Olha o avião...

por Luiz Alberto Mendes

 

Há pouco mais de um mês das eleições surge um fato inusitado. Um candidato à presidência lamentavelmente morre em desastre de avião e a sua candidata a vice, assume a candidatura à presidência pela legenda do candidato falecido. Logo em seguida, a legenda de Eduardo que conseguia apenas um infausto terceiro lugar, agora com Marina à frente, empata com Dilma, que até então liderava folgadamente nas pesquisas. Um acidente, promove uma reviravolta apaixonada na frágil política brasileira. Parece até que só para provar que nada é definido ou para sempre. Nada é; tudo apenas esta arranjado como nos parece ser. Quem diria que a política brasileira convulsionasse a esse nível, diante da triste queda daquele avião? Houve até aqueles que, insensíveis com a família mãe, esposa e filhos do falecido, pensavam redutivos: menos um inimigo! Como devem estar arrependidos agora...

Helicópteros e aviões parecem transformadores sociais. Alguém duvida que Ulisses Guimarães seria presidente da República, caso não desaparecesse naquele acidente? O que aconteceria então? De um modo ou de outro, estamos agora vivendo essas consequências. Não tivemos Ulisses como presidente; tivemos que nos conformar com Sarnei, Collor e Itamar. Teria ele nos ensinado mais sobre democracia; democrata visceral que era? Teria ele nos passado um Brasil melhor; brasileiro "da raiz até o cabelo", como se dizia? Teria ele se preocupado mais com a educação, com a saúde e a segurança? Teria lutado mais pelo Brasil junto às outras nações; combativo como era? Como poderíamos saber? Já temos o seu legado para a pátria: uma sociedade mais democrática, um governo civil e eleito por uma maioria. Ele foi o grande líder da campanha Diretas já. Em que se pese a mídia que dessa vez parece que se aparelhou a partidos políticos; em que se pese a própria fragilidade da condição humana; ainda assim temos uma democracia. Não a que queríamos, talvez a que merecemos ou a que somos capazes, não sei bem.  

Lendo sobre o plano de governo de Marina, que já começa com essa palhaçada de lançar idéias, como o casamento civil no mesmo sexo e criminalização da homofobia, e depois modificar um plano de governo porque o tal de Malafaia reclamou. Quem é esse explorador, enriquecido às custas da ignorância e alienação do povo, para influir nos destinos da nação? Em qualquer outro país mais civilizado, ele estaria preso e não pressionando candidatos.  Já começa errado cedendo ao vale tudo eleitoral. E se eleita, seguirá os ditames de suas convicções religiosas? Não sei como alguém que lê Hannah Arendt e filósofos até mais complexos pode permitir-se à teologia neo-pentecostal. As idéias em suas entrevistas tem muito mais a ver com o estoicismo calvinista que com o existencialismo de Arendt, que era absolutamente libertário. No mais parece que seu plano atira para todos os lados do que é chamado de politicamente correto. Sugere mudanças. Banco Central independente é uma de suas inovações propostas. Especialistas se preocupam. Segundo eles, seria jogar a economia da nação nas mãos dos banqueiros. O plano acena com promessas de expansão, crescimento e políticas sadias. Acaba com a reeleição para cargos majoritários, por exemplo. Mas não garante alguns avanços sociais e os planos de redistribuição de renda que já existem. Li livros de Eduardo Gianetti, este pensador que elaborou o plano de Marina, e gostei muito. Ele é alguém de profundidade e que tem muito a dizer, sou fã de seus livros. Não sei se vai além da teoria livresca, talvez o momento exija um pouco mais que isso. Gosto muito de Luiza Erundina, mais uma professora, educadora política, que uma política em si. E realmente pode ajudar muito a Marina.

     Pelo visto, agora iremos para o 2º turno. A primeira vez é legal. Um ato cívico significativo, mas a segunda já exige um pouco mais de paciência. E, pelo visto, teremos duas mulheres na disputa. Os homens parece que perderam a vez na presidência. Sempre achei que quando o mundo fosse dirigido pelas mulheres, seríamos mais felizes. Elas sempre foram mais sensíveis. Tudo indica que teremos mais disso por mais quatro anos. Mas, como aconteceu esse acidente, podem acontecer outros, olha o avião...

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Luiz Mendes

02/09/2014.

 

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