer que foi por querer ser livre demais que vivi quase minha vida toda preso. Claro, era liberdade das selvas. Hoje sei que temos liberdade apenas para escolher o sistema que queremos viver. As vontades são múltiplas ou infinitas e é preciso regulamentar para convivermos civilizadamente. Há que haver sistemas. Afinal nós coexistimos e todos precisamos seguir com nossas vidas.


Essa gente jovem, “os Emos”, se une em tribo pela afinidade de idéias e sentimentos. Sentem-se emocionais demais. Mais que a maioria das pessoas. Até pode ser, já que cultivam emoções, quando que a maioria exercita a razão. O objetivo afunilou-se em produzir e consumir. Fico pensando para o que os  "Emos" sinalizam socialmente. A civilização humana parece cada vez mais dura, calculista e pragmática. Provavelmente eles apontem para um homem mais sensível, mais ligado à emoção que à razão. Um homem que dê valor aos seus sentimentos e ao dos outros. E, portanto, produza uma sociedade mais justa, com mais amor e que seja mais feliz.

Ingênuos? Nós também fomos. Acreditávamos na liberdade. Veja na história a revolução cultural, sexual e racional que produzimos. Só faltou essa parte, a revolução emocional. Quem sabe não venha agora?

                                   

Luiz Mendes

07/10/2010.  

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