Que fim teve o carro coadjuvante em um dos episódios mais tensos da ditadura militar?
Que fim teve o icônico modelo americano que virou coadjuvante em um dos episódios mais tensos da ditadura militar?
Quando o reluzente Cadillac preto dobrou a esquina da rua Marques, no bairro de Humaitá, Rio de Janeiro, a arapuca já estava armada. Atravessado no meio da via, um Fusca bloqueava a passagem ao mesmo tempo em que outro encostava por trás, impedindo que a limusine escapasse. Somaram-se à ação outros quatro homens vindos a pé, todos armados com revólveres calibre 38. Eram 14h30 do dia 4 de setembro de 1969, quando o Cadillac que levava o embaixador americano Charles Burke Elbrick foi interceptado, no sequestro que se tornaria um dos episódios mais importantes da história política do Brasil.
Com Elbrick e o motorista rendidos, o Cadillac seguiu até uma rua de menos movimento, onde todos foram transferidos para a Kombi que os levaria ao cativeiro. Quase todos, na verdade: o motorista foi deixado no carrão, junto com o manifesto que pedia, em troca da vida do embaixador, a libertação de 15 presos políticos.
A história é mais do que sabida. Entre os 12 participantes do sequestro estão figuras como o ex-deputado Fernando Gabeira (que narra a história no livro depois transformado no filme O que é isso, companheiro?, de Bruno Barreto) e o jornalista Franklin Martins, que viraria ministro da Comunicação no governo Lula. Os militares brasileiros renderam-se às exigências dos guerrilheiros e um avião levou os estudantes soltos até o México, de onde alguns seguiram para Cuba (caso do ex-ministro José Dirceu). O embaixador ficaria no cativeiro até domingo, quando foi liberado na saída de um jogo de futebol. Mas e o carro, que fim levou?
Uma das marcas de maior prestígio do grupo GM (embora tenha sido fundada pelo rival Henry Ford), a Cadillac especializou-se em criar versões exclusivas para chefes de Estado. É o caso do modelo Fleetwood Limusine Série 75, que acabou coadjuvante no episódio do sequestro. Fabricado em 1967 para a embaixada americana no Brasil (conforme comprova o velocímetro graduado em quilômetros, e não em milhas por hora), o automóvel integra hoje uma coleção particular no interior paulista, propriedade do presidente de uma montadora. Curiosamente, não é ele que aparece no filme de Bruno Barreto de 1997: em seu lugar, usaram uma versão mais antiga e menos luxuosa, do início dos anos 60.