OFICINAS E HONESTIDADE

por Luiz Alberto Mendes

CONVERSA

 

Acabo de chegar de Sorocaba. Fui lá acertar, na Coopereso (Cooperativa de Egressos e Familiares da Região de Sorocaba), o que falta de um capital que veio da ONG médico, da Alemanha, para mim. Esse dinheiro vem para financiar série de 10 Oficinas de Leitura e Escrita que eu tenho feito nas Penitenciárias daquela região. Já executei 6 delas. Penitenciária I de Sorocaba; Centro de Detenção Provisória de Sorocaba; e Penitenciária de Iperó. Duas em cada unidade prisional. Agora vou ao Carpen Die (prisão para réus primários de pequenos delitos) e uma prisão de regime semi-aberto feminina na região. Depois parece que vou a Mogi Mirim e Campinas. Nesse momento esta sendo discutido na FUNAP (Fundação de Amparo ao Preso – responsável pelas escolas nas prisões do Estado de São Paulo), a possibilidade da Fundação financiar estadia e hotel para que eu possa aplicar minha Oficina nas penitenciárias das duas cidades citadas acima.

E não acertaram comigo. A conversa deles fez curva. Já é a segunda vez que derrapam na curva. Mandaram que eu voltasse no próximo mês, dizem não ter dinheiro para me pagar. E eu, que já gastei dinheiro por conta para equipar essas 4 Oficinas (papel, caneta, apostilas, livros, etc.) para as quais estou contratado. vou ter dificuldades no meu orçamento. Comprei roupa (Minha roupa é uma linguagem; eles lêem o que visto. Portanto, tenho que estar sempre bem vestido.); faço minha Oficina andando e me movimentando o tempo todo, quero toda atenção de todos. Gasto tênis, sapato, camisa, calça.

Mandaram que eu voltasse mês que vem. Só que minhas dívidas são para esse mês, e não posso deixar de pagar porque senão meu nome vai para o SPC. Foi desonesto. Mas eu vou fazer sim as Oficinas, com ou sem eles. Não vão conseguir me desmotivar. Se não arrumar financiamento, vou até onde agüentar com meu fôlego próprio. Se alguém que me lê agora fosse numa de minhas Oficinas na prisão (vou ver se consigo registrar um filminho que fizemos lá e fotos, aguardem.), entenderia o por que de minha insistência. Os alunos merecem. Eles se dedicam, dão toda atenção e me enchem de orgulho como professor. O preso é o melhor aluno do mundo.

Luiz Mendes

14/08/2009.

 

 

SER HONESTO É AMAR

 

Às vezes acho que, ou estou ficando louco ou estou começando a entender as coisas. Como duvido que seja realmente possível compreender nesse plano de visão nosso, louco é a opção. Julgue você:

 

Estava pensando no tema deste mês da TRIP que é honestidade, e como acredito sinceramente que ler é amar (e já escrevi sobre isso, se quiserem ver o texto, é só colocar no comentário ou me acessar pelo e-mail: lmendesjunior@gamil.com), também agora chego a conclusão que ser honesto com as pessoas é uma forma de amá-las. Quando amamos somos honestos até o ultimo fio de cabelo. Não dá para deixar de dizer nada. Tudo tem que ser absolutamente claro. Cisco de dúvida pode causa estardalhaço estrondoso. A gente acaba até dizendo o que não devia dizer, porque existem circunstâncias que ser honesto pode significar crueldade. Você pode massacrar alguém que acha que te ama com sua verdade. Mas também, sem esse massacre não é possível amor. Gilberto Gil, poeta maior, diz sobre o amor:

 “ O amor é como grão

    Nasce, morre

    Pão.”

Por amor a pessoas, você não consegue ser desonesto com elas completamente. É possível enganar de verdade uma mãe muito amada? Claro que é. Quem nunca mentiu ou enganou a mãe? Mas dói, e fundo. Não conseguimos ser desonestos com quem amamos sem dor. Porque é também uma traição à confiança, um ato de desamor. A confiança é a base tanto do amor quanto da honestidade. É o contrário da corrupção que desagrega, tornando-se a base da mentira e do desamor.

 

A honestidade é tua forma

De, silenciosamente, a partir de você

Sem que ninguém saiba

Amar você.

 

Luiz Mendes

Agora, instantaneamente, às 17:10 de 14/08/2009.

 

 

 

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