por Redação

Como se safar das armadilhas da vida apelando para a ajuda de um velho conhecido: o anjo da guarda

Outro dia assisti na televisão, no programa da Ana Maria Braga, a uma entrevista com Abílio Diniz, dono do Pão de Açúcar. Ele estava promovendo um livro de auto-ajuda que acabou de publicar e, a certa altura, começou a falar de fé.

Lembrou, entre outros exemplos, do acidente de carro que seu filho Pedro Paulo Diniz sofreu pilotando um F-1. Enquanto ele ia falando, a tela mostrava o instante em que o carro de Pedro Paulo dava não sei quantas capotadas e, finalmente, ficava virado à beira da pista com as quatro rodas para cima.

Abílio disse que os minutos foram eternos até que seu filho fosse retirado do carro e fizesse um sinal com a mão para dizer que estava tudo bem. Ele tem certeza de que foi a fé em Deus que o ajudou. Ele deu a entender que foi quase um milagre. Vendo o replay do acidente dá para compreender o porquê de sua convicção.

Fiquei pensando na fé que tenho, a que pratico e que não sei se é capaz de operar milagres. Me lembrei de uma figura que cultivo com carinho e intensidade: o anjo da guarda. Não o de uma companhia de seguros, cheio de piadinhas e gracinhas, mas o de verdade verdadeira. Tudo começou com uma oração que tive de repetir infinitas vezes quando era criança, antes de dormir.

Dizia: anjo da guarda me faz companhia, seja de noite, seja de dia. Acho que a repeti tantas vezes que alguma coisa chegou até o ouvido dele porque, olhando para trás e sem fazer muito esforço, me lembro perfeitamente de algumas vezes em que só com a ajuda do meu anjo da guarda posso ter escapado.

Tenho certeza de que ele estava ao meu lado uma noite, há muito tempo, em que eu estava dirigindo do Farol de Santa Marta em direção a Florianópolis para pegar o último vôo para São Paulo. Tínhamos acabado de fotografar. A equipe toda estava dividida em duas Paratis.

Voltamos debaixo de chuva a uma velocidade absurda. Do jeito que ultrapassei caminhões naquela estrada, só com um anjo ao meu lado posso ter chegado vivo ao aeroporto. O outro carro era dirigido pelo André Andrade e tenho certeza de que o anjo dele também estava de serviço naquele dia.

Piruetas

Me lembro também de um dia ensolarado no sul da Bahia. Estava voando a bordo de um Cesna, monomotor de quatro lugares, em direção a um resort para fazer um trabalho. O piloto começou a fazer acrobacias, apesar de o avião não ser feito para isso, e eu comecei a atiçar mais ainda o cara. Depois de algumas manobras em que todos os alarmes do avião fizeram questão de apitar, o piloto quis me mostrar que conseguia deixar grudada uma lata de Coca-Cola no teto só com a força da gravidade.

Como não deixei que fizesse isso, ele deu um vôo rasante sobre a praia, um pique sobre as modelos to-mando sol na areia (elas saíram correndo) e depois uma subida de 90º sobre as palmeiras da orla. Só com o meu anjo da guarda sentado no banco de trás devo ter podido voltar para casa.

Empurra-empurra

Tenho certeza também de que ele estava a meu lado quando, ano passado, fui pe-go por guardas militares no Congo sem passaporte, sem visto e sem identificação, cheio de máquinas fotográficas e sem nenhuma explicação convincente para dar. Até hoje não sei como é que consegui voltar para Ruanda.

Tenho certeza de que ele estava no estúdio, há muitos anos, quando, fazendo uma brincadeira de empurra-empurra com uma modelo, ela me jogou na direção de uma janela com um vidro de três metros de altura por dois de largura. Me lembro perfeitamente da visão que tive quando ouvi o barulho do vidro se quebrando e senti os pedaços todos caindo sobre mim: a certeza de que, quando abrisse os olhos, estaria com o corpo cortado e cheio de sangue. Porém, nada aconteceu. Nem um arranhão.

Como acredito que, com o tempo, o anjo da guarda fica cansado de ter de agüentar tanta bobagem, tenho me esforçado para que ele gaste menos energia comigo. De qualquer maneira, espero que me faça companhia. Seja de noite, seja de dia.

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