O surf chegou lá

por Carlos Sarli

A grande cobertura da etapa brasileira do WCT

Mesmo para quem não gosta e não entende de surfe foi difícil escapar da ampla cobertura que a mídia fez da etapa brasileira do WCT, o tour mundial. Nunca antes a imprensa imediatista nacional (TVs, jornais, sites) havia dado tanta importância ao evento, que é mesmo o mais importante do ano e desta vez também serviu para definir o campeão da temporada.

Emissoras abertas e fechadas e cadernos de esporte dos principais jornais do Brasil estavam in loco (e muitas vezes ao vivo) para reportar o que se passava nas areias e nas ondas de Santa Catarina. Um bacanal midiático que, para pessoas como eu, surfista desde a metade da década de 70, se trata de algo memorável.

Para se ter uma idéia, amantes das ondas de alguns anos atrás (e não é preciso retroceder aos anos 70 porque há cerca de uma década a condição ainda era a mesma) se queriam ficar sabendo sobre algum campeonato de surfe deveriam estar na praia em que ele se realizava ou se contentar em ler a respeito um mês depois em revistas especializadas. Esperar pelo dia em que o esporte que amamos ganharia status de popular e seria merecedor de uma cobertura digna de boleiros era esperar pela chegada do messias dos mares.

É claro que nada acontece de graça e que tanta cobertura só rola se há retorno financeiro. O mercado ligado ao surfe, assim como os surfistas dos anos 70, cresceu e amadureceu. Éramos apenas garotos sonhadores, hoje somos empresários, muitos do setor. Os campeonatos se multiplicaram, a grana envolvida também, o número de praticantes aumentou consideravelmente e, nessa roda do progresso, era inevitável que televisão e jornais de grande circulação fossem, alguma hora, querer entrar no giro. A chegada deles fecha esse ciclo e promete fazer desse esporte um dos mais populares do Brasil. Condições geográficas e humanas sempre tivemos, e a financeira vamos lentamente conquistando.

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E mais uma vez o título mundial foi decidido no Brasil. Com a precoce eliminação do australiano Joel Parkinson, Andy Irons pôde comemorar o tricampeonato sem nem mesmo precisar entrar na água. Com o resultado, Irons já faz sombra ao tetra de Mark Richards (1979, 80, 81, 82 - que à época parecia insuperável) e ganha motivação para se aproximar do recordista Kelly Slater, seis títulos mundiais.

Para quem acompanha Irons desde o começo de sua carreira é curioso vê-lo ser tão imbatível. Nascido e criado na pequena ilha de Kauai, arquipélago havaiano, ele tinha o mar como quintal e nada mais natural que se entregasse às ondas. Mas quando, em meados dos anos 90, entrou na divisão de acesso ao WCT, o WQS, não conseguia manter a regularidade, alternando momentos espetaculares com outros ordinários. Se tratava apenas de um surfista talentoso, como muitos do tour, mas sem nenhum método.

Em 98, após a conquista do Mundial Júnior, ele finalmente chegou ao WCT, mas não se manteve na elite e voltou à divisão de acesso. Foi em 2002, mais maduro e menos arrogante (ele era conhecido como um dos mais antipáticos do tour), que ele alcançou seu primeiro título mundial. Desde então, a regularidade tem sido seu forte. Mais humilde, sociável e simpático, Irons acena para outros mundiais e pode, se mantiver a cabeça no lugar, se tornar um dos maiores surfistas da história.

NOTAS

MAIS WCT

O australiano Taj Burrow ficou com o título do Nova Schin Festival ao vencer o conterrâneo Tom Whitaker. Os brasileiros Renan Rocha e Tânio Barreto, ambos participando como convidados, completaram o pódio.

FOI MAL

Os brasileiros não souberam aproveitar a perna nacional do tour. Faltando só a fase havaiana, temos apenas seis atletas classificados para 2005, nesta temporada são oito.

PÁRA-QUEDISMO

Criado em 1978, o Brasileiro de Formação em Queda Livre, começa neste sábado em Campinas (SP) nas categorias 4, 8, 16-way, e vale como seletiva para as provas internacionais de 2005.

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