O Hábito: cobertor anestesiante

por Luiz Alberto Mendes

 

O Óculos e o Hábito

 

É preciso tirar os óculos para poder enxergar. Parece ilógico. Óculos pode ser somente para perto e embaçar a visão para longe. Eu, por exemplo, preciso de óculos até um metro apenas.  

Do mesmo modo as soluções pessoais são apenas para questões pessoais. Não são soluções para as outras pessoas. Atrapalham até. Não podemos continuar infantilmente a nos tomar como a medida do outro. Por outro lado, como mensurar senão a partir do que sabemos de nós? Impossível. Somos nosso primeiro laboratório, primeiro campo de reconhecimento. Através do que sabemos de nós reunimos signos, informações, palavras, idéias e pensamento para aprender sobre a outra pessoa.

Busco tirar os óculos que me atrapalham enxergar para além de mim. Além de meu metro quadrado. Além do habitual. O hábito é uma capa, um véu com o qual venho me encobrindo. Quase um cobertor a aquecer todos os cantos, anestesiante, escondendo a vida de mim. Sou eu sendo enganado por mim mesmo. E a vida exige ver além, migrar de nós, retirar a cobertura que envolve o resto do mundo. Tento incorporar a vida toda em um movimento subterrâneo e imperceptível aos outros. É algo só meu.

Creio que a melhor solução é nos permitirmos. Atravessar e ser atravessado por tudo e por todos que encontrarmos pelos nossos caminhos. Encontrar aquilo que não é familiar, comum. E que, em sua força, nos arrebate e nos arremesse para uma atmosfera de admiração por tudo e por todos nesse mundo.

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Luiz Mendes

27/07/2011.

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