Um Jogo Injusto
Fiquei incubado socialmente a minha vida toda. Nasci para o mundo social há praticamente sete anos. Agora, depois de apanhar bastante, começo a vislumbrar como a vida se processa. E tudo me parece um jogo muito injusto e perverso.
É tal como estivéssemos todos em uma mesa jogando cartas. Mas que, de acordo com regras ocultas, apenas um grupo bastante restrito de jogadores pode sempre jogar de mão, embaralhar e dar as cartas. Esses vencem quase sempre, obviamente.
Os perdedores, que às vezes podem ganhar uma ou outra jogada para estimular, perdem sempre ao final e ao cabo. A esses resta duas atitudes: a conformação ou a revolta. A maioria opta pela conformação. Para eles é importante conservar as migalhas obtidas a custo de tantas perdas pessoais. Sua lógica é quase irresistível. Ficam em um estágio alimentando esperanças de em breve alçar outros patamares. A esperança de todo jogador. O signo de vencer esta cravado tão fundo na natureza humana que todas as inúmeras perdas anteriores ficam absorvidas por uma eventual vitória.
Alguns não conseguem seguir o mesmo tambor que segue a maioria. Naturalmente se revoltam contra regras injustas e querem virar o jogo. Não saltam como cães adestrados e salivantes aos estímulos que lhe são lançados. Enquanto os demais competem ansiosos, eles os olham desesperados. Pensa em como fazê-los entender que somente se recusarem a jogar, não competirem por migalhas que caem de mesas fartas, é que conseguirão reverter as regras do jogo e ter uma chance justa de vencer de verdade.
Aos primeiros resta uma vida medíocre e de segunda mão. Para os demais, estigmatizados como inadaptados e perigosos, o direito, a polícia, as balas e a prisão.
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Luiz Mendes
28/06/2011.