por Luiz Alberto Mendes

 

O homem sem fé

 

Quando crianças, tudo o que temos, além da vida que pulsa dentro da ansiedade por ser vivida, é a fé. Uma fé ingênua e dependente de seus próprios objetos. Fé em nossos pais, nas pessoas que nos cercam, no amor, na justiça e na vida em si. Com o tempo, cada uma dessas bases de nossa segurança e crença vão sendo frustradas, abaladas e findadas. As desilusões e desapontamentos nos remetem a um processo de isolamento. Os nossos pais não são perfeitos; as pessoas nunca corresponderão às nossas expectativas; o amor e a justiça não serão permanentes, muito pelo contrário; e a vida é líquida, escorre segundo suas próprias necessidades. Esse sentir-se só nos levará, necessariamente, a uma identificação pessoal; à emancipação de nossas fontes de segurança e fé; e assim iniciamos o processo de maturação natural e por fim à liberdade. Geralmente não conseguimos completar o ciclo da libertação aqui descrito como um processo natural. Somos falíveis e imperfeitos. Por isso vivemos com esse sentimento de incompletude, frustrados e desapontados para o resto de nossas vida, a procura de algo que não sabemos o que seja mas que carecemos. Sofremos e fazemos sofrer por conta disso. Perdemos a fé na vida, nas pessoas, no mundo e nos fechamos em individualismos doentios. Frequentemente tentamos superar  esse desespero que nos acompanha na busca frenética pelos objetivos eleitos pelo consumismo imperante. Dinheiro, coisas, poder, prestígio, domínio e controle sobre os outros. Eis o cidadão tido como "normal", produto de mal formação e que as "religiões", o marketing e os sistemas de "informação" dominam. O homem sem fé.

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Luiz Mendes

23/07/2015.

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