Jojó de Olivença, ex-campeão brasileiro, quer levar a cultura surf aos jovens nigerianos
Harry Potter não faria sucesso na Nigéria. O ex-campeão brasileiro Jojó de Olivença apresentou o surf a jovens do país que foram acusados de “Bruxaria” e expulsos de casa. Ele garante: volta em breve para instalar de vez a cultura do surf por lá
As crianças estavam curiosas. Nunca haviam visto aquele objeto antes, e agora um “branquelo” desconhecido vindo de outro país tentava convencê-las de que era possível deslizar nas ondas em cima daquilo. A maioria sequer sabia nadar, dificilmente se arriscava a entrar no mar. Surfar então, jamais. Mas esse era o objetivo de Jojó de Olivença, bicampeão brasileiro de surf e um dos primeiros surfistas de Cristo do país, quando embarcou rumo à Nigéria com duas pranchas na bagagem. Ele queria apresentar às crianças nigerianas um esporte quase totalmente desconhecido por lá.
A lâmpada acendeu na cabeça de Jojó quando caiu em suas mãos um vídeo do YouTube mostrando um “costume” do país. Em algumas comunidades, crianças são abandonadas pelas famílias, acusadas de bruxaria por pastores das igrejas locais – na Nigéria, o vodu é religião com milhões de seguidores. Na visão dos “nobres religiosos”, quando as coisas começam a dar errado demais em determinada casa, a culpa é sempre de uma criança enfeitiçada. Impressionado com o que viu, Jojó resolveu ir à África fazer um trabalho humanitário. Pesquisou na internet para saber se encontraria ondas quebrando na Nigéria. Encontrou.
Roupa de domingo
Jojó estranhou a atitude das crianças quando as convidou para ir à praia. Seria o primeiro dia de aulas de surf, no mar do Estado nigeriano de Akwa Ibom. Apesar do forte calor, praticamente todas vestiram o que tinham de melhor, calça e camisa de botão. “O pessoal lá não tem a menor cultura de praia. Ninguém a usa como um espaço de lazer, convívio e entretenimento como fazemos aqui”, lembra. “Também não existe nenhum hábito de esportes aquáticos. Eles têm um respeito muito grande pelo mar.” Das 210 crianças e adolescentes atendidas pela ONG em que Jojó realizou o trabalho na Nigéria, apenas uma estava ali porque a mãe não teve condições de sustentá-la. Todas as outras haviam sido expulsas de casa acusadas de bruxaria.
“A praia em que ficamos facilitou a aula. Era rasa, com uma onda bem soft, ideal para quem está iniciando. Eu segurava a prancha com eles já de pé e os empurrava na onda. Muitos conseguiram surfar até a areia”, orgulha-se Jojó. Prática como professor ele tem. Mantém no Guarujá (SP) o Projeto Ondas, que educa jovens através do surf. Conhecido pelo espírito calmo e pelo sorriso cativante desde os tempos de competidor, Jojó tirou de letra a missão de convencer a molecada nigeriana a se jogar na água em cima de pranchas que eles nunca tinham visto. A passagem pela África foi rápida, 20 dias em janeiro deste ano, mas os planos são de voltar já nos próximos meses – desta vez com mais estrutura. “Não deixamos as pranchas lá porque achamos perigoso, já que nenhuma das crianças sabia nadar. Mas a ideia é voltar com mais pranchas, continuar o trabalho, treinar alguém por lá para ensinar as crianças... e, assim, instalar uma cultura de surf no país.”