O luxo de cada um
Por Redação
em 12 de setembro de 2012
O que tem valor para você? O que sua àrea de atuação tem de mais valioso na tarefa de transformar o mundo em um lugar melhor para todos?
A Audi fez essa pergunta a seis pessoas, entre famoso e anônimos. Leia os dois primeiros depoimentos: de Charles Gavin e Ciro Pirondi.
Por Carlos Eduardo Freitas e Carla Vianna
Estamos acostumados a vê-lo na “cozinha” dos Titãs, tirando o couro da bateria, mas há cinco anos Charles Gavin serve outras (finas) iguarias, no comando de Som do vinil. O programa que vai ao ar semanalmente no Canal Brasil já coleciona cem edições de bate-papos agradáveis em torno de célebres álbuns da música brasileira. Sim, o baterista que faz parte da turma que chacoalhou o rock’n’roll brasileiro nos anos 80 dedica-se, e muito, à recuperação da memória da música, com dois livros publicados: 300 discos importantes da música brasileira e Bossa nova & outras bossas: o design das capas do LPs.
Qual o biscoito fino que ele gostaria de servir para as massas? “Pixinguinha! Onde estão os discos que ele gravou? E os de Jacob do Bandolim, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro?”, questiona. Para Gavin, luxo na música seria dar a todos acesso às gravações de personalidades essenciais da música brasileira que caíram no esquecimento. “Esse patrimônio não pode permanecer inacessível sob a desculpa de que não vende”, e explica: “A situação atual da música brasileira lembra a de nossas florestas – sua exuberância e diversidade não são indestrutíveis. Elas precisam de uma política de proteção moderna e efetiva. A música que se faz hoje depende da música que foi feita há anos, décadas atrás. Precisamos dela como fonte de inspiração e renovação”.
E, se é para se dar ao luxo, o músico sonha com a criação de uma escola de excelência onde a música seja ensinada de forma mais abrangente, onde todos os gêneros sejam estudados e a instituição se preocupe com a formação de valores morais. Sob o prisma da criação e difusão musical, ele vê a cena independente de Recife como um modelo de economia criativa para outras cidades. “Lá a prefeitura incentiva, auxilia e se associa a músicos e produtores locais.” O músico e pesquisador também gostaria que houvesse uma revisão da política tributária que incide sobre a gravação e comercialização. “A taxação de impostos está desatualizada há décadas, é incompatível com a realidade do negócio do disco e, como ocorre em outras áreas, sufoca o setor de forma agressiva, quase letal.” Luxo? Nesse caso, talvez nem tanto: “A economia brasileira atravessa um ótimo momento, mas é inversamente proporcional ao de nossa indústria fonográfica”, conclui.

Ciro Prondi
Destampar os rios, acabar com os shopping centers e com os condomínios fechados. Essa é a ideia de luxo para as cidades de Ciro Pirondi, provocador nato e idealizador da Escola da Cidade, uma faculdade de arquitetura e urbanismo criada no sistema de cooperativa entre professores e alunos. Ciro foi o presidente mais jovem do Instituto de Arquitetos do Brasil, a convite de Lina Bo Bardi; assinou o estudo de revitalização do Copan, nos anos 1990, a pedido do próprio Oscar Niemeyer; e hoje está no comando da execução do Plano Diretor de Paraisópolis, em São Paulo, uma das maiores favelas do Brasil. Experiência declarada, ele acredita que uma cidade como São Paulo já pode se dar a esses e muitos outros luxos: abrir espaços de ar, de verde e de silêncio em terrenos abandonados, por exemplo.
“Com a lei do uso social do solo e parcerias com a iniciativa privada, em um ano seria possível fazer mais de 300 praças.” Para Ciro, essas medidas hoje parecem privilégio das cidades dos outros, para onde compramos passagens em busca de uma beleza que não encontramos aqui. Mas não precisa ser assim: “Só precisamos de coragem para rever erros históricos”, sugere. Para completar o cenário urbano ideal para Ciro, só faltaria extirpar o que ele considera “dois cânceres” surgidos nos anos 1980 e 1990, os condomínios fechados e os shopping centers.
“Todo mundo falava ‘vamos cair fora da cidade ou construir muros altos que nos garantam segurança’”, ele lembra. “Mas sempre fi cou no ar a pergunta ‘o que tem depois do muro?’ Ora, a cidade”, ele responde. Para Ciro, a ideia é simples: “Onde tem vida e ocupação organizada, não há insegurança”.
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