Há muitos tipos de crimes que o ser humano pode cometer. Mas a maioria deles tem uma única raiz. A desconsideração pelos outros. A pior das desgraças humanas é pensar que os outros seres humanos não têm importância, que os outros não significam nada. É dai que nasce qualquer outro tipo de crime. Quando não vemos a outra pessoa como igual a nós, damos o primeiro passo para desqualificá-la e deixá-la à mercê do que quer que se faça contra ela.
Foi desse modo que ocorreu o holocausto; eram "judeus" e o preconceito contra eles era enorme. Primeiro eles os confinaram em guetos, sem liberdade, sem espaço e lhes roubaram a dignidade humana. Depois os mandaram em trens, como gado, para as câmaras de gás. E é assim que é feito com os palestinos agora; são "terroristas" e contra eles vale tudo. Tomam-lhes o território, prendem ou confinaram à tendas no deserto e então, só então, começam a dizimá-los, destituídos que foram de suas humanidades.
Esse é um crime lesa humanidade. Gente que não vê gente nas outras pessoas. Não parece, mas a indiferença é o maior dos males humanos possíveis. Deixam que crianças vivam nas ruas, durmam nas calçadas e comam lixo de restaurantes, e assim, dissolvendo-as de suas humanidades, permitem algo monstruoso como foi a chacina da Candelária. É confinando pessoas em barracos pendurados nos morros, de ruas estreitas e esgoto a céu aberto que se desumaniza e se dá chances a uma chacina como a de Vigário Geral. Foi enfiando policiais de rua dentro da prisão, com armas automáticas e preparados para confrontos armados, que se facilitou o massacre de 111 pessoas desarmadas na extinta Casa de Detenção de São Paulo. Assim como aconteceram e acontecem 0s massacres dos índios, dos sem-terra e de todas as pessoas assassinadas pela indiferença pública.
É dessa maneira que são mortos diariamente jovens negros e pobres (de cada três jovens assassinados no país, dois são negros e pobres, relatório do IPEA) nas periferias, morros e favelas das grandes capitais. Porque pessoas comuns são levadas, pela mídia irresponsável, a julgá-los desimportantes, insignificantes, diferentes de si e assim abrem mão da moral, do respeito pelo outro e da condição humana que possuíam até então.
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Luiz Mendes
03/02/2015.