O princípio dos Coletivos

por Luiz Alberto Mendes

Quando a gente lê sobre a grandiosidade da história antiga da Grécia, nem acreditamos na Grécia que temos atualmente. A Grécia de golpes militares (Papadopolus era ditador militar), quebras contratuais, corrupção, calotes econômicos e sendo um dos países mais pobres da União Européia. A mesma sensação nos atinge quando vemos as pirâmides egípcias e temos notícias de sua civilização. Não conseguimos correlacionar o passado com a atual civilização daquele país. São completamente opostas, embora não excludentes.   

Mas um detalhe dos gregos antigos ressalta  em sua história: o amor a seu país. Os gregos amavam tanto suas cidades que preferiam muito mais a morte do que serem separados de suas culturas e comunidades. Ao assistimos o filme "300" vemos a força e a convicção com que enfrentam o exército Persa, completamente superior, até a morte. Só então começamos a entender o quanto aqueles homens valorizavam suas cidades. Claro, é um exagero; o filme extrapola o possível. Hoje esse episódio é uma fábula, mas uma fábula verdadeira, a história registrou e documentou: em menor ou maior grau, eles realmente foram heróicos.

Sócrates, o grandioso sábio, foi condenado a escolher entre a morte ou o exílio, por "perverter" a juventude de seu tempo. Ou seja; ele falava do absurdo dos costumes e desacreditava dos tais deuses frontalmente. Provavelmente, se muito de nós vivêssemos naquele tempo, com a mentalidade que temos hoje, faríamos o mesmo. Acabou por escolher a morte. E a viveu (protagonizou sua morte) junto a seus amigos, bebendo cicuta. Para ele era preferível morrer a estar longe de seu meio ambiente.

Provavelmente seja essa a idéia de coletivo. Mais para "tribo" de afinidades. Um lugar onde a gente deseja estar porque lá estão as pessoas que pensam parecido com o que pensamos e gostam das mesmas coisas que gostamos. Sentimos até um alívio em lá estar. Talvez não tenhamos vindo a esse mundo somente para nos tornarmos ricos e possuirmos todo conforto que o mundo possa nos oferecer, como a maioria de nós é levada a pensar. O mundo para mim tem sido uma ponte, uma passagem, jamais uma moradia. Sempre me senti deslocado e sofri demais por conta de minha estupidez. Não tem sido nada agradável minha passagem por aqui. De alguns anos a essa parte até que nem posso reclamar muito. Afora o preconceito que me magoa, fere e bloqueia profissionalmente, o resto, nos últimos tempos, tenho seguido numa boa. Só o corpo que começa a apresentar dores e limites não antes conhecidos: constato, surpreso, que estou ficando velho.

Não dá para compreender o mundo e a história humana. Somos pequenos, limitados e finitos demais para tal desiderato, eu acho. Compreender o que acontece no mundo todo, é reduzir o mundo e nós mesmos às acanhadas dimensões da compreensão humana. Na verdade, antropomorfizamos quase tudo, já que não temos outros parâmetros que não nós mesmos. Então, vamos aqui conversando na medida em que forem surgindo os assuntos...

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Luiz Mendes

01/09/2014.   

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