Passado
Tenho um problema sério com passado. J.P.Sartre afirma que: “Não importa o que o mundo fez a você; importa o que você faz com o que o mundo fez a você.” E desde que li e entendi, nunca mais tive dúvidas a respeito. O hoje não se cabe em si mesmo de tanto, e ainda vive congestionado de ontens.
Acredito que o passado só importa na medida em que contêm a experiência e o conhecimento. Um homem não pode ser julgado por seu passado. Ele não é mais aquele homem daquele passado que esta sendo julgado. Somos camadas sobrepostas de nós mesmos. A cada camada, somos outro. Tudo que nos penetra nos revoluciona e faz de nós outros. Aprender é moldar o outro que seremos. Somos fluência, não estamos estagnados em ser isso ou aquilo. Somos isso e aquilo e muito, mas muito mais possibilidades de ir nos compondo. Somos a arte e o artista. Estamos na pedra, no cinzel e na idéia que nos compõe.
Não importa se determinado homem tenha sido um carrasco nazista e tenha exterminado milhares de pessoas. Importa se hoje ele contribui socialmente. Interessa se luta pela preservação da natureza e pelo bem da humanidade, por exemplo. E se o que ele faz hoje projetará algum ganho futuro para a espécie ou para o planeta. A vida tem que ser resolvida no presente. Não pode mais ser deixada para o futuro como foi feito pela gerações anteriores.
Não devíamos nos preocupar tanto com vingança, essa mola propulsora de quase todos os atrasos humanos. Há exemplos na história. Quase todos os grandes homens tiveram passado questionável. Em sua autobiografia “Minha vida e minhas experiências com a verdade”, Gandhi conta das grandes falhas de seu caráter e sua luta para vencê-las. Demonstra claramente que o Gandhi que conhecemos da “não violência”, é produto de dessa luta. Francisco de Assis tem uma história de guerreiro; Paulo de Tarso havia mandado matar cristãos como os romanos, antes do episódio da Estrada de Emaus. Agostinho mesmo se dizia um devasso antes que Mônica, sua mãe, o consagrasse. Depois se tornou um dos principais teólogos e filósofos da cristandade. E vai por ai afora.
Não sei como também não se condenar, já que o passado contém a referência e indica o erro. Sem referência e erro diminuem as possibilidades de acerto. Mas condenar o homem pelo seu passado não me parece mais lógico. O passado foi, o futuro será e só o presente é, esta sendo; precisamos inventar algo novo nesse sentido.
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Luiz Mendes
17/06/2010.